Capítulo 7

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Preciso confessar.

Eu voltei para Sean.

Precisei amá-lo por um tempo, para poder sobreviver.

Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. E há os que o amor, é nada mais que a pobreza.

O amor como sobrevivência é doloroso e humilhante. Doloroso porque você sabe que não é um genuíno, puro e sincero. É apenas uma forma de não sucumbir à tristeza. É humilhante porque você percebe que está tão imersa no sofrimento, tão consumida pela solidão que começa a enxergar a esperança e amor onde deveria ser o seu ponto de fuga. É apenas sobre tentar permanecer na superfície e não voltar no inferno novamente.

Nessas últimas semanas eu percebi que aqueles que escapam do inferno nunca falam sobre isso
e nada mais os incomoda. Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição, ir para a cadeia, bater seu carro
ou mesmo morrer. Quando você perguntar-lhes, "como as coisas estão indo? " eles vão responder: "bem, muito bem".

Porque uma vez que você foi para o inferno e voltou, você passa a não temer nada, excepto é claro, a própria vida. Uma vez que você foi para o inferno e voltou, você não olha para trás quando o chão range. O sol está no alto a meia-noite e coisas como caracóis temendo a sua presença ou um velho pneu em um terreno baldio pode torná-lo feliz. Uma vez que você foi para o inferno e voltou, não é capaz de sentir mais nada.

Depois de ter transado com Max, percebi que não seria capaz de me entregar verdadeiramente para qualquer outro homem. Meu corpo automaticamente correu em direção a Sean. Eu senti como se pertencesse a ele. Como se o meu corpo recusasse qualquer outro toque que não fosse o dele.

Pensei em como talvez seria mais fácil se eu ficasse com ele, já que ele tomou a minha virgindade. Da maneira errada, mas ainda assim foi com ele. Então quando mandei a mensagem marcando um encontro com ele naquele fim de tarde, nada em mim soou como um alerta. De como eu estava sendo estupida e lamentaria essa atitude mais tarde.

Quando o vi ali parado, com as mãos enfiadas no jeans rasgados, eu quis correr. Imediatamente o sentimento de desespero atingiu os meus ossos e naquele exato momento percebi o quão idiota eu estava sendo. Mas já era tarde de mais. Ele aproximou-se lentamente, eu apenas gelei.

Seus lábios caíram sobre os meus assim que a distância entre nós foi celada. Minha boca correspondeu ao beijo automaticamente.

Parecia tão errado, mas tão certo ao mesmo tempo.

Eu tive outro orgasmo naquela tarde.

Quando cheguei em casa, e todas as emoções se fizeram presentes, eu desejei a morte. Eu fui mesmo estuprada? Acho que eu talvez só esteja exagerando. Talvez eu só tenha interpretado mal. Talvez eu tenha dado sinais de que queria transar com ele e estava apenas com medo da dor. Talvez todas as primeiras vezes fossem assim e eu tenha feito uma tempestade.

Eu sou jovem, foi só sexo. Eu nem vou me lembrar desses dias turbulentos daqui há alguns anos. Eu vou crescer, casar, ter filhos e ser feliz.

Ou, eu preciso de ajuda. Eu acabei de transar com o meu estuprador. Eu deliberadamente, transei com Sean depois do que ele fez comigo.

— Goza para mim sua puta.— Sean murmura no meu ouvido e desce seus lábios em direção ao meu mamilo e o suga sem delicadeza.

Suas mãos param de se movimentar e meu corpo protesta. Ele desliza para baixo, se posiciona entre minhas pernas e mordisca a parte interna da minha coxa, antes de mergulhar em mim com a sua boca. Não consigo descrever a sensação que foi tê-lo entre minhas pernas. E o estado em que entrei no momento seguinte pode ser caracterizado como uma agitação implacável.

— Sean.— gemo o seu nome enquanto me desfaço em sua boca.

Quando me penetrou bruto e duro, não senti dor. Parecia que estava no lugar certo. A sensação era assustadoramente confortante. A dor era familiar e desejada. E quando meus braços o abraçaram enquanto ele liberava seu gozo, uma lágrima solitária deslizou pela minha bochecha. Eu sabia, aquilo era errado.

Durante uma vida a gente é capaz de sentir de tudo, são inúmeras as sensações que nos invadem, e delas a arte igualmente já se serviu com fartura. Paixão, saudades, culpa, dor-de-cotovelo, remorso, excitação, otimismo, desejo – sabemos reconhecer cada uma destas alegrias e tristezas, não há muita novidade, já vivenciamos um pouco de cada coisa, e o que não foi vivenciado foi ao menos testemunhado através de filmes, novelas, letras de música.

Há um sentimento, no entanto, que não aparece muito, não protagoniza cenas de cinema nem vira versos com frequência, e quando a gente sente na própria pele, é como se fosse uma visita incômoda. De humilhação que falo.

Há muitas maneiras de uma pessoa se sentir humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza diretamente, nos reduz, nos coloca no nosso devido lugar — que lugar é este que não permite movimento, travessia? Geralmente são opressões hierárquicas: patrão-empregado, professor-aluno, adulto-criança. Respeitamos a hierarquia, mas não engolimos a soberba alheia, e este tipo de humilhação só não causa maior estrago porque sabemos que ele é fruto da arrogância, e os arrogantes nada mais são do que pessoas com complexo de inferioridade. Humilham para não se sentirem humilhados.

Mas e quando a humilhação não é fruto da hierarquia, mas de algo muito maior e mais massacrante: nós mesmos. Tentamos superar uma dor antiga e não conseguimos. Procuramos abrigo de quem nos fez mal e caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos nosso corpo e nosso carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro. Motivos nobres, mas os resultados são vexatórios.

Nesses casos, não houve maldade, ninguém pretendeu nos desdenhar. Estivemos apenas enfrentando as consequências das nossas ações: nós mesmos, nossas fraquezas, nossas emoções mais escondidas, aquelas que julgávamos superadas, para sempre adormecidas, mas que de vez em quando acordam para, impiedosas, nos colocar em nosso devido lugar.

— Eu sabia que era uma dessas garotas que se fazem de difíceis, mas são às mais safadas.

Ele tem razão.

Eu sou uma vadia.

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