13: "te vejo amanhã."

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Ao fim da formatura, desviei o caminho que era para ser o da minha casa e fui para o hospital.

A recepcionista já me conhece bem, assim como as enfermeiras que viraram grandes amigas para mim, portanto, o processo de visita se tornou simples, mesmo Jaden estando na Unidade de Terapia Intensiva e não num leito qualquer.

O silêncio é bastante calmo, até um pouco assustador. Hospital me traz memórias ruins e toda vez que piso aqui, um pico de tristeza toma conta de mim, mas tenho me mantido forte para não fazer disso um empecilho.

Abro devagar a porta da UTI, como o caso do Jaden foi o mais grave dentro desses dois meses, ele foi isolado dos outros pacientes e ocupou um quarto sozinho.

Fecho a porta e caminho para o lado dele, o único efeito sonoro sendo dos meus sapatos contra o chão e dos aparelhos que mede a pressão dele a cada dez minutos, outro que acompanha os batimentos cardíacos, fora o soro injetado na veia e mais um monte de fios ligados ao corpo dele que sequer entendo suas funcionalidades.

Puxo a poltrona cinza que já virou minha aliada e me sento ao lado dele, tomando sua mão esbranquiçada. Suspiro, o encarando por um tempo.

— Eu não acredito que elas ainda não trocaram a água. – Penso alto, olhando para o jarro de flores que está com a água que troquei da última vez, água essa que agora está suja. Me levanto e vou para a beira da pia, fazer o que as enfermeiras deviam ter feito mais cedo.

Também abro o armário onde tem pertences do Jaden, pego o lenço umedecido e passo em seu rosto, nos lábios principalmente, sua pele nunca esteve tão seca e os lábios nunca mais esbranquiçados. Descarto no lixo aquilo que foi usado, deixando no lugar que achei e volto para o lado dele.

— Como está se sentindo hoje? Bem? – Olho para o maquinário, os batimentos em 86, o que é bom. — Tenho uma novidade pra te contar. – Seguro a risada e não consigo mantê-la dentro de mim. — O Javon mandou a Coco pastar há duas semanas atrás, eu achei até que durou muito. Ele não contou porque terminou com ela, meu palpite é que se cansou e não tem mais cabeça pra lidar com as futilidades dela. Quero dizer, não que seu irmão seja santo, longe disso, mas acho que dessa vez o problema não foi ele. – Digo, enquanto acaricio os cabelos dele, de pé. — Será que você consegue me ouvir? – Encaro o rosto de Jaden com atenção, nada se move além do peito devido a respiração.

Passo a mão no rosto e me sento de novo.

— Você sequer ainda está aí? Se ao menos pudesse me dar um sinal... – Tomo a mão dele, aproximando da minha bochecha, sentindo o toque que tanto sinto falta. — Deus, o que eu tenho que fazer pra provar que mereço tê-lo de volta? O que mais tenho que oferecer em troca da saúde do Jaden? – Fecho os olhos, encostando a mão dele em minha testa. Fico presa em meus próprios pensamentos, só tenho direito há uma hora de visita, então uso o tempo para começar a rezar, pela... honestamente nem sei, provavelmente milésima vez.

Rezo baixo, com as minhas próprias palavras, coloco Nossa Senhora Aparecida a frente, como em tudo em minha vida. Tudo que tenho pedido para ela me é concedido, nunca em meu tempo, mas no momento que mais preciso. Quando termino, beijo a mão do Jaden, benzo nossos corpos e deixo um último beijo na testa dele antes de ir embora.

Quando toco a maçaneta da porta, tenho a impressão de ter escutado alguém me chamando.

— Eu já estou ficando louca. – Aperto os olhos e nego com a cabeça, abrindo a porta.

— S/a.

Não. Essa definitivamente não sou eu ficando louca. Olho para a cama, agora o coração que para é o meu.

𝘸𝘢𝘪𝘵𝘪𝘯𝘨 𝘳𝘰𝘰𝘮 - 𝘫𝘢𝘥𝘦𝘯 𝘸𝘢𝘭𝘵𝘰𝘯.Onde histórias criam vida. Descubra agora