estrofe 17

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        Depois de toda conversa com Jisung e Changbin sobre o que eles fariam em relação aos sentimentos que compartilhavam, Christopher avisou que precisaria subir um pouco para tomar banho e se trocar. Embora ainda estivesse com a cabeça um pouco longe, não se sentia tão embriagado. Algumas latinhas de cerveja não o derrubariam, provavelmente só o deixaria com dor de cabeça por algumas horas. Ele foi até o segundo andar, e pescou o celular no bolso da bermuda, retornando uma das ligações que logo de cara reconheceu como de algum familiar seu.

Ele não tinha o número de muitos parentes, talvez de uma tia ou outra, mas ligações não eram comuns naquela relação meio estranha e desconfortável que mantinham. Podia contar nos dedos todas as vezes que alguém da sua família ligou para ele, e talvez não passasse de cinco vezes, mas sempre traziam notícias ruins. Christopher sentou na cama com o estômago doendo, e tentou retornar a ligação mais de uma vez, sempre caindo na caixa postal. Na última tentativa, já sem um pingo de paciência, alguém atendeu. A linha ficou silenciosa, Christopher não queria falar, o gosto amargo na boca cresceu como um tsunami no horizonte. E então finalmente a voz de um rapaz surgiu, e Chris sentiu algo se remexer entre as entranhas. Ele quis desligar.

— Oi, Christopher. — A voz de Benjamim trouxe de volta um pânico adormecido no corpo de Christopher. Ele não conseguia nem pensar direito. — Já tá sabendo do enterro da vovó amanhã?

— Sei. — Respondeu automático, a voz apática e a mente barulhenta. — Ameya conversou comigo sobre, já que nem isso vocês são capazes de me dizer.

— Se você fosse da família de verdade e estivesse aqui enquanto ela estava morrendo, saberia de tudo. — Christopher mordeu a parte interna da bochecha com raiva. Quis xingá-lo, mas o que ganharia com isso? Benjamin era o pior entre eles. Foi ele quem o fez ter ainda mais receio de participar das reuniões familiares quando criança, foi ele quem o afastou das outras crianças da família, foi ele e sempre será ele. Chris não conseguia respirar direito.

— Você sabe que fiz de tudo pela minha avó.

— Mas nem esteve aqui quando ela precisou. Preferiu ir pagar de estrelinha em outro país. Mas tudo bem, Christopher, já estamos acostumados com você sempre fugindo da gente.

— Eu não fugiria se não fosse vocês me tratando desse jeito.

— Não seja dramático. — Disse com desdém. — Você sempre quer ser o coitadinho da família, o pobre coitado que não conseguia vir falar com a gente e agir como alguém normal. Você sempre foi esquisito e quer nos culpar por ser desse jeito. — Uma veia no pescoço de Christopher saltou e ele apertou a mandíbula para continuar calmo. Benjamin sempre fazia isso, usava das inseguras de outras pessoas para atingi-las. Christopher não cairia nessa, ele não podia ser tão fraco. Ele não era mais criança. — Você afasta todo mundo da sua vida e depois vem com esse discurso vitimista de “Ninguém gosta de mim nesse lugar.” Você deveria começar a pensar que talvez o problema seja você, e não as pessoas ao seu redor.

— Me ligou só para isso? Me falar o que já sei?

— Não, na verdade, liguei pra te confirmar o horário da cerimônia amanhã. — Ele mudou de assunto casualmente, sem demonstrar arrependimento pelas coisas que disse. Christopher sabia que sempre seria desse jeito, a maioria da sua família era assim. Diziam coisas horríveis umas para as outras, e seguiam em frente. Sentimentos não era algo fácil para os Bang. — Vai ser às três da tarde, aqui mesmo na casa da vovó, vamos fazer uma cerimônia com a família. Pensamos em plantar uma árvore de cedro no quintal usando as cinzas, porque era uma das árvores favoritas da vovó. Bom, já está decidido isso na verdade. Espero que você não fuja disso também, a vovó falou que queria te ver antes de falecer.

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