Eu sempre tive medo de sexo.
A primeira vez que presenciei sem filtros como de facto os bebês chegam nesse mundo eu tinha seis anos. Naquela noite, enquanto descia as escadas e os gemidos tornavam-se cada vez mais altos, a curiosidade e inocência conduziram-me até a cozinha, onde papai e mamãe transavam da forma mais obscena que uma criança poderia presenciar.
Eu cobri a minha boca, aterrorizada. Não sei quanto tempo fiquei ali parada observando a maneira como o pênis do meu pai entrava na vagina da minha mãe, mas pareceu uma eternidade. Ela fazia caretas, enquanto meu pai emitia pequenos sons animalescos. Em minha pobre cabeça infantil meu pai era um monstro e estava maltratando à minha mãe. Eu tinha seis anos e nunca consegui apagar aquela cena da minha cabeça. Lembro de voltar para o meu quarto e não conseguir dormir a noite inteira.
A medida que os anos foram avançando, foi ladeira a baixo. Talvez nessa altura ainda estivessem bem presentes na minha memória todas as histórias que ouvia na minha família sobre o que era suposto fazer-se aos onze anos. Segundo a minha mãe, e tal como seria natural em todas as gerações, nessa idade ela brincava com bonecas.
Mas aos onze anos trocamos as bonecas pela masturbação, passávamos a maior parte do dia brincando com os nossos próprios corpos. Masturbação e personagens de séries que sonhávamos em transar era a conversa que mais vezes tínhamos nos intervalos das aulas.
Foi a partir dessa altura que eu comecei a aperceber-me de que, à nossa volta, tudo aquilo que consumíamos tinha uma enorme energia sexual. Os videoclips com cantoras quase despidas passavam repetidamente na televisão ou estavam disponíveis a qualquer hora e para qualquer pessoa no YouTube.
Na televisão e no cinema, as séries e os filmes para a nossa idade tinham sempre referências a sexo. Até em certos jogos havia mulheres nuas e sexo. Nas revistas, espalhadas por todos os lados, existiam dicas sobre orgasmos e posições sexuais. Começamos a consumir sexo cedo demais, sem termos consciência disso.
Para os nossos pais, estávamos apenas a apreender aquilo que naturalmente eles viveram quando tiveram a nossa idade: música, entretenimento e jogos. Só que talvez eles não se apercebessem de que, para onde quer que nós olhássemos, havia sexo em quantidades brutais. E isso dava-nos cada vez mais vontade de o fazer.
Aos dez anos, nos reuníamos em grupo para assistir pornografia na casa de quem os pais fossem ocupados demais e nunca estivessem por perto. E mesmo sozinha, virava a madrugada assistindo a filmes como 9 canções, Love ou Ninfomaníaca.
Sem nos apercebermos, a nossa sexualidade estava a ser orientada por aquilo que estávamos a ver na pornografia. Era a nossa educação sexual.
— Serenity?
Meu sangue congela.
Não tenho muito tempo para pensar, então simplesmente puxo o cabo que ligava o computador a tomada e tudo fica escuro. Corro para a minha cama e me cubro até a cabeça.
— Eu sei que está acordada.— murmurou, passiva.
Os anos foram passando, e a pornografia foi-se tornando aborrecida. Para mantermos vivo o interesse, tínhamos sempre de procurar cenas ainda mais excitantes ou provocadoras. Já não nos contentávamos em ver pornografia entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens e uma mulher, nem mesmo a pornografia mais esquisita era novidade.
Nossos olhos viram muita barbaridade, mais cedo do que realmente deveríamos. Existem centenas de categorias de pornô que você nunca imaginaria que um ser racional fosse capaz de criar.
Sites de sadomasoquismo. Zoofilia. Bondage. Beastiality. Fisting. Strapon. Gagging. Golden shower. Hardcore. Gangbang. Extreme DP. Face sitting. Femdom. MILF. NILF. Squirting. Facials. Rimming. Glory holes. Auto-erotic asphixiation. Em poucos meses, vimos praticamente todo o tipo de sexo que existe na Internet. De graça.
Nós tínhamos apenas entre onze e treze anos e nossa maior preocupação era sempre ter o cuidado de apagar todo o histórico de pesquisa. Aos treze algumas já tinham perdido a virgindade e outras feito sexo oral em garotos acima dos dezesseis.
O único contacto próximo a sexo com outra pessoa que tive nessa idade foi tocar no seios de Amanda e ela os meus. Era medrosa demais para chegar perto de um garoto. Talvez fosse por ter presenciado meus pais naquela noite? Não sei.
A nossa cabeça tinha espaço para pouco mais do que sexo. Havia uma vontade cada vez maior de o fazermos. No fundo, todos passamos pelas mesmas coisas. Todos queríamos fazer sexo. Isso e apenas isso.
— Tudo bem.— suspirou, cansada.— O jantar será servido em trinta minutos, não deixe o seu pai irritado.
E tudo ficou em silêncio.
Respiro fundo e me sento na cama.
Nas últimas semanas, eu fiz uma terrível descoberta.
Ás mulheres adoram ser estupradas.
No início elas relutam, se debatem, esperneiam e choram, mas no final, seus corpos imploram por mais e têm orgasmos arrebatadores. Loucura? Então você claramente nunca rolou pelo pornhub ou xvideos.
Olho às horas no celular. Menos um quarto para às sete. Eram quatro e meia da tarde quando comecei a rolar na categoria violações do pornhub. Nunca saberemos se são reais ou não. Muitos diriam que as cenas são fictícias porque as mulheres no final acabam em gemidos e espasmos. Afinal, que raio de pessoa tem um orgasmo ao ser abusada?
Eu também não acreditava, até ter sido uma. As coisas mais difíceis de falar, são as que nós mesmos não conseguimos entender.
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Orgasmo
Genç KurguSerenity encontra-se num dilema perturbador: ela foi estuprada e não consegue contar a verdade para ninguém, porque ela sentiu prazer e teve um orgasmo.