Capítulo 5 - Ragnar e Valkyria

7 1 0
                                    



Sou um corpo sem alma. Um corpo usado com o único propósito de ganhar e acumular dinheiro para um futuro que, provavelmente, não terei. Não vivendo da forma como tenho vivido.

Toda pureza que havia sentido enquanto meu filho ainda habitava em mim escoara pelo ralo da devassidão na qual mergulhara após ter enterrado o único ser humano que poderia me curar de uma doença que me consome todos os dias, um pouco mais.

Saio com homens cujos prazeres normalmente me enojariam, no entanto, quase sempre bêbada, finjo não ser eu mesma e me imagino como uma cópia borrada daquela que já fora um dia. Da amiga de Giulia, 'minha menina', que me chamava de 'tia', sempre sorrindo e confiando em minhas tolas premonições sobre o balcão de sua cafeteria.

Por vezes, dou graças por ela já não pertencer a esse mundo e não ter de me ver assim, como estou, seca por dentro e me entregando a qualquer um em qualquer festa ansiando por ser salva pelo homem que me machucara de todas as formas possíveis

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Por vezes, dou graças por ela já não pertencer a esse mundo e não ter de me ver assim, como estou, seca por dentro e me entregando a qualquer um em qualquer festa ansiando por ser salva pelo homem que me machucara de todas as formas possíveis.


Qual a graça, o prazer...o tesão em se deitar entre minhas pernas enquanto urino em seu rosto!?

Gostaria de perguntar a esse cliente de quem acabo de me despedir, mas não consigo. A ânsia de vômito me impede de falar. Lembro-me de quase ter matado um degenerado que me pagara uma pequena fortuna para que eu o sufocasse com minhas mãos em seu pescoço. Usei da raiva que guardo de Vincenzo e, por muito pouco, não tirei a sua vida.

Degenerados. Tenho sido a rainha dessa raça, dessa escória.

- Argh! Por essa eu não esperava. - Penso alto com o convite de aniversário de meu pai a quem não vejo há séculos. Retiro o convite da caixa de correspondências relembrando-me do dia em que ele me expulsara de casa por achar que, aos dezesseis, eu já deveria estar contribuindo com as despesas. Com a conivência de minha mãe, eu parti com minha mochila nas costas, sem rumo. Suas últimas palavras foram premonitórias:

"Vá ser puta! Isso dá dinheiro!"

- Acertou, papai. - Zombo dele enquanto corro na orla. Antes de atravessar a avenida e voltar à minha casa, posso jurar ter sentido seu cheirinho de maçã verde vindo do motociclista que, por centímetros, não me atropela. Eu o xingo na expectativa de ser vista por ele. Sua cabeça, escondida por um capacete se volta para mim. Meu coração dispara. Um sopro de alegria toca meu rosto. Meu sorriso morre quando ele acelera a moto e desaparece entre os carros.

Eu pensei que fosse ele. Era tão parecido com ele! Por que não era vc, meu Vincenzo? Volta e me resgata dessa vida!

Não era ele. Ele não voltou e eu, segui adiante, com a sensação de estar retrocedendo.

***

Não compreendo como meu pai, de repente, surge em minha vida, ostentando riqueza quando ele me expulsara de casa, alegando pobreza.

Dess - Uma História InteressanteOnde histórias criam vida. Descubra agora