Entrevista com WilliamToriccelli
Viva La Escrita: Nos fale sobre Apáscoalipse.
Will: Apáscoalipse surgiu como uma grande piada inicialmente. Coelhos mutantes gigantes. Era uma ideia empolgante. Tão absurda quanto instigante. Do jeito que eu gosto. Eu estava perdido. Não sabia como dar continuidade ao meu trabalho e quis escrever uma história curta e bobinha antes de seguir em frente. Mas aparentemente eu não me conhecia tão bem. O que era para ser uma coisa simples cresceu até um projeto extenso onde eu evoluí e aprendi muito sobre processo de escrita e desenvolvimento. Acabou não sendo a história que eu queria, mas a que eu precisava para crescer como autor.
Viva La Escrita: Quais são os desafios que Felipe enfrenta ao se adaptar a uma nova casa, escola e ambiente social?
Will: Eu gosto de criar paralelos entre o núcleo humano e o fantástico. Mudar do único lugar que você já chamou de lar para outro tão diferente é dureza. Envolve forçar a mudança em si mesmo para entender os novos desafios, lidar com as novas pessoas e criar laços para sobreviver na nova realidade. Tudo isso pode ser aplicado tanto a uma simples mudança de cidade quanto a uma tragédia apocalíptica que rompe com todo o senso de realidade. Felipe está sempre lidando com a mudança, do mundo, das pessoas à sua volta e principalmente de si mesmo, afinal se não pudesse evoluir, adaptar-se seja no ambiente social novo ou no "fim do mundo" acabaria se perdendo.
Viva La Escrita: Como a amizade entre Felipe e seus novos amigos se desenvolve enquanto eles lutam para sobreviver?
Will: Particularmente, a criação de laços foi divertida de escrever. Cada personagem tem objetivos diferentes e a premissa inicial é que caso esses objetivos se alinhem eles trabalharão juntos. Funcionou por um tempo. Mas humanos são afetivos. Lutar ao lado de alguém, confiar sua vida a esta pessoa leva a uma conexão. Como a maior parte dos personagens são parecidos em suas experiências, é fácil se ver neles e quanto aos que divergem, a necessidade os aproximou, mas o próprio senso de humanidade os tornou uma família.
Viva La Escrita: Quais são as estratégias que Felipe e seus amigos empregam para tentar escapar dos monstros coelhos e da cidade em meio ao caos?
Will: Eu tive muitas ideias diferentes de como lidar com isso ao longo da narrativa e embora eu sinta que falhei em criar uma jornada criativa, creio que foi satisfatório. Diferente de histórias comuns, o grande problema da escassez não é tão retratado. O foco fica mais na parte emocional e violenta. Os dramas de até onde se pode ir com as armas poderosas à disposição ou como usar os poderes incríveis nascendo são basicamente as ferramentas que podem ser usadas. Mas a verdadeira missão é apenas fugir. Dirigir para longe. Correr e se esconder. Ao reconhecer seus limites. Sobra apenas o instinto mais simples. Sobrevier. A qualquer custo.
Viva La Escrita: Quais são os momentos mais desafiadores que Felipe enfrenta ao longo da história para sobreviver ao Apáscoalipse?
Will: São muitos, mas o primeiro que precisa ser citado é o primeiro. A morte violenta da primeira amiga que fez em sua nova vida. Devorada pelo coelho que ela mesma escolheu. A quebra da mente do garoto que aconteceu naquele momento foi o que o assombrou durante toda a história e forçou-o a crescer. Depois, quando aceitou que precisava ser um monstro para derrotar os outros monstros e que tirar vidas, mesmo as poucas que restaram, era necessário para proteger quem importava para si. O dilema moral, a crise existencial cercando sua jornada foram desafios que, mesmo superados, deixaram suas marcas.
Viva La Escrita: O que Felipe aprende sobre si mesmo e sobre a importância da amizade e da família durante essa luta pela sobrevivência?
Will: Ele aprende que é mais forte e capaz do que sempre acreditou. Felipe entende seu papel como protetor, um guerreiro que faz não o fácil, mas o necessário. Ele vai até pontos que nunca imaginou para proteger os seus, pois sabe que tem aliados que o trarão de volta caso se perca. Da pessoa naturalmente desconfiada cuja premissa básica era a desconfiança para alguém disposto a acolher todos que julga como merecedores.Eu nunca tive a intenção de fazer disso "lições". A história muitas vezes usa a hipérbole em resposta à loucura do próprio mundo.
Viva La Escrita: Quais são alguns exemplos de histórias "diferentonas" que você realmente aprecia e como acredita que essas influenciam sua própria escrita?
Will: Eu admito que meu gosto "diferentão" não é tão fora do padrão quanto eu gostaria de admitir, mas acredito que imprimir sua personalidade no seu trabalho é o que um bom autor faz. Eu amo tudo que envolve ficção, mas talvez valha citar meu amado quadrinho "Sandman", a gloriosa saga das "Crônicas do Gelo e Fogo", "Percy Jackson" que atiçou meu gosto pela leitura lá no começo e alguns achados recentes como "Reino Lapidado", "Inquisição da Harpia" e "Clube dos Rejeitados" estes três últimos vindos do próprio Wattpad. De certa forma, uso tudo que posso para me inspirar. Mas essas histórias me trazem uma lembrança de onde eu comecei e/ou de onde quero chegar, o que me dá energia para seguir em frente.
Viva La Escrita: Quais são os elementos que você mais valoriza em uma história ao ler ou escrever? Você prefere focar em personagens complexos, enredos intrincados ou algo mais?
Will: Todas as partes da construção de uma história tem seu valor, mas eu acredito mais em personagens "reais" vivendo em um mundo fantástico. Leitores criam laços com aqueles que vivem em certo universo fictício, uma história pode ter um enredo mais simples e ser incrível se tiver bons personagens. Então sempre procuro me conectar com eles ao iniciar uma história. Da mesma maneira tento criá-los de forma a buscar uma ligação com meu leitores. Falhar nisso torna qualquer obra muito difícil de acompanhar.
Viva La Escrita: Foi um enorme ganho ter você como um avaliador na nossa equipe. Como foi sua experiência sendo um avaliador em ficção científica?
Will: Eu fico lisonjeado, também foi e tem sido uma experiência muito boa integrar o Viva. Minha experiência foi excelente. Eu sinto que aprendi muito. Ao elaborar críticas, sejam elas positivas ou negativas, eu entendi melhor do que nunca a autocrítica. Compreender os processos que dão origem às narrativas, como a construção dos textos ocorre, buscar pontos de melhoria em outras obras me fez olhar para as minhas e onde eu poderia evoluir. Uma experiência enriquecedora a qual me levou a um entendimento muito melhor do meu próprio gênero de escrita e do quão incrivelmente vasto ele é.
Viva La Escrita: Que dicas você daria para escritores de ficção científica iniciantes?
Will: Eu sempre penso em uma coisa, mas não só aos da ficção científica como a todos os autores iniciantes: não tenha medo de ser você e dar voz às ideias malucas. Você pode achar que tem milhares de histórias iguais a sua, porém isso não é verdade. Nenhuma é você fazendo do seu jeito. Não tenha medo de errar ou das críticas. Use tudo que pode para melhorar. No fim, escrever vale a pena, pois é a manifestação dos sonhos que permeiam nossa alma e o que é mais belo que isso?
Viva La Escrita: Quais são seus projetos ou obras para o futuro?
Will: Apesar de ter investido na ficção científica, eu sou cria da fantasia. Pretendo começar uma saga fantástica que dará voz a toda a bizarrice dentro da minha cabeça. De certa forma, essa história é a obra da minha vida e finalmente me sinto pronto para recomeçá-la.
Viva La Escrita: Deixe um recado para seus leitores e seguidores do Viva La Escrita.
Will: Em sua jornada você encontrará desafios. Alguns parecerão impossíveis. Eles vêm como um bloqueio criativo, uma falta de tempo ou apenas a vida que às vezes te afasta de seu sonho, mas nunca se esqueça que cada palavra a qual faz parte do seu universo literário é uma parte de quem é. É sua alma, sua essência manifestada no mundo real e tocando o coração de mais pessoas do que pode contar. Escrever é respirar, é existir, viver. Enquanto souber que isso é uma parte inseparável do seu ser, nunca realmente deixará de ser um escritor, afinal não importa quantas trevas nos cerquem, sempre há, em algum lugar, uma luz para seguir e se encontrar.
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