Tung

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Com olhos inchados, Khaotung observava First correr até ele com ansiedade.

Seu olhar vazio reluzia vendo-o chamar seu nome enquanto o portão era aberto. O rosto foi rapidamente de encontro ao peitoral do mais alto que o envolveu em um surpreendente abraço apertado.

Suspiros soavam de sua própria garganta, fazendo-o aconchegar-se cada vez mais nos braços que enlaçavam seu corpo.

- Khao - First sussurrou deixando a mão acariciar os fios sedosos e claros daquele que estava em seus braços em um absoluto silêncio sentindo a calmaria dominar seu peito.

Os pequenos braços soltaram as malas que antes seguravam para envolver a fina cintura de First, desejando ficar o mais próximo possível. Seus dedos firmavam-se entre o tecido surrado da camiseta velha do mais alto, impedindo-o involuntariamente de escapar de si.

A ideia de não tê-lo tornou-se assustadoramente desesperadora.

Ele tinha a bizarra sensação de que se First fosse, não sobraria nada. Talvez nem mesmo sua própria vida.

Era estranho para os dois estarem naquela posição. Parecia uma grande intimidade para "recém conhecidos", mas realmente não importava. Khaotung queria estar nos braços de First tanto quanto First queria-o em seus braços.

Ali First tinha certeza de que Khaotung não se machucaria. E talvez mantê-lo sempre em seus braços fosse a coisa certa a se fazer.

- Vamos entrar? - First questionou afastando-se pouco para que pudesse observar o menor que continuava agarrado em seu corpo - Você está gelado, tá frio aqui, vai acabar ficando doente - sussurrou calmamente alcançando as malas com uma de suas mãos ainda tendo o rapaz próximo à si - Você pode ficar aqui comigo, se quiser - ofertou em um breve sorriso, vendo os pequenos olhos o encararem surpresos.

- Eu posso.. você não se importa de eu ficar? - Khaotung questionou se afastando com infelicidade, vendo um sorriso abrir sobre o rosto de First.

- Entra, vem - ele falou, puxando o menor delicadamente para dentro do portão.

Caminharam silenciosamente até o interior da casa, First, apesar de ter as mãos ocupadas, esforçava-se para manter-se o mais próximo possível.

Queria que ele soubesse que não ficaria mais só.

Trocaram alguns olhares enquanto as malas eram colocadas sobre o chão da sala, Khaotung abraçava os próprios braços demonstrando o nítido medo que sentia em incomodar First.

Era uma má ideia ficar, ele sabia, First já tinha problemas suficientes, não queria se tornar mais um. Mas ao mesmo tempo, ficar só não parecia confortável. Na verdade, apenas a ideia era aterrorizante.

Se sentir solitário estando sozinho poderia fazê-lo perder a cabeça.

- Me desculpa vir direto pra cá - suspirou levantando o olhar antes caído - Não queria te incomodar, mas.. acho que já incomodei - riu, sem graça, ainda abraçado em seus próprios braços arrepiados do vento frio que vinha do mar.

First sorriu, solícito, deixando os olhos atenciosos vagarem delicadamente dentre a expressão cansada de Khaotung.

"Por que ele está se desculpando?" Ele se questionava enquanto o silêncio confortável pairava sobre a sala.

Parecia triste Khaotung desculpar-se por sua própria presença, como se fosse um incômodo tê-lo por perto. Mas, para First, naquele momento, era o completo contrário.

Queria que ele permanecesse.

Queria estar próximo para garantir que não correriam mais lágrimas tristes daqueles pequenos olhos brilhantes e inchados.

Can I be your father too?Onde histórias criam vida. Descubra agora