Um pesadelo do qual eles não acordaram

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Se Draco não fosse tão bom em Oclumência, já estaria morto. O ódio que ele sentia não tinha limites. Voldemort o chamou para combinar os detalhes finais da cerimônia. O salão de festas já estava lotado de comensais da morte. 

- Como vai indo a missão, Draco?

- Eu dei a melhor comida para ela, chocolates, frutas, colchão, travesseiro, livros, fiz companhia, fingi interesse nos assuntos chatos dela...

- Muito bem! Vamos ver se foi o suficiente para ela confiar em você... Pode ir buscá-la, todos já estão esperando...

Draco teve dificuldade de se levantar da cadeira. As pernas estavam tremendo.

- Lembre-se: eu vou fingir que descobri os privilégios que você concedeu à prisioneira e que quero te punir. Vou dizer que você terá a honra de ser o primeiro a quebrar a vagabunda. E aí você faz seu show. Chora, finge que não quer, faz drama... enfim, vai ser divertido!

Draco sabia que o filho da puta sádico iria gostar de torturá-lo. E, como ele era um bastardo imprevisível, poderia mudar de ideia e matá-lo mesmo que Granger pedisse de joelhos para ele parar. 

Mas Draco não estava preocupado com ele mesmo. Ele não sabia como teria forças para tirar Granger da cela e levá-la para a morte. Porque era isso que aconteceria quando ele se recusasse: depois da morte dolorosa dele, seria a vez da morte dolorosa dela. 

Ele se sentiu num beco sem saída.

Quando entrou na masmorra, não aguentou mais ocluir e deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto.

- Eu sinto muito, Granger. Mas chegou a hora...

Ela se levantou sem hesitar. Ele estava impressionado com a força dela. Era essa a tão famosa coragem dos leões da Grifinória?

Antes de sair, ele limpou as lágrimas e suspirou fundo. Mas, quando ia abrir a porta, decidiu contar pelo menos um pouco do que aconteceria:

- Ele vai me punir pelos privilégios que te dei, Granger. Os elfos domésticos me avisaram que a punição seria eu ser o primeiro. Eu vou negar! E ele vai me torturar até a morte. - decidiu não contar toda a verdade. Não adiantaria mesmo. 

- Não!!!! - ela exclamou, horrorizada.

Ele calou-se, lutando para não chorar outra vez.

- Malfoy, é melhor você do que eles. Pelo menos na minha primeira vez... depois eu vou me esforçar para não demorar muito pra morrer. Mas você não precisa se sacrificar! Você pode viver! Você tem tanto ainda pra viver! 

Ele abriu a porta, trêmulo. Ficou com medo de fazer a próxima pergunta. A voz saiu bem baixinha:

- Primeira vez do quê, Granger? Pelo amor de Deus, me diz que você não é virgem?

Ela deu um sorriso triste.

- Não se preocupe com essa bobagem, Malfoy. Haverá tanto sangue e violência que isso vai ser um detalhe bobo e irrelevante!

Draco não teve mais coragem de olhar para ela. Agarrou-se ao corrimão da escada e tentou não desabar e rolar pelos degraus. Aquilo era um pesadelo, só podia ser um pesadelo!

Quando chegaram ao salão, o primeiro rosto que ele viu foi o da mãe, passiva e quieta ao lado do marido. O pai olhava para ele com raiva. Draco se irritou. Se alguém tinha o direito de ter raiva, esse alguém era ele. Bellatrix estava ao lado de Voldemort, olhando para o mestre com adoração, tal como um cachorrinho amestrado. Mas, no fundo, ele viu um comensal bem sério que chamou a atenção. Era Snape. Queria ter tido a chance de conversar uma última vez com o padrinho... 

- Chegaram os nossos convidados especiais! - anunciou Voldemort! - Vejam só que desperdício de sangue puro temos aqui hoje! Parece que o jovem herdeiro mais privilegiado do mundo bruxo ousou me desobedecer! Você pensou que os elfos não me contariam das comidinhas especiais? Do chocolate? Dos livros? Do travesseiro e do colchão que você contrabandeou para a prisioneira? Seu tolo! Estúpido!!!!

Todos os comensais ficaram em silêncio e olharam para ele, assombrados. Bellatrix apontou a varinha para o sobrinho, cheia de ódio. 

"Bem que ela poderia me poupar dessa via crucis dos infernos e me mandar uma maldição da morte agora!" - ele pensou.

- E então, Draquinho, qual é o seu problema? Se apegou à sangue ruim? Que vergonha para os Black e para os Malfoy! - Voldemort gritou e todos os comensais vaiaram o menino.

- Ou será que o problema do garoto é ejaculação precoce? - o salão inteiro gargalhou. - Ou, pior ainda, o jovenzinho é broxa? Ou será que ele é gay??? Se fosse Potter ou Weasley você não faria esse draminha todo?  

Alguns comensais chegaram a rolar no chão de tanto rir. Draco pensou que pelo menos a morte logo o livraria da vergonha de ser um vassalo como eles. 

- Vamos, garoto mimado! Obedeça! Arranque os trapos da sangue ruim! Vamos!

- Não! - ele gritou com todas as forças. 

O salão mergulhou num profundo silêncio. Como ele ousava questionar o Mestre?

- Vou te dar uma chance esportiva e ordenar de novo: me obedeça!

- Não!!! - ele gritou ainda mais alto. 

- Crucious! 

Draco caiu de joelhos com a força da magia de tortura.

-Obedeçaaaaaaaaa!

- Nããããããão!!!

- Crucious! 

- Não vai obedecer?

- Nãaaaaaaaaaaaaaaaao!

-  Crucious!

- Para! Para! Por favor, Malfoy! Por favor! Lembre-se das pequenas decisões! - Granger suplicou. 

Voldemort parou de torturá-lo.

- Parece que a sangue-ruim também se apegou a você, traidor de sangue! Vamos, vá até ela!

Draco ficou parado, ajoelhado no chão. Não queria ir.

- Crucious!

- Malfoy, por favor, por favor! - ela implorou, desesperada. 

Ele se levantou. O corpo inteiro doía por causa da maldição. Teve dificuldade em se manter em pé e andar. Mas não poderia deixá-la passar pelo inferno sozinha. Caminhou até ela, bem devagar, movido por uma força que nem sabia que tinha. O salão chegou a tremer de tanto barulho que os comensais fizeram, excitadíssimos pelo espetáculo.

Draco fez um discreto feitiço de lubrificação sem varinha, enquanto ela ainda estava vestida, para que Voldemort não percebesse. Aproximou-se dela e falou o mais baixo que conseguiu:

- Esquece que eles estão aqui e confia em mim.

- Eu confio... - ela respondeu, com lágrimas nos olhos. 

O segredo da serpenteOnde histórias criam vida. Descubra agora