estrofe 13

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      Jisung viu Christopher fechando a porta e saindo com a moça de cabelo vermelho. Ele não a conhecia bem, sabia que era assessora de Christopher e nada mais. Talvez devesse ter sido mais educado com ela, apesar de falar bem inglês pelo curso que a empresa o ofereceu quando ele ainda era um trainee, tinha medo de errar ou do seu sotaque ser feio. Precisava treinar um pouco sua autoconfiança em relação a falar outros idiomas, queria ser um artista global e acessível, aquele em que pudesse compreender seus fãs e ser compreendido.

Notou quando Changbin cansou de ficar de pé, aguardando pela recepção de Christopher. O rapper deixou a mala perto das escadas e sentou no sofá somente com a mochila, praticamente deitando-se em cima do estofado branco com a roupa suja do voo. Jisung arregalou os olhos, indo ligeiro até Changbin, tentando impedir o rapaz de sentar e sujar a casa extremamente brilhante do produtor.

— O que foi? — Changbin indagou confuso vendo o menino com os olhos esbugalhados e uma expressão apreensiva.

— Levanta, hyung. Não estamos na nossa casa.

— Que bobagem, Han.

— Não é! — Pegou ele pelo braço, tentando puxar, mas Changbin não moveu um músculo do lugar, firme no estofado macio com almofadas cinzas bonitas. — O que o Chan hyung vai pensar da gente com você todo largado assim na casa dele? Ele vai achar que somos mal educados.

— Não sei você, mas eu não me importo nem um pouco com o que ele acha de mim. Nem um tico. Nadica. Nada, nada.

— Hyung, por favor. — Choramingou, puxando com toda força que tinha. — Você pode agir desse jeito depois que ele falar com a gente, isso é muito mal educado.

Changbin revirou os olhos, ainda sentado. Não iria levantar nem se o próprio Christopher viesse mandá-lo sair, estava exausto, com dor nas pernas e nas costas por ficar carregando a mochila pesada para cima e para baixo. E se o dono da casa preferia ficar de conversinha com Ameya, ele esperaria sentado. Não tinha nada o impedindo, claro, além de Jisung e todo seu moralismo. Ele continuou o puxando, pedindo para que ele levantasse antes que Christopher voltasse, mas Changbin não queria. Por Deus, ele não teve um minuto de descanso desde que desembarcou neste país, nada mais justo do que curtir um pouco aquele sofá grande e macio.

— Hyung. — Jisung deu alguns pulinhos, as mãos firme no pulso de Changbin. Mas ele não queria vir, de jeito nenhum. Parecia que o homem tinha sido colado no sofá com uma super cola. — Por favor.

— Deixa de ser careta, menino. Ele tá lá fora faz uns dez minutos, não vai se importar que eu me sentei pra esperar. Se você quer ficar dando uma de estante, vá em frente. Eu não vou me levantar.

— Hyung!

Changbin cansou. Ele sempre teve a paciência curta. Num solavanco, puxou Jisung no intuito de fazê-lo se sentar também e ver que não era o fim do mundo. Mas como imaginado, não deu certo. Óbvio que não daria. As posições não eram compatíveis para que aquele movimento brusco fosse efetuado com perfeição, Changbin puxou o braço e Jisung veio, mas caiu por cima dele. Gravidade e seus problemas. Por sorte, o Han conseguiu apoiar as duas mãos acima da cabeça de Changbin, no encosto superior. Ele encarou a feição assustada do rapper, a boca meia aberta e os olhos esbugalhados. Lindo, Jisung pensou, e quase disse em voz alta, mas conseguiu manter para si mesmo — pela primeira vez, diga-se de passagem.

Um frio tremendo tomou conta do estômago de Changbin, ele viu Jisung praticamente em cima dele e parecia que o mundo não fazia sentido ao redor. Tudo derreteu de repente, as paredes, os quadros, tudo. Nada fazia sentido. Nem seus batimentos cardíacos loucos e nem sua respiração ofegante. Sentiu a garganta seca, como se tivesse engolido um pedaço do deserto do Saara. Talvez suas orelhas estivessem vermelhas agora, ou todo seu rosto, não sabia mais de nada, nem seu nome, nem quem era. Aquilo era normal? Quis beijá-lo porque ele parecia muito atraente de cima, com o cabelo caindo pelas laterais do rosto, a boca entreaberta e os olhos trêmulos pelo susto. Não podia vê-lo assim, não desse jeito.

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