III - Reborning

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[1⁰ PDV]

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Sempre fui um menino fraco. Sentia que não tinha forças para correr. Minha vida era parada, nada acontecia, um ciclo sem fim no qual me mantinha preso na cama, seja em casa ou no hospital.

Com doze anos, fui diagnosticado com um câncer, era simples, nada perigoso naquele momento. O tratamento iniciou-se e em poucos meses teve êxito. Achava que estava bem, o próprio médico tinha garantido isso para mim. Contudo, havia vencido apenas a primeira batalha, e não a guerra.

Cerca de um ano depois que fui "curado" do câncer, ele voltou, dessa vez estava se ampliando para outras partes do meu corpo, causando danos por onde se alojava. O médico disse na época que era extremamente raro aquele tumor ter surgido no meu corpo, porque não haviam casos passados na minha família dessa doença, porém, ela surgiu e se alastrou, acabando com a minha imunidade e com as minhas forças. Me sentia cada vez mais cansado, fraco, sem energia para fazer atividades básicas.

Nesse tempo, meu único hobby era ler e assistir TV. Me sentia outra pessoa enquanto lia um livro, como se fosse transportado para outro mundo e realmente vivesse na pele dos personagens do conto. Eu fui Harry Potter andando por Hogwarts com a capa da invisibilidade, Dumbledore dando pontos e mais pontos para a Grifinória, Gandalf viajando pela Terra Média, Sauron forjando o Um Anel, Aegon I conquistando os sete reinos e toda Westeros.

Todavia, nem tudo eram sonhos. Viver como os personagens das histórias era apenas uma sensação momentânea, pois quem eu era de fato estava ali, entre a cama do meu quarto e a do hospital.

Mesmo com todo o tempo dedicado ao tratamento, o médico me avisou a sós que provavelmente meu câncer não poderia ser curado com os métodos atuais. Ele disse que havia feito de tudo, e que não sabia responder como minha doença continua a crescer, mesmo que de forma lenta, com o tratamento acontecendo.

Então, poucos meses depois que tinha completado quinze anos, em uma das várias internações que passei, o médico veio ao meu quarto avisar que infelizmente eu só teria mais seis meses de vida. Não me surpreendi. Já esperava algo do tipo. Depois de lutar por mais de três anos contra o câncer, percebi que essa situação só me cansava, e uma hora ou outra eu não suportaria mais. Sentia cada vez menos energia e vontade de levantar para olhar o sol.

Com o passar das semanas, minhas capacidades foram sendo perdidas, precisei me alimentar por sonda, não conseguia mais fazer minhas próprias necessidades. Todos percebiam que minha hora estava chegando, mas mesmo assim o único que era sincero comigo era o médico. Ele passava laudos e explicava a minha situação. Minha família fingia não acreditar, falavam pouco comigo e evitavam dizer sobre o meu estado. Isso só me entristecia cada vez mais. Dia após dia estava mais perto de morrer, e a única coisa que eu desejava era amor, ter alguém comigo, ali, para me dar um abraço. Nunca tive um amor, nunca recebi um carinho de afeto em todos esses anos que praticamente vivi internado. Nos últimos tempos, isso foi o que eu sempre quis. Acordar e ver alguém do meu lado, sorrindo pra mim.

Infelizmente, meus desejos não se tornaram realidade. Minha família vinha me visitar durante alguns dias da semana, me perguntavam se estava bem, melhorando e se sentia dor. Dava algumas palavras vagas do meu estado e logo eles saiam do quarto. Foi assim durante vários encontros.

Por uma última vez, o médico veio ao quarto. Falou brevemente comigo, assim como todas as outras vezes, mas afirmou que aquela era provavelmente sua última visita. Passou o laudo para mim, dizendo que minha situação era grave e irreversível. Além disso, me deu duas semanas de vida. Então, ele me perguntou se eu tinha algum arrependimento. Disse que não, mas era mentira. Afinal, quem não tem arrependimentos? Desde nunca ter tido uma namorada até amigos de verdade. Agora que parei pra pensar, eu sou virgem. Porra, morrer virgem não dá, pelo raio que o parta. Por último, ele se desculpou novamente por não ter conseguido me curar. Respondi que entendia o meu estado e como era difícil encontrar uma cura, mas mesmo assim o médico pediu perdão por todos esses anos que passei na cama do hospital. Me questionou se havia alguma última coisa que ele poderia fazer por mim, algum presente, nem que fosse um último prato, como os condenados no corredor da morte pedem.

House of the Dragon: The Dragon Ascension - RebornOnde histórias criam vida. Descubra agora