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Após um tempo pensando e chorando, ouço passos na escada e vejo Robby descer chorando. Eu logo me levantei do sofá, indo em direção a ele e o abracei com força, o pegando no colo, sem me importar com os pontos.

Após alguns minutos eu o coloquei de volta no chão e fomos nos sentar no sofá.

- Onde ela está? - perguntei

- Se trancou em um dos quartos... - falou chorando

Eu vou ser forte, por mim e por Robby... é uma promessa.

O garotinho ficou abraçado comigo e passou horas chorando, até que ele dormiu. Só assim eu me permiti chorar à vontade. Enquanto chorava, fui no andar de cima, me aproximando da porta de cada quarto.

Quando cheguei no último quarto, que aproximei meu ouvido da porta, ouvi os grunhidos baixos. Meu coração apertou e a vontade de chorar só aumentava. Eu tinha vontade de chorar, gritar, bater... mas eu não podia.

Sai dali, indo para o quarto de Robby. Peguei duas mochilas, colocando roupas, lençóis e produtos de higiene em uma delas e materiais escolares, cadernos de desenhos, canetinhas e lápis de colorir em outra. Logo desci, arrumando minha bolsa, que estava um pouco baguncada.

Ao olhar para o lado da porta, percebi que a bolsa com os suprimentos estava ao lado da porta. Lá tinham poucas latas de comida e algumas garrafas de água. Peguei tudo e coloquei na minha bolsa, pois não queria levar tantas bolsas assim quando fossemos embora.

Eu sabia que não iria conseguir dormir, então fui até o banheiro com a intenção de tomar um banho.

Me despi ao entrar no banheiro, vendo minha silhueta no espelho da pia. Minhas olheiras estão fundas, minha expressão está cansada, meu corpo está... estranho. Me olhar daquela forma no espelho, me fez rever as cicatrizes que a muito tempo eu não fazia questão de ver.

"Se fui forte uma vez eu posso ser denovo..."

Eu realmente estou disposta a fazer tudo o que for preciso pelo Robby, pela Hanna. Esse garoto é minha responsabilidade e, assim como prometi a tia dele, eu vou educá-lo e torná-lo uma pessoa de valor.

Tomei meu banho, passando mais um bom tempo no banheiro, e em seguida vesti a mesma roupa que estava antes, para não sujar outra.

Assim que saí, refiz o curativo, vendo que já estava quase na hora de tirar os pontos. Vesti a roupa que estava antes e me sentei no sofá, ao ladl de Robby, colocando a cabeça dele na minha coxa.

[...]

O dia amanheceu e eu sequer consegui dormir, eu estou péssima. Antes que Robby acordasse, tomei banho, fiz um curativo bem reforçado para poder vestir uma calça, vesti minha calça, uma blusa branca, coloquei um cinto e meus coturnos nos pés. Logo prendi o cabelo em um rabo de cavalo, tomei um remédio anti-inflamatório e outro para amenizar a dor, que já era quase imperceptível. E já aproveitei para colocar o kit médico na minha mochila.

Fui para a cozinha e fiz um café da manhã caprichado para Robby, ele iria precisar. E logo voltei para a sala, colocando o prato com um sanduíche e um copo com café em cima da mesa de centro.

- Robby - chamei o sacudindo levemente - Acorde pequeno...

- Hm.. - ele resmungou, abrindo os olhos lentamente.

- Vá tomar um banho caprichado e escovar os dentes, sua roupa já está no banheiro - falei após ele ter acordado completamente.

- Tá bem, Jay... - falou

O garoto foi para o banheiro e depois de um tempo ele saiu de lá. Ele estava com os cabelos molhados e bem penteados, vestia uma calça jeans, um tênis preto e uma blusa branca com uma faixa verde.

- Seu café está aqui... - ele logo se sentou e começou a comer - como dormiu?

