Ao fim da formatura, desviei o caminho que era para ser o da minha casa e fui para o hospital.
A recepcionista já me conhece bem, assim como as enfermeiras que viraram grandes amigas para mim, portanto, o processo de visita se tornou simples, mesmo Jaden estando na Unidade de Terapia Intensiva e não num leito qualquer.
O silêncio é bastante calmo, até um pouco assustador. Hospital me traz memórias ruins e toda vez que piso aqui, um pico de tristeza toma conta de mim, mas tenho me mantido forte para não fazer disso um empecilho.
Abro devagar a porta da UTI, como o caso do Jaden foi o mais grave dentro desses dois meses, ele foi isolado dos outros pacientes e ocupou um quarto sozinho.
Fecho a porta e caminho para o lado dele, o único efeito sonoro sendo dos meus sapatos contra o chão e dos aparelhos que mede a pressão dele a cada dez minutos, outro que acompanha os batimentos cardíacos, fora o soro injetado na veia e mais um monte de fios ligados ao corpo dele que sequer entendo suas funcionalidades.
Puxo a poltrona cinza que já virou minha aliada e me sento ao lado dele, tomando sua mão esbranquiçada. Suspiro, o encarando por um tempo.
— Eu não acredito que elas ainda não trocaram a água. – Penso alto, olhando para o jarro de flores que está com a água que troquei da última vez, água essa que agora está suja. Me levanto e vou para a beira da pia, fazer o que as enfermeiras deviam ter feito mais cedo.
Também abro o armário onde tem pertences do Jaden, pego o lenço umedecido e passo em seu rosto, nos lábios principalmente, sua pele nunca esteve tão seca e os lábios nunca mais esbranquiçados. Descarto no lixo aquilo que foi usado, deixando no lugar que achei e volto para o lado dele.
— Como está se sentindo hoje? Bem? – Olho para o maquinário, os batimentos em 86, o que é bom. — Tenho uma novidade pra te contar. – Seguro a risada e não consigo mantê-la dentro de mim. — O Javon mandou a Coco pastar há duas semanas atrás, eu achei até que durou muito. Ele não contou porque terminou com ela, meu palpite é que se cansou e não tem mais cabeça pra lidar com as futilidades dela. Quero dizer, não que seu irmão seja santo, longe disso, mas acho que dessa vez o problema não foi ele. – Digo, enquanto acaricio os cabelos dele, de pé. — Será que você consegue me ouvir? – Encaro o rosto de Jaden com atenção, nada se move além do peito devido a respiração.
Passo a mão no rosto e me sento de novo.
— Você sequer ainda está aí? Se ao menos pudesse me dar um sinal... – Tomo a mão dele, aproximando da minha bochecha, sentindo o toque que tanto sinto falta. — Deus, o que eu tenho que fazer pra provar que mereço tê-lo de volta? O que mais tenho que oferecer em troca da saúde do Jaden? – Fecho os olhos, encostando a mão dele em minha testa. Fico presa em meus próprios pensamentos, só tenho direito há uma hora de visita, então uso o tempo para começar a rezar, pela... honestamente nem sei, provavelmente milésima vez.
Rezo baixo, com as minhas próprias palavras, coloco Nossa Senhora Aparecida a frente, como em tudo em minha vida. Tudo que tenho pedido para ela me é concedido, nunca em meu tempo, mas no momento que mais preciso. Quando termino, beijo a mão do Jaden, benzo nossos corpos e deixo um último beijo na testa dele antes de ir embora.
Quando toco a maçaneta da porta, tenho a impressão de ter escutado alguém me chamando.
— Eu já estou ficando louca. – Aperto os olhos e nego com a cabeça, abrindo a porta.
— S/a.
Não. Essa definitivamente não sou eu ficando louca. Olho para a cama, agora o coração que para é o meu.
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𝘸𝘢𝘪𝘵𝘪𝘯𝘨 𝘳𝘰𝘰𝘮 - 𝘫𝘢𝘥𝘦𝘯 𝘸𝘢𝘭𝘵𝘰𝘯.
FanfictionS/n Bianchi De La Riva cresceu junto aos irmãos Walton. Desde muito criança, nutriu um amor platônico por um dos gêmeos, Javon. Esse amor platônico se tornou um "namorico" de infância, para depois de crescidos, evoluir para um relacionamento sério...