IV. Sobre coisas inadequadas.

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-E você esta animado com o inicio das aulas, Felix?- O senhor Bang perguntou sorridente.

Pelo visto, nenhum dos genitores havia notado que o clima entre os garotos estava tão denso que só poderia ser cortado com uma motosserra.

-Acho que sim.- Sorriu minimamente, ainda revirando os alimentos em seu prato. -Vai ser diferente.

-Diferente é bom, filho.- A Lee mais velha sorriu. -Normal é chato. E as faculdades aqui na Coréia são muito boas! É uma ótima chance pra ter um futuro melhor!

-Você vai se sair bem.- Christopher suspirou, largando os talheres na mesa. Estava totalmente sem apetite.

-Em alguma coisa eu tenho que me sair bem, né, hyung?- O ruivo disse com amargura, fazendo com que o Bang desviasse o olhar.

Chan suspirou pesadamente, erguendo-se e recolhendo o próprio prato.

-Estou sem fome.- Avisou. -Vou me deitar.

-O que deu nele?- A única mulher da casa questionou curiosa, Bangchan geralmente era o primeiro a fazer brincadeiras e puxar assuntos sobre quaisquer coisas que pensasse, mas, nos últimos dias ele estava tão cabisbaixo que sequer parecia o garoto que conhecia.

Além de que havia notado a mudança abrupta nos hábitos alimentares do garoto, quer dizer, o Bang comia feito um animal, e ultimamente mal tocava nos talheres.

-Não sei, mãe.- Felix deu de ombros, repetindo as ações do mais velho. -Acho que só esta preocupado com o lance da faculdade.

E aquilo até seria verdade -Se Felix não soubesse o motivo.-, afinal, Bang Christopher iria cursar Engenharia em uma universidade sul-coreana, então poderia de fato estar preocupado em se sair bem, sabendo o quanto a educação de tal país é exigente.

Ainda mais em um curso que era 86% exatas.

-Vou tomar banho.

-Entendeu alguma coisa?- A Lee olhou para o marido, enquanto o filho sumia pelo corredor do apartamento.
-Entendi foi nada.

[ . . . ]

-Apaga a luz.- O loiro resmungou, sem fazer questão de abrir os olhos.

-'Tô guardando minhas coisas.- Felix bufou.

O Bang abriu os olhos, deparando-se com um Yongbok apenas de boxer rosa em frente ao roupeiro... que curiosamente ficava em frente à sua cama, dando-lhe uma certa visão privilegiada.

Fechou os olhos rapidamente, em um gesto infantil, ao ver o outro virar-se, trancando a porta e desligando o interruptor.

O ruivo não disse nada, apenas se deitou na cama que o pertencia e cobriu o corpo, em um silêncio mórbido e cheio de fúria.

Uma parte de si, compreendia Christopher. Ninguém aceitaria o amor deles, muitas famílias tem tendência a repugnar relacionamentos homoafetivos, e mesmo que os genitores deles nunca tivessem demonstrado atos homofóbicos, ainda assim o assustava a ideia... Além de que seus pais eram casados, conviviam sobre o mesmo teto há dois anos, se conheciam há cinco...

Mas, nada mudava o fato de que não eram irmãos.

Não tinham o mesmo sangue, nem genes, nem pais ou parentes.
Isso frustrava Felix. Onde estavam os culhões de Bang Christopher?

Se sentia usado, apenas isso. Como se tivesse sido um brinquedo sexual descartável, o qual ele pôde foder à vontade e depois dispensar.

Uma diversão.

Já o Bang, se martirizava até a alma por saber que tinha feito algo sem volta. Sabia o que Felix estava sentindo, sabia que rejeitar o menino depois de tudo que fizeram sem dar uma única explicação plausível tinha sido a coisa mais imatura que poderia fazer.

Mas, mal-feito, feito.

Não tinha volta.

Magoou de forma intensa o coração inocente -Apesar de tudo.- do ruivinho, e agora, tinha que arcar com as consequências de seus atos.  Não podia simplesmente achar que tudo ficaria bem e a vida seria um paraíso recheado de rosas e balas em formato de ursinhos.

Não podia apenas assumir uma pose de irmão mais velho carinhoso, na verdade, nem queria, a ideia de Felix o ver como uma figura fraternal embrulhava seu estômago.

Christopher era praticamente um adulto, e Felix, bom, podia não ser criança, mas, sem dúvidas era muito ingênuo para certas coisas.

-Já está dormindo?- Yongbok sussurrou após ouvir mais um trovão.

-Não.

-Não consigo dormir.- Confessou baixinho.

-Coloque uma roupa, pelo menos.- Chris pediu, e o garoto não pensou duas vezes, caminhando às cegas até o armário e pegando uma bermuda e uma camisa.

Vestiu as peças e foi se enfiando debaixo do cobertor vermelho que cobria a cama do loiro. Christopher deu espaço para o menino, logo deixando os dois em uma posição confortável. Passou o braço sobre o corpo míudo, tentando trespassar segurança para o garoto.

E apesar do que muitos pensariam, aquilo não era uma jogada do Lee para se aproximar, era apenas seu instinto agindo por conta do medo. Felix tinha pavor de noites chuvosas.

O trauma de infância o acompanhava, e todas as noites em que chovia de forma torrencial -Tal como esta em questão.- entrava em pânico ao se lembrar do acidente que tirou a vida de seu pai.

A mãe do ruivo lhe contou uma vez, que logo após a morte de seu pai, Felix entrava em desespero sempre que chovia, todas as noites em que chovia, sempre via o Lee passar elas acordado, mas agora, tinham intimidade o suficiente para o Bang lhe confortar.

-Hyung.

-Hum?

-Me desculpa...- Sussurrou, colocando a mão pequena sobre a do loiro.

-Pelo quê...?- Não estava sonolento o suficiente para se sentir confuso, mas, ainda assim não conseguia captar o que estava acontecendo.

-Não sei...- Suspirou. -Mas, eu sinto que fiz algo errado...

E tinha feito, seu erro foi fazer o Bang se apaixonar de forma tão desesperadora por si.

-Você não fez nada errado.- Disse em tom calmo, tentando controlar as emoções.

-Fiz sim...- Yongbok apertou com mais força sua mão. -Se eu não tivesse feito, você ainda ia me querer...

-Eu ainda te quero...- Chan abraçou-o ainda mais forte, escondendo o rosto nos fios alaranjados. -Mas, não podemos ficar juntos.

-Por que não?

-Por que as pessoas não vão entender.

-Mas... você gosta de mim... né?

-Eu te amo, Yongbok. E isso é tão fodidamente errado.

Naquela noite, Felix conseguiu dormir, extasiado em saber que Christopher o amava.

Aulas de Coreano •ChanlixOnde histórias criam vida. Descubra agora