O VESTIDO BRANCO, macio, roça contra minhas pernas, sua suavidade em contraste cruel com o tormento dessa cerimônia interminável. Aqui estou, casada com um homem que preferia manter à distância. Quando fugi, imaginei escapar de Dag Torrance, mas, ironicamente, acabei presa em um casamento que nunca desejei.
Dag permanece ao meu lado, o rosto impassível, enquanto o juiz entoa as últimas palavras. Sinto o peso do seu olhar sobre mim, mas não ouso retribuir.
- Astrella Vaughn, você aceita Dag Torrance como seu legítimo esposo, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe?
A morte já está presente nesse casamento.
- Aceito.
A palavra sai como um sussurro frio, provocando um arrepio pela minha espinha. O juiz se volta para Dag, mas suas palavras se perdem no ar. Só consigo sentir o peso sufocante da decisão que acabei de tomar: uma prisão invisível.
Dag responde com firmeza: "Aceito." Sua voz soa com uma determinação inquietante. Ele acredita que esse pacto resolverá tudo, mas eu só vejo correntes se apertando ao meu redor.
Quando o juiz nos declara marido e mulher, um aplauso fraco ecoa pela capela. As poucas testemunhas oferecem palmas tímidas. Evito os olhares curiosos, sufocada pelo caos que cresce. Dag aperta a minha mão com força; seu toque é possessivo, quase como uma corrente. Não resisto. Não adiantaria.
Cada aplauso abafado reverbera, transformando o lugar sagrado numa cela claustrofóbica. Sair dali exige um esforço sobre-humano; cada passo é pesado, como se meus pés fossem de chumbo. Dag mantém uma mão firme no meu braço, guiando-me com uma força que parece mais controle do que carinho.
Lá fora, a noite é fria e o silêncio, opressivo como um ditador. As luzes da cidade piscam ao longe, distantes. Dag se aproxima, sua presença invade o meu espaço.
- Astrella, sei que isso não era o que você queria - ele começa, a voz baixa, tensa. - Mas era necessário... para nossa segurança.
Rio, um som áspero e incrédulo.
- Segurança? - cuspo as palavras, amarga. - Você me aprisionou, Dag. Contra minha vontade.
Ele segura meu rosto, forçando-me a olhá-lo nos olhos.
- Eu não tinha escolha. Eles estavam atrás de mim. Precisava garantir que não tentariam de novo, então os eliminei. Você só chegou na hora errada. Agora, aguente as consequências. Fiz por segurança.
Encaro-o, meus olhos queimando de raiva e mágoa.
- Segurança? Isso parece mais uma sentença. Sou sua prisioneira, Dag. Isso é vingança.
Ele suspira pesadamente, os dedos ainda cravados em meu rosto. Seus olhos, frios e calculistas, me analisam como se eu fosse apenas mais uma peça no seu tabuleiro.
Afasto-me do seu toque, cruzando os braços ao redor do corpo, como se pudesse me proteger do frio... e dele. Ele hesita, desviando o olhar por um instante.
- Você é insuportável.
A raiva em mim cresce, fervilhando sob a incredulidade.
- Você me arrastou para sua guerra, me prendeu em uma vida que nunca escolhi. Isso não é proteção, Dag. É egoísmo. O que esperava? Um beijo?
Ele dá um passo à frente, mas recuo, mantendo distância. Ele ergue as mãos, num gesto de rendição.
- Não preciso de uma dona de casa - sua voz agora está mais suave, quase persuasiva. - Só... me dê uma chance.
Balanço a cabeça, amargura corroendo as palavras antes que saiam.
- Vou te trair.
O silêncio que segue é denso, quase palpável. Não sou do tipo que ameaça em vão. Nunca fui de trair. Mas eu nunca quis isso. Se não o amo, se não escolhi esse destino... traição não parece ser um problema, certo?
Dag estreita os olhos, sua voz grave corta o ar como uma lâmina.
- Cansei de ouvir sua voz. Cale-se. Já aturei sua tagarelice quando namorávamos. Agora, não somos nada.
Suas palavras são como facadas. Deveria gritar, protestar, revidar, mas algo me impede. O homem diante de mim não é mais o Dag que conheci. Ele é um estranho. Meu carcereiro.
- Vai ser um inferno para você, Dag - murmuro, cada sílaba envenenada.
Ele dá um passo atrás, um sorriso torto e sombrio se formando em seus lábios.
- Inferno? - Ele ri, seco. - Já estamos nele, querida. E juntos, vamos descer ainda mais.
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. 𔘓 .𝐂𝐎𝐋𝐎𝐑𝐒 ❛ ˛ ❪ Dag Torrance❫
FanfictieASTRELLA. Quatro anos após ter meu coração destroçado, achei que finalmente estava começando a curar. O vício de Dag em drogas ainda deixava cicatrizes profundas, e eu nunca imaginei que o veria de novo. Mas o destino tem uma forma cruel de brincar...