Babado, confusão e gritaria. Vintage. Discreto.
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Everaldo Bulcão era um homem que fazia muitas pessoas girarem o corpo ou virarem a cabeça para o lado, pois ele era bastante elegante e de presença imponente.
Ele tinha a mesma altura de Heitor, os dois possuíam o mesmo porte, até mesmo caminhavam com a elegância descuidada dos ricos de berço, que não precisavam se preocupar com o dia seguinte. Só não poderiam ser considerados parentes por uma ou outra diferença física - os cabelos mais anelados e castanho-claros, além dos lábios cheios virados naturalmente para baixo, como se ele tivesse uma eterna expressão melancólica – mas em outra situação, caso suas vidas não tivessem terríveis coincidências do passado, até poderiam ser amigos.
No entanto, Everaldo não parecia disposto a fazer amigos; e sim, esperava a resposta de Heitor Pacheco de Almeida que, como anfitrião, não podia recusar para não criar uma cena.
– Não ficaremos aqui no meio do salão fazendo uma cena...
– Eu deveria fazer uma cena, Bulcão, porque não o havia convidado para esta recepção.
– Somos conhecidos de anos, não preciso exatamente de um convite formal.
– Nossa proximidade não é exatamente por simpatia.
– Senhores, creio ser melhor deixar a conversa para um outro momento. - coube a Laura resolver a situação, e aceitar a mão estendida de Everaldo, para a surpresa do próprio recém-chegado, que não esperava a resposta rápida da jovem.
Heitor, por sua vez, deu alguns passos para trás, colocou as duas mãos nos bolsos, e logo foi interpelado por Augusto, que já conhecia a tensão entre os dois homens do passado:
– Você quase entraria em conflito com Everaldo Bulcão, em uma festa onde você é o anfitrião e a reputação de sua família está em jogo. Esqueceste de que para todos os efeitos, você e Laura sempre estiveram juntos e nunca houve um afastamento de cinco anos?
– Eu não queria esse biltre em minha casa, sabendo sobre minha esposa e minha filha.
– Você não queria a presença de Everaldo porque ele pode ser uma ameaça a Laura da mesma forma como ele teve um relacionamento com Clarice?
O tom de Heitor passou a ser não de ódio, mas Augusto entendeu um certo desdenho.
– Everaldo sempre quis disputar tudo comigo, sem sucesso.
– Ele ganhou Clarice.
– E foram felizes. Quando eles se relacionaram, as outras traições se findaram.
– Deixará então que Laura...
– Laura é minha. E muito mais inteligente e sagaz que Clarice.
À distância, a banda tocava uma música mais lenta, mais romântica, e os passos de Everaldo seguiam esse clima mais lento, mais ponderado. Ele não conhecia a nova esposa de Heitor, e ela lhe parecia diferente de Clarice, tanto na aparência, quanto na forma de agir. Clarice era uma mulher que parecia simples de ler e conhecer, era atraente e chamava atenção mesmo numa conversa simples, e gostava de chamar a atenção. Laura era visivelmente mais reservada, receosa, analítica. A ele, parecia uma enigma, de difícil compreensão.
– Há quanto tempo conhece meu marido?
– Mais de 15 anos... Na verdade, uns dezesseis. Nos cruzávamos nas festas da sociedade em Salvador, sempre em nossos grupos, dialogando e muitas vezes rivalizando.
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Retrato de Mulher
RomanceRegistrado no SafeCreative: 2406068184252 Heitor Pacheco de Almeida é um homem rico e amargurado, que trocou a vida em Salvador pelo ar bucólico da ilha de Itaparica, em 1935. No passado, obcecado pela imagem da primeira esposa, Clarice, não abriu o...