Capítulo 4

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Esse livro é um pequeno quebra-cabeças, onde aos poucos vocês vão entender por que os personagens tomam as decisões que aparecem aqui.

Digo isso porque... enfim, só lendo até o final pra entender.

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- PAPAAAAAI veja a flôzinha!

Heitor Pacheco de Almeida convivia com a filha há uma semana e parecia conhecê-la desde o nascimento.

Não apenas isso, parecia até que a menina era dividida em três, de tão incansável e pouco afeita em focar em uma coisa só.

- Eu gosto de .

O negociante sentou-se em cima da grama, sem se importar se sujaria a roupa cara.

- Você gosta de ler, pequena? O que prefere?

- "Patinho Feio"! "A Bela Adormecida"! "Cinderela"! – ela olhou para um ponto distante, aparentemente a praia, os barcos à distância, e deixou de lado o que estava discutindo no momento para pedir: - Papai, quero um cachorro!

O quarto de Benedita parecia uma representação única da mente da garotinha. As bonecas de porcelana da cara coleção, obtida na melhor loja de Salvador, algumas delas importadas da França pelo próprio Heitor, se encontravam espalhadas pelo chão, algumas delas com as roupas cobrindo o rosto. Uma casinha de bonecas enorme, blocos com números e letras, uma reprodução de um fogão que parecia real, e carrinhos com rodas de madeira coloridas, além de um par de raquetes e várias bolas de tênis.

Tudo aquilo que o dinheiro poderia comprar.

Benedita seria mimada, compensada pelos anos de ausência, e Heitor não se furtaria em gastar.

- Eu desenho muitas coisas bonitas! – naquele dia, ela novamente deixou a bola de lado para ficar com o brinquedo preferido: um caderno de desenhos, a única coisa que fazia Benedita se acalmar.

Aquilo chamou a atenção de Heitor, que observou calmamente os traços infantis feitos pela menina – blocos empilhados, algo que parecia uma árvore, curvas feitas com um lápis na cor azul, que lhe pareciam as ondas do mar.

- São lindos, filha. Você sabe desenhar muito bem.

A pequena sorriu, os olhinhos fechados e o riso aberto. Como ela nasceu de alguém como ele, que tinha tanto guardado e não sabia como verbalizar?

- Obrigada! O senhor desenha coisas bonitas? Mamãe num sabe... Mas ela compra lápis e meu caderninho!

- Sim, Benedita, e fico feliz por sua mãe comprar o que é necessário para você desenhar suas coisas bonitas. Minha avó era uma pintora muito talentosa e aprendi um pouquinho com ela, então eu acredito que sei desenhar coisas quase tão bonitas quanto as suas.

Augusto de Oliveira foi o primeiro a visitar a casa dos Pacheco de Almeida em Itaparica. Convidado por Heitor para o reencontro com Laura, o advogado parecia um tanto temeroso. Ele sabia que a jovem não havia reaparecido de livre e espontânea vontade, e optou por ficar mais tempo na casa, como hóspede, a fim de saber como estava a relação do casal, e se havia alguma esperança de que aquele casamento seguisse de uma forma positiva.

Por um lado, Augusto conhecia o amigo muito bem, a tal ponto de saber que ele faria de tudo, insistiria até não poder mais, para obter o que tanto desejava: a esposa, o casamento perfeito. Mas, do que ele conhecia de Laura, e da decisão dela em ir embora, Augusto tinha consciência de que ela não seria tão simpática como há cinco anos.

E ele havia notado isso, a forma como a jovem observava a maneira que Benedita e Heitor conversavam e brincavam no jardim da casa. Havia uma preocupação, demonstrada pelos dedos cruzados, as mãos juntas da jovem, a respiração meio controlada, de quem temia que o pior fosse acontecer.

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