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Eu estava no ginásio, arejando as janelas altas enquanto me equilibrava na escada. O sol brilhava forte lá fora, iluminando a quadra e fazendo o suor escorrer pela minha testa.
A luz do dia que entrava pelas janelas abertas trazia uma sensação de frescor, e o som distante do treino dos jogadores me mantinha em uma estranha companhia.
De repente, uma voz alta me tirou dos meus pensamentos. Mas que merda.
Odiava ser interrompida enquanto trabalho, Afinal, o trabalho sempre era estendido e eu ficava mais tempo do que queria aqui. Eu amava o ambiente, pelo menos por fazer do Corinthians, mas limpar esse lugar gigantesco dava trabalho, e as vezes tudo que queria era só minha cama.
— Sabrina! — Raniele gritou, surgindo de repente ao meu lado.
Assustada, perdi o equilíbrio e quase caí da escada. Meu coração disparou quando senti o vazio abaixo de mim, mas, em um reflexo rápido, o jogador segurou-me pela cintura, evitando uma queda feia. Fiquei ali, parada por um momento, tentando controlar a respiração ofegante.
— Meu Deus, Raniele! — Exclamei, tentando me recompor enquanto descia da escada com a ajuda dele. — Você quase me matou de susto!
Ele riu, um pouco nervoso, ainda segurando-me firme para garantir que eu estava bem.
— Desculpa! — Ele disse, com um sorriso meio torto — Não era minha intenção.
Soltei-me das mãos dele, ainda sentindo o coração acelerado, e olhei para o próprio com uma mistura de irritação e alívio.
— O que você quer? Já vou logo avisando, que estou ocupada. — Perguntei, tentando soar menos irritada do que me sentia. Eu gostava do Rani, mas as vezes meu mal humor não tinha rosto e nem corpo, qualquer um na linha, virava alvo.
O corintiano soltou uma risada nervosa e passou a mão pelos cabelos.
— Na verdade, eu queria te convidar para algo.
Arqueei uma sobrancelha, surpresa.
Convidar? Eu? Que? Isso sim me deixou surpresa.
— Convidar para o quê?
— Você sabe que sexta viajamos para BH, não sabe?
— Sei? Mas e daí? Desculpe Rani, mas não vejo onde isso me cabe. — fui sincera.
— O Bidon se machucou, então não viaja consigo. Sobra uma cadeira no ônibus e no avião, estava pensando, que talvez, se você quisersse, poderia vim consigo. Sei que é torcedora roxa do Corinthians, mas não te vejo em quase nenhum jogo.. — Disse ele, com um sorriso animado.
Era claro que nunca estava, nunca sobrava dinheiro. Estar presente na neo química, era um luxo, no qual eu não poderia me dar. Pelo menos não agora.
Franzi a testa, incrédula com o convite.
— Raniele, eu sou apenas uma funcionária aqui. Não posso simplesmente viajar com o time. — Disse, tentando racionalizar a situação. — Isso é no mínimo estranho.
Ele cruzou os braços, determinado.
— Por que não? — Ele insistiu. — Você trabalha duro aqui, merece uma folga e uma chance de ver o Corinthians jogar fora de casa.
Balancei a cabeça, ainda hesitante.
— Parece uma ideia meio esquisita... não queria misturar as coisas. Além disso, meu dinheiro é curto. Eu sempre priorizo pagar as contas e minha faculdade.
Raniele fez uma expressão compreensiva, mas não desistiu.
— Eu entendo, mas essa é uma oportunidade única. A viagem e o ingresso são por minha conta. Eu realmente quero que você vá.
Hesitei. A ideia de assistir ao Corinthians jogar fora de casa era tentadora, algo que eu provavelmente nunca conseguiria pagar sozinha. Sempre sonhei em ver o time jogar em diferentes estádios, mas minha realidade financeira me mantinha com os pés no chão.
— Eu não sei, Rani... — Disse, mordendo o lábio.
— Por favor, Sabrina. — Ele insistiu, com um olhar suplicante. — Vai ser divertido. E, além disso, você merece um descanso.
Suspirei, pesando minhas opções. A tentação era grande e a insistência de Raniele só aumentava meu desejo de aceitar. Ele sempre foi o mais próximo de mim aqui, e parecia realmente querer me ajudar a realizar esse sonho.
— Tá bom. — Disse finalmente, com um sorriso tímido. — Eu aceito.
Raniele sorriu amplamente, satisfeito.
— Ótimo! Você não vai se arrepender, prometo.
Enquanto ele se afastava, senti uma mistura de excitação e apreensão. A viagem poderia ser uma ótima experiência, mas também uma fonte de complicações. Mesmo assim, estava decidida a aproveitar a oportunidade e ver o Corinthians jogar de perto, algo que sempre sonhei fazer.
Eu não conseguia me concentrar em nada, meus livros estavam abertos sob a minha cama e eu precisava estudar bastante porque na semana seguinte eu teria uma prova importante na faculdade. Mais minha cabeça não parava de pensar no convite que Raniele havia me feito, e eu tinha aceitado.
Será que era mesmo uma boa ideia eu ir nesse jogo? Eu amava o Corinthians e ir a um jogo do meu time em outro estado sempre foi meu sonho, mais isso parecia um pouco estranho demais. Eu era apenas a faxineira do clube e mesmo que Raniele tenha boas intenções, eu já imagino a cara do restante do elenco ao me ver indo com eles.
Merda.
Eu devia ter recusado, não podia ficar misturando as coisas, mesmo que fosse uma coisa tão importante pra mim. Ir aos jogos do Corinthians era algo que eu sempre almejei, se pudesse eu estaria em todos, mais minhas condições não me permitiam tão luxo. O dinheiro que eu ganhava trabalhando no clube ajudava a pagar a metade da faculdade e o restante eu usava para as despesas básicas, quase nunca me sobrava dinheiro e quando sobrava eu simplesmente não podia gastar.
Mais por outro lado era apenas um jogo, não tinha nada demais, eu sabia muito bem como me comportar e sabia também separar as coisas, eu só tinha medo de como isso iria sair na mídia. Eu estava vivendo uma mistura de sentimentos, tinha que controlar minha ansiedade, decidi então que iria a essa viagem e aproveitaria o máximo pra torcer pelo meu time, então aproveitei pra voltar a estudar e depois eu me prepararia para o final de semana.
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