- Bem... apenas alguns pesadelos - falou cabisbaixo

O silêncio reinou no ambiente, enquanto o garoto comia olhando apenas para seu prato. Logo percebi os olhos marejados e a expressão de choro que estava no rosto do mesmo e as lágrimas começaram a escorrer de forma silenciosa.

- Robby... - falei me aproximando

Ele chorou ainda mais e me abraçou com força.

- Me desculpe, eu poderia ter evitado... - falei com os olhos marejados, mas me neguei a chorar.

- Não foi culpa sua, Jay. Eu sei disso... - apesar de pequeno, ele era muito sensato com as coisas

- Eu prometo que vou cuidar de você, tá bem? Não vou deixar nada e nem ninguém te fazer mal - falei olhando em seus olhinhos verdes

Ele apenas assentiu e me abraçou novamente. Quando ele parou de chorar, o mesmo voltou a comer. Logo eu lembrei que não havia comido e fui até a cozinha, comendo apenas uma fatia velha de pão.

Logo após peguei meu mapa, tentando ver qual caminho seria mais seguro para chegarmos até onde estavam meus irmãos. A casa ficou em silêncio, eu olhando o mapa em um dos sofás e Rob no outro comendo.

Meus planos eram ir embora hoje, mas não vou fazer isso. Quero respeitar o luto de Robby, não quero colocá-lo para ficar preocupado ou algo do tipo agora. Vou esperar.

[...]

Dois dias se passaram. Robby já estava melhor, eu consegui vários suprimentos e algumas munições, mas agora o zumbi de Hanna estava fazendo mais barulho que o normal. Devia estar ficando com fome trancado naquele quarto.

Nesses dois dias, eu e Robby nos aproximamos muito, muito mesmo. Agora somos melhores amigos, quase como familiares. Ele me contou muita coisa e eu também contei muita coisa para ele. Agora, confiamos um no outro para tudo.

Nesse momento, nós estamos nos preparando para sair daqui. É de manhã bem cedo, Robby já está pronto e eu também.

- Jay... acha que vamos conseguir? - Robby me pergunta

- Claro, pequeno. Eu tenho certeza que vai dar tudo certo e vamos ficar bem... - falei tentando passar segurança ao garoto

Era até notável que o pequeno estava inseguro, parecia ter medo, medo que não conseguíssemos, mas eu tenho certeza que vai dar tudo certo. Algo me faz pensar que estou perto de encontrar as pessoas que eu amo. Meus irmãos.

[...]

Eu e Robby estávamos andando pelas ruas de Atlanta. A maioria das coisas estavam destruídas, havia um grande cheiro de podre nas ruas e, até então, eu não havia encontrado nenhum zumbi. Talvez a comida esteja acabando para eles por aqui, devem estar se mudando.

Robby estava quieto, apenas olhava as coisas ao redor. Parecia aflito e preocupado.

- Robby - o chamei - vai ficar tudo bem, eu prometo...

- Eu confio em você, Jay. Mas... é estranho, parece que eu não consigo ficar calmo. Ver tudo isso ao nosso redor me deixa aflito - esse garoto parece tão maduro para a idade dele

- Eu te entendo, pequeno. Eu também me sentia assim, sabia? Mas chega um momento que você esquece o medo, a aflição... e é normal, eu acho. - falei me atrapalhando com minhas próprias palavras, não sou boa nisso.

Voltamos a ficar em silêncio, mas era um silêncio confortável. Estava tudo normal até eu sentir um toque meio frio em minha mão, era Robby. O pequeno agarrou minha mão com força e começamos a andar assim, de mãos dadas.

Nesse momento eu acho que percebi o quanto esse garoto é especial pra mim agora, percebi realmente a responsabilidade que eu vou ter daqui pra frente. Vai ser como se eu fosse mãe dele, mas eu espero não ser como minha mãe foi pra mim...

[...]

DESTINADOS - Shane Walsh Onde histórias criam vida. Descubra agora