Declaração

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Draco se lembrava perfeitamente de como estava nervoso naquele dia. Seus dedos tateando a mesa incessantemente, sua mente nublada por pensamentos, tentando encontrar as melhores palavras para se expressar, buscando ser aceito.

— Eu gosto de você. Sei que pode parecer repentino e não é como se eu esperasse algo de volta, só queria poder te contar como eu me sinto. Quer dizer, se quiser falar algo... mas não precisa responder.

Como era ingenuo e idiota. Abrindo seu coração por aí como se não pudessem o machucar facilmente.

— Isso é nojento. Você é um submisso, não é? Sente tesão em se humilhar?

Os risos e as vozes eram altas gritando para si, como se cada palavra dolorida que já ouviu ser proferida estivesse guardada em algum lugar de sua mente e agora simplesmente inundasse aquele pesadelo.

— Meu filhinho, é minha culpa. Me desculpe por te gerar com essa mutação horrível.

O choro de sua mãe e os inúmeros perdões que ela suplicava toda noite. Tudo aquilo era impossível de aguentar.

Então, Draco abriu os olhos. Se sentou na cama e sentiu o suor escorrer em seu rosto antes mesmo de notar que não estava em seu apartamento. Sua respiração pesada e seu corpo que parecia não conseguir parar de tremer.

— O que há de errado comigo? Eu pensei que finalmente estava livre. — ele apertou o seu próprio braço inutilmente tentando o impedir de tremer.

Estava tão imerso em seu desespero, querendo tanto esquecer e parar de tremer que não notou os olhos verdes sob si. Harry o puxou para um abraço o forçando a deitar novamente e só então Draco percebeu quão gelado estava seu próprio corpo, o calor do outro era inegavelmente acolhedor.

— Você teve um pesadelo? — Draco não respondeu, o moreno apenas suspirou e deu alguns tapinhas nas suas costas, ainda sem soltar do abraço — Está tudo bem.

— Do que está falando?

— De tudo. Está tudo bem. — Harry sussurrou com a voz rouca pelo sono, havia tanta tranquilidade em sua voz que Draco quase se deixou acreditar — Volte a dormir, quando acordar já terá esquecido tudo.

Seria bom se isso fosse verdade, Draco pensou. Mas ainda podia sentir, mesmo que em menor quantidade, seu corpo ainda tremia. Se mesmo depois de todo esse tempo não havia superado, não acreditava que havia chances para si.

Quando Draco acordou, horas depois, sentiu o cheiro de café fresco. Amava aquele cheiro, mas Isaac não tomava café, foi então que abriu os olhos um tanto assustado e se lembrou novamente que não estava em casa. Ainda era algo difícil de se acostumar. Nunca dormia fora de casa e não sabia dizer porque era diferente com Potter.

— Eu li o seu livro, sabe, nesse tempo que você sumiu. — Harry declarou no meio do desjejum, tão repentinamente que Draco ficou confuso.

— Por que?

— Queria conhecer mais sobre você, Draco Black. — Draco publicava seus livros com o sobrenome de sua mãe, por isso pensou que Harry não o acharia. Para falar a verdade, nunca pensou que ele iria se importar o suficiente para ler.

— E o que achou?

O loiro continuou olhando para a comida no prato fingindo estar ocupado demais, não sabia porque se importava com a aprovação de Harry, ele claramente não era do tipo que lia, em seu apartamento não havia muito mais que revistas e jornais antigos. Já havia enfrentado críticos literários bem mais versados sem suar frio.

O de cabelos pretos inclinou a cabeça pensando no que falar e isso fez Draco ficar ainda mais preocupado e se repreender mentalmente por isso.

— O protagonista é muito trágico. A maldição que foi jogada nele fez ele matar a mãe no nascimento e ele cresceu sem saber como era o toque de alguém porque tudo o que ele tocava morria. É tão dramático e melancólico, mas de algum jeito era exatamente o que eu esperava de você.

Crash into me - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora