Singular - pejão

4: Um Grande Atleta

Pedro Tófani

2 de novembro de 2022

Quando tomei a decisão impulsiva de ajudar Vitor nos treinos não imaginava o quão complicado isso poderia ser, ele havia me avisado, porém naquele momento eu preferi não dar ouvidos. Maldita hora.
Mas como eu iria adivinhar? O seu jeito doce e divertido contrastava totalmente com o pé no saco que ele era no gelo.

— Eu estou fazendo corretamente! Exatamente como você me ordenou, Tófani!

Ele patina até de encontro a barreira de proteção que dividia a arena de mim.

— Se estivesse fazendo o certo eu não estaria lhe dando bronca.

— E se eu estivesse arrando eu não estaria aqui brigando com você.

Me forçando a puxar o ar com força, eu me concentro na ação tentando ao máximo não me irritar com João.

— Vitor... você que me quis aqui, se estou te atrapalhando tanto é melhor que eu vá embora então.

Respirando frustrado ele se desculpa e dá meia volta, recomeçando os seus saltos.

Um dos grandes problemas do patinador, além da sua dificuldade de compreensão no que eu falava, é o seu jeito impulsivo. João não pensava muito no momento que execultava os passos, ou talvez em certo modo pensava demais, só que no mometo errado. A sensação que percorria no meu corpo era que ele poderia até ter técnica mas estava sempre tão norteado a acertar aquele movimento que acaba esquecendo o resto e prejudicando toda a sua coreografia.

— Tenta esquecer esse triplo axel agora, Vitor. Foca nos passos que você já tem um pouco domínio, preciso que você lapide melhor eles para que avance.

Apesar de contrariado e um pouco frustrado, ele concorda.

Tivemos nossa primeira evolução.

❆

As próximas duas horas de treino foram exaustivas, apesar dos seus protestos e inquietudes ele era bom no que fazia.

Certo, eu estava sendo um pouco superficial demais, ele tinha algo diferente, talvez uma áurea meio sobrenatural que me fazia ter foco total em todos os seus movimentos, até mesmo os seguidos por quedas e deslizes. Ele fazia tudo com tanto paixão que parecia ser até um pecado alguém tão fascinante ter tantos problemas no gelo.

Uma parte de mim desejava ter conhecimento João antes, quando eu ainda competia, quem sabe sua paixão pela patinação poderia me impulsionar a decisões diferentes na minha vida. Já que tudo que ele tocava parecia tomado por amor.

Me repreendo por tal pensamento, mas era quase que inevitável não se apaixonar um pouco pela forma que ele levava o esporte.

Agora, sentados na arquibancada, assistíamos algumas crianças patinarem no gelo.

— Sabe... Eu tenho uma dúvida.
Ele me encara inquieto pondo sua mão sobre o queixo coçando a pequena barba que crescia no local.
— Por que não competir... Pelo pouco que eu vi você é muito bom.

Apesar do desconforto eu sabia que em algum momento essa pergunta chegaria a mim.
Dou um pequeno gole no meu café que Vitor havia trazido a pouco tempo pra mim.
Era uma coisa nossa.

— Você é meio direto.

Levantando os ombros ele pisca pra mim.
— Tenho curiosidade na sua vida.

— Eu competia mas acabei me machucando... meu pai também não era muito á favor em eu ser atleta então só contribuiu.

Meus olhos desviam para os seus percebendo um desconforto dominar ele.
— Mas eu lido bem com isso, no fim me encontrei melhor como treinador.