Pinta-me Com as Cores do Amor

CAPÍTULO 3

"Eu estive andando em um mundo de mentiras. Mal consigo respirar, seu rosto está nas minhas memórias com esses olhos de oceano."

Billie Eilish- Ocean eyes

Lee Hyunjin

A chuva desce implacável lavando as ruas de Busan. Eu tinha acabado de salvar a garota dos dois pervertidos e estava ofegante com o coração acelerado. Ela está encolhida em um canto do beco, os braços envolvendo os joelhos e o rosto escondido. Eu sei que preciso me aproximar com cautela, afinal, eu também sou um estranho e isso pode assustá-la.

Olho para o cachecol vermelho que tenho em mãos. Tinha sido o último presente que recebi que minha esposa antes dela falecer em um acidente de carro, mas agora está destruído... Está desfeito em dois pedaços. Coloco no bolso do grande casaco que estou usando e volto minha atenção para a garota diante de mim.

Me aproximo dela lentamente tentando parecer o menos ameaçador possível. Meu coração bate rápido, não só pelo que acabou de acontecer, mas pela incerteza de como ela irá reagir.

— Ei... — Eu disse suavemente tentando não assustá-la.

— Você está segura agora. Eles foram embora. — Ela permaneceu imóvel e por um momento pensei que ela nem tinha me ouvido, mas então ela levanta o rosto lentamente. A cena que se revela diante de mim é de partir o coração. Seus olhos azuis, incrivelmente profundos, estão cheios de lágrimas que se misturam com as gotas finas de chuva, cuja intensidade diminuiu quase como se o céu estivesse respeitando o momento.

Seus olhos brilham sob a luz fraca do beco, e por um momento, me sinto perdido neles. É como olhar para o oceano durante uma tempestade: Belo, mas devastador. A combinação de sua vulnerabilidade e beleza me atingiu de uma forma que eu não sei explicar.

Meu coração se apertou e por um instante, eu não sabia o que dizer ou fazer. Seus longos cabelos castanhos estão grudados em sua pele assim como a franja está grudada em sua testa. Sua pele branca apresenta tons de rosa abaixo dos olhos, nas bochechas e no nariz. Seus lábios estão trêmulos e seu olhar é de súplica e profunda tristeza.

Nunca me senti tão impotente como estou me sentindo agora. Talvez se eu tivesse saído daquele maldito bar um pouco mais cedo, se eu não tivesse parado naquela calçada para fumar, talvez se eu não tivesse andado tão lentamente debaixo da chuva, essa mulher não estaria agora desabando diante dos meus olhos. Ela não teria passado por essa experiência traumática .

Abaixo minha cabeça me sentindo impotente, mas então reparo no corte em seu pé . Não é tão profundo, mas poderá infectar se não for cuidado porque afinal, ela está com os pés descalços.

— Você está machucada, deixe-me ajudar — Seu olhar desce até seu pé onde está o corte, mas ela nada diz.

— Preciso te levar para um lugar seguro. Pode ser perigoso ficar aqui. Onde é sua casa?Para onde você quer ir? — Pergunto gentilmente.

— Qualquer lugar longe daqui. —  Sua voz é um sussurro, mas carrega uma intensidade que me faz sentir a profundidade de sua dor.

Vejo um objeto brilhando ao lado dela e quando pego, percebo que é uma bolsa. Presumo que seja dela, então guardo dentro do casaco.

Levanto-me e ofereço minha mão para ajudá-la a se erguer. Ela segura minha mão , mas quando tenta colocar peso no pé machucado, quase cai e eu a seguro imediatamente. Nossos olhares se cruzam por breves segundos, mas a a sensação foi de que o tempo parou . Seus olhos se arregalaram de surpresa e talvez, admiração ? Eu não sei dizer ao certo, pois ela desviou o olhar rapidamente.