Eu quero me enfiar entre os braços dele. Encostar a cabeça em seu peito e ouvir seu coração. Beijar sua boca a cada vez que ele me faz uma pergunta.Mas não posso.
Não posso porque pioraria mil vezes o clima estranho em que já estamos. E porque estamos separados. Tive que lembrar isso para mim mesma umas cem vezes nessa uma hora em que ele está aqui.
Nos livros que eu lia na adolescência parecia mais fácil ter um filho com um ex namorado, mas na prática, é uma merda.
- E aí a Jenny te obrigou a fazer os testes?
- Isso. Estava na cara que eu estava grávida, mas.... Sei lá, eu estava tão abalada com o término que achei que eram crises de tristeza. Não passou pela minha cabeça que era um bebê.
Ele sorri de canto, num misto de vergonha e saudade. É, eu fico da mesma forma.
- Você já estava grávida quando terminamos, não é?
- Ali eu estava com quase 1 mês. Quando descobri a gestação, estava com 3. E te contei agora, chegando no 4° mês.
- Entendi. E... Você está bem com isso? Sabe, aquele dia foi tudo muito conturbado e eu nem consegui te perguntar nada.
- Estou ok. Ainda não digeri muito bem, mas estou me acostumando.
- Não era assim que você queria que acontecesse, não é? - ele pergunta, dando um sorriso pesaroso por já conhecer minha resposta.
- Não, não era. Mas é assim que a vida está me dando uma segunda chance de ser mãe e eu vou ter que abraçar isso.
Só percebo o que disse quando já terminei de falar, fechando os olhos com força ao notar a facilidade com que deixei escapar. Porra, eu guardei isso por 2 anos! Como falei assim com tanta facilidade? Devo estar mais abalada do que eu mesma imagino.
- Segunda chance de ser mãe? - Luke questiona, se ajeitando no sofá para me encarar, surpreso. - Do que você tá falando?
Meu pulso acelera e eu preciso apertar o tecido do roupão para me acalmar minimamente enquanto penso em uma resposta.
- É algo do meu passado, Luke. - Consigo dizer, ainda me sentindo nervosa. - Nada com que você deva se preocupar.
- Eu não sabia que você...
- Não quero falar sobre isso. Por favor - peço, interrompendo sua fala antes que ele termine.
Eu não tenho nenhuma estrutura emocional para falar sobre isso. Não quando tem um bebê na minha barriga. Um bebê que vai ficar aqui até nascer. Pelo tempo certo. Um bebê que eu vou conhecer. Que eu vou segurar nos meus braços. Um bebê que eu...
- Dakota!
Meus olhos se arregalam e só então noto que Luke paira sobre mim. Seu olhar está vidrado em meu rosto, assustado, e suas sobrancelhas se franzem quando ele toca minhas bochechas, chamando minha atenção para ele.
- O que...? - pergunto, balançando a cabeça para os lados e tentando me reconectar com a realidade. - O que aconteceu?
- Você... - ele murmura soltando meu rosto. - Ficou olhando para o nada, falando um monte de palavras sem sentido. Tá tudo bem, mesmo? Quer que eu passe a noite aqui?
- Não precisa, Luke - digo, sorrindo para sua pergunta. - São só... Coisas que já me aconteceram e que são lembranças, às vezes elas voltam, mas eu sei lidar.
- Posso ligar pra Jenny, se quiser - propõe, me olhando atento ao se sentar novamente no sofá.
- Relaxa, vou ficar bem.
- Certo. Mas eu vou ficar aqui até você dormir.
- Luke, não pre...
- Precisa, Dakota - ele me corta, mais sério. - Nunca te vi com um olhar tão assustado. Respeito se você quiser ficar sozinha, mas vou garantir que você vai ficar bem.
- Tá... Obrigada, Luke - falo baixinho, tocando sua mão que descansa no espaço entre nós dois.
- Não precisa me agradecer.
- Você... - começo, pensando se é uma boa ideia colocar nós dois nessa situação. - Você quer por a mão?
- Na sua barriga? - questiona, sorrindo meio bobo e me olhando com expectativa.
- Sim - digo firme, tentando mascarar o turbilhão de sentimentos dentro de mim.
Ainda bem que me resta um pouco de sanidade e a psicóloga já está marcada. Obrigada, Dakota do passado. De uma semana atrás, na verdade.
- Eu posso?
- Claro que pode - afirmo, segurando sua mão com as minhas e colocando no lado direito da minha barriga, onde senti mais o bebê hoje.
Meu gesto o puxa para perto de mim e, quando noto, estamos mais próximos do que o planejado.
- Eu ainda não senti ele mexer, dizem que começa na décima sexta semana.... Mas tem dias que sinto a barriga mais pesadinha de um lado do que do outro, então acho que é aqui que ele está.
- Uhum, acho que sim - ele resmunga, mas não acho que Luke realmente prestou atenção no que eu disse.
Seu olhar carinhoso em direção a minha barriga é uma imagem que não quero nunca esquecer. Ele parece estar em outra dimensão, admirado demais só por poder tocar o lugar onde nosso bebê está crescendo.
Preciso fazer um esforço gigante para não chorar e, com sorte (e algumas respirações bem fundas) consigo me controlar antes que ele olhe para o meu rosto outra vez.
- Sei que as coisas estão confusas - ele pontua, movendo seu polegar de leve por cima do meu roupão, fazendo carinho na minha barriga. - Mas a gente vai dar um jeito. Vamos conseguir, ok? Não se preocupe tanto agora, por favor. Quero que você possa curtir pelo menos um pouco a gravidez.
- Eu tô tentando. Juro que estou, só é um pouco assustador pensar em tudo...
- Vamos fazer dar certo e independente de qualquer outra coisa, estou aqui com você.
- Obr...
- Não, não me agradeça. Fizemos esse neném juntos e vamos cuidar dele juntos. Não do jeito que você queria, mas...
- Do jeito que dá - completo, colocando minha mão por cima da dele em minha barriga.
É, filho. A mamãe não fez as coisas do jeito que queria. Não fiz do modo como eu achava ser perfeito. Mas a mamãe vai cuidar de tudo aqui fora para você ser recebido com muito amor por todo mundo.
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Your Daughter Hates Me
RomanceDakota sempre quis formar uma família. Encontrar um amor tranquilo, alguém com quem pudesse falar de futuro e se sentir acolhida. Ela nunca foi grande referência quando o assunto é escolher namorados. Conhecer Luke foi como uma brisa suave num dia...