Coletiva.

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Eu verdadeiramente não me lembro qual foi a última vez que me sentir tão feliz. Dormir de bom humor e acordei da mesma maneira. Tem algo melhor, que uma vitória do Corinthians? Se tem, eu desconheço.

O time do parque são Jorge costuma a ser a base do meu humor. Se estar bem por lá, estar tudo bem para mim também.

Despertei tão disposta hoje, que minha vontade de xingar o Igor caiu para 99%, uma evolução, eu diria.

Apesar de saber que era somente uma vitória em meio a tantos caos, e que as coisas ainda tinham que melhorar muito, me sentia levemente saciada.

Passei pelos portões do Corinthians um pouco mais tarde hoje, estava atrasada, o que de fato era uma grande surpresa, já que costumava a ser pontual sempre.

Em meio a correria até a sala de Limpeza, acabei por esbarrar em alguém. Merda, era só o que me faltava. Pus as mãos na testa ao sentir uma pequena dor na região.

— Vai com calma aí apressadinha.

Ergui o olhar e vi Raniele ali, com um sorriso espetacular no rosto. Diferente de alguns, o homem estava sempre radiante, sempre de bom humor, esse aspecto só mudava, quando o Corinthians perdia, deve ser por isso que ele nunca mais sorriu. Mas hoje, assim como eu, a felicidade pareceu reinar um pouco para ele também.

— Estou atrasada, desculpe pelo esbarrão. Não te vi.

Ele pegou o celular no bolso e encarou a tela por alguns segundos, o guardando em seguida.

— Nem tanto, dez minutinhos não é de matar ninguém.

Elevei uma sobrancelha.

Não era bem assim que as coisas funcionava, eu era apenas a faxineira do lugar, não podia me dar o luxo de se atrasar, ou meu emprego certamente estaria em risco.

— Nem todo mundo pode se dar o luxo de cometer erros, Rani. — apesar das palavras ásperas, eu não fui rude. Pelo menos não queria passar está visão.

O Raniele era um dos poucos por aqui que eu simpatizava, por exemplo, a minha vontade de lhe xingar era de 75%, pouco comparando aos demais.

— Desculpe, não queria ser indelicado.

— E não foi. — sorri de lado.

Raniele sorriu de volta, seu humor inabalável quase contagiando minha própria pressa. Ele se afastou, me dando espaço para continuar minha corrida. Enquanto me dirigia à sala de limpeza, senti a energia da vitória do Corinthians ainda vibrando no ambiente. E isso era ótimo.

Finalmente, alcancei a sala, ofegante e um pouco mais suada do que gostaria. A Sra. Marta, minha supervisora, olhou para mim com uma expressão que mesclava impaciência e compreensão. Ela era uma mulher severa, mas também sabia o quanto o clube significava para todos nós.

— Atrasada hoje, Ana? — perguntou, com as mãos na cintura.

— Desculpe, Sra. Marta. Foi um atraso involuntário, não vai se repetir.

Ela bufou, mas seus olhos traíam um leve traço de indulgência.

— Tudo bem, só não faça disso um hábito. Vamos, temos muito trabalho hoje.

Comecei minhas tarefas, imersa no ritmo conhecido e quase reconfortante da limpeza. Havia algo de meditativo em esfregar os pisos, em colocar tudo em ordem. Apesar de ser um trabalho humilde, eu me orgulhava de fazer parte do clube que amava.

Passava do meio - dia quando percebi uma movimentação fora do normal. Eu já tinha limpado praticamente tudo, faltava apenas a salinha onde ficava alguns papéis velhos, que eu tinha vontade de jogar fora toda vez que entrava ali. Estava também quase na hora do meu almoço, então pra não desmaiar ali, eu decidi que iria comer primeiro e depois terminaria o serviço.

Peguei minha bolsa e fui até a pequena cozinha onde os funcionários faziam suas refeições e peguei meu pote com comida, coloquei no microondas e liguei para esquentar. Enquanto aguardava peguei meu celular pra checar se tinha alguma mensagem da faculdade e foi quando vi que hoje tinha apresentação do novo técnico do Corinthians. Ramon Diaz.

Merda.

Como eu pude esquecer disso, era hoje, daqui a alguns minutos. Peguei rapidamente a comida do microondas e comecei a comer o mais rápido que eu pude, claro que eu iria ver de perto, não tão de perto, mais eu tinha um lugar estratégico que dava uma bela vista da sala de coletivas, então eu não perderia isso por nada.

Terminei de comer e fui correndo escovar os meus dentes, após isso guardei tudo de volta na minha bolsa, a coloquei no meu armário e fui direto em direção a sala de coletiva. Pelo o que eu tinha lido a apresentação começaria em cinco minutos.

Me posicionei na parte de trás da sala, onde tinha uma brecha considerável, que me dava uma visão boa de tudo que aconteceria lá dentro e ninguém poderia me ver ali.

Observei quando o novo técnico entrou, acompanhado de seu filho e assistente, minhas mãos ficaram geladas e meu coração bateu mais forte, mais um novo técnico e eu queria tanto que dessa vez desse certo, não aguentava mais tudo que vinha acontecendo e apesar da vitória anterior, as coisas ainda estavam longe de ficarem normais de novo.

Eu não entendia muito bem o que ele falava, boa parte era em espanhol e apesar de saber o básico, estava difícil de entender devido ao local em que eu estava. Estava tão distraída que não percebi que alguém se aproximava, só me dei conta quando senti tocarem meu braço, me fazendo dar um grande pulo.

— Merda! — Esbravejei, sentindo minha respiração falhar.

Olhei na direção da pessoa e meus olhos ficaram em fúria ao ver Igor parado em minha frente, com um sorriso de deboche no rosto.

— Ouvindo atrás da porta, você não tá muito grandinha pra isso não? — Ele cruzou os braços e me encarou.

— Vai a merda. — Xinguei.

— Olha a educação garota. — Ele falou, ainda com o sorriso de deboche no rosto.

— Você não merece que eu gaste minha educação com você. E não que seja da sua conta, mais eu não estava ouvindo atrás da porta, estava apenas olhando a apresentação do novo técnico do meu time. — Falei o encarando.

— Da no mesmo, mais eu não me importo. — Ele deu de ombros.

— Se não se importa tá fazendo o que aqui ainda? — Ergui uma sobrancelha. — Deveria ir treinar, quem sabe assim faz algo de útil pelo time, jogadorzinho encostado.

— Do que você me chamou? — Ele arregalou os olhos e me encarou.

Só então percebi que havia dado bandeira, tinha xingado ele assim como eu fazia nas mensagens, então resolvi sair dali o mais rápido possível.

— Vai a merda Igor Coronado.

— Vai a merda Igor Coronado

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Co-autora: Flaviia1296

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𝙼𝙰𝙻-𝚀𝚄𝙴𝚁𝙴𝚁 // Igor Coronado Onde histórias criam vida. Descubra agora