O Começo de Tudo

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Quando as amigas se foram e ela ficou só em seu quarto, Sunny perambulava pensativa pelo espaço. Ansiosa pelo encontro de sexta-feira, ensaiava o que diria ao vê-lo, imaginava-se escolhendo um novo perfume, a roupa ideal... Como poderia dormir com tantos pensamentos fervilhando? Precisava acordar cedo para ensaiar na escola, pois aos sábados havia treino de futebol e das líderes de torcida às oito da manhã, e à noite, uma festa na casa de amigos de seu pai.
Acendeu um cigarro e dirigiu-se à janela com banco. Embora não fosse hábito seu fumar, em noites de insônia e solidão, ela recorria ao cigarro, um costume herdado dos amigos e dos pais, todos fumantes. E por mais que não fosse frequente, se apropriou do hábito. Era uma noite fria e ventosa, mas ela amava o frio, uma ironia, considerando seu nome. Vestia um longo robe de cetim vinho, acompanhando seu vestido, e pantufas felpudas para aquecer os pés. E assim foi sua noite, até pegar no sono em alguma momento da madrugada.

O dia seguinte foi exaustivo. Passou a manhã ensaiando na escola e retornou apenas para o almoço. Depois, descansou um pouco antes de se preparar para a festa na casa dos Roosevelt. Escolheu um vestido bustier de chiffon, em um tom marrom profundo, quase vinho, acompanhado de saltos pretos e acessórios dourados, com uma bolsa de pérolas. Deixou os cabelos soltos, prendendo a franja com grampos dourados, conferindo um leve volume à raiz.
Chegando na casa onde a festa acontecia, ela cumprimentou a todos com simpatia e ficou ao lado de sua família, procurando algum rosto familiar para passar a noite, até seus olhos encontrarem os de Charlie Dalton, um velho amigo de infância.

— Charlie! Que bom te ver aqui, finalmente um rosto familiar – Disse ela, o abraçando singelamente.

— Sunny Dee, que bom reencontrá-la. Faz tempo que não nos vemos. Como tem passado? – Respondeu ele, retribuindo o abraço.

— Ah, o de sempre, nada de extraordinário. E você? – Ela se posicionou ao seu lado, observando o salão.

— O mesmo de sempre, com meu pai me pressionando para me tornar um bancário como ele, tirar boas notas na escola e nada novo. –  E tomou um gole seco de seu champanhe.

— Pelo menos ele quer que você vá para a faculdade. O meu, se eu mencionar estudar fora, é capaz de me trancar numa torre e me casar no mesmo dia – Sunny revirou os olhos, pegando uma taça do garçom – Mas eu entendo você. Não é fácil seguir um destino que não é nosso. É meio triste, na verdade, não podermos escolher nossa vida.

— Sábias palavras, Sunny Dee. Vamos lá fora? Quero acender um cigarro –  Charlie estendeu a mão de forma formal, convidando-a a acompanhá-lo.

Já na parte externa, na grande sacada que contornava a casa, os dois relembraram histórias de infância e riam com a nostalgia, sem saber que estavam sendo observados pelo Sr.WestWood, que percebendo a aproximação dos dois teve uma ideia ousada.

— Ah, Dalton, só você mesmo! Tinha me esquecido o quão divertido você era.

Os dois, apesar de se conhecerem desde crianças se afastaram depois que ele foi para o internato, mas quando mais novos sempre iam brincar juntos, fazer bobagens para irritar os pais e até fumaram seu primeiro cigarro juntos. Ela tinha se esquecido que sentia falta dele.

Sunny ria, cobrindo os lábios e uma brisa fria passou por ela, que tentou se aquecer cruzando os braços. Charlie, percebendo o desconforto da amiga, tirou o casaco e colocou sobre seus ombros, um gesto de amizade que foi interpretado de maneira errônea por Benjamin WestWood, que de tempos em tempos parava para ver o que acontecia e captou o exato momento.

— Aqui, tome. Para não congelar aqui fora.

— Obrigada. Ah, e você se lembra da festa no jardim dos Harrisons quando você insistiu em se banhar no lago ornamental? Tirou os sapatos e me puxou para pular com você! Nunca vi seu pai te dar uma bronca tão grande. E meus pais me castigaram por uma semana inteira. Éramos terríveis... Quando foi que deixamos de fazer o que queríamos para nos tornarmos um deles?

Steven Meeks- LoverboyOnde histórias criam vida. Descubra agora