Entrevista com Kris, avaliadora de Poesia

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Entrevista com Kris nascimento


Viva La Escrita : "Chuva de Sangue" é claramente inspirado no estilo do cinema noir. Quais filmes ou obras específicas te influenciaram mais ao escrever essa história?

Kris : A verdade é que acho que me inspirei mais no estilo em si, num contexto geral, do que em filmes em específico, mas se pudesse citar algo desse cinema que me marcou seria "Laura", de 1944, dirigido por Otto Preminger, que tem uma história realmente interessante girando em torno de uma personagem feminina. Provavelmente foi o que mais me deu vontade de escrever algo como esse conto. "Vertigo", ou "Um Corpo que Cai", de 1958, também é uma boa fonte de inspiração, apesar de eu não o ter revisitado tanto na memória durante a escrita do conto.

Viva La Escrita : A detetive Renata Monteiro é uma personagem central na trama. Pode nos contar mais sobre a construção dela e as suas principais motivações?

Kris : Renata surgiu na minha cabeça como uma mulher não branca desde o começo, isso é fato, e a maioria dos traços de sua personalidade foram trazidos da ideia de uma pessoa que tem conhecimento da área onde trabalha e que, por isso, deixa escapar um certo egocentrismo mesmo que nas estrelinhas, o que é uma característica clássica dos detetives (homens) dos filmes noir. Por isso não é à toa que, além de ser motivada pelo senso de amizade que demonstra desde o início do conto, o que mais a faz seguir em frente é o "ideal do último caso", já que sua reputação está sempre em jogo.

Conforme a trama foi se construindo, tudo acabou se desenrolando naturalmente em relação à personagem, incluindo as coisas que a distingue dos policiais clássicos enquanto uma personagem feminina.

Viva La Escrita : Você mencionou o uso do preto e branco com alto contraste, típico do cinema noir. Como você traduz esses elementos visuais para a literatura?

Kris : Pode ser muito difícil transmitir uma estética tão visual para a escrita, e eu realmente acredito que é, então tentei trazer algo como a sensação de se ver uma imagem em preto e branco contrastada, ou seja, tentei pontuar elementos como o clima e os horários para uma ambientação mais "sombria" e até mesmo trazer o uso de metáforas nas narrações para exibir a dramaticidade e o certo peso que eu pretendia.

Viva La Escrita : Quais são os principais temas que você deseja explorar em "Chuva de Sangue" e que mensagem espera passar aos leitores?

Kris : Mais do que tudo, "Chuva de Sangue" surgiu como uma tentativa de sair um pouco mais da minha zona de conforto (romance, poesia, dramas leves), então me vi mergulhada numa possibilidade de explorar temas mais viscerais como o da investigação de assassinatos, mas sem deixar de lado uma crítica ou outra a elementos como a homofobia e, principalmente, o conto acabou tendo como objetivo representar a figura feminina positivamente.

Quanto à mensagem, gosto de pensar que os leitores podem ter interpretações tão livres quanto o possível, mas também não posso negar que a principal mensagem dele é mostrar uma mulher numa posição tão astuta e corajosa quanto a de Renata, ou seja, empoderamento feminino.

Viva La Escrita : Houve algum desafio particular ao escrever cenas gráficas de crueldade e violência? Como você lida com a linha tênue entre o necessário para a trama e o excesso?

Kris : Acredito que o maior desafio foi de fato em relação a esse necessário e o risco de cair no "glamoroso" exagerado da temática. Pensando muito nesse perigo, tentei me restringir ao que acreditei ser o necessário para fazer o leitor entender que o antagonista era alguém realmente cruel. Tanto no cinema quanto na literatura, é muito importante saber separar a "polêmica" da "representação", então é bom refletir quanto ao que você está escrevendo para mostrar e reconhecer o que está sendo escrito apenas para causar. Foi nisso que foquei para lidar com a situação.

Viva La Escrita : Como a cultura e a história do Brasil influenciam a narrativa de "Chuva de Sangue"?

Kris : Eu realmente gosto de trazer o Brasil e seu jeitinho em tudo que escrevo, não importa a temática, o estilo ou o gênero, então isso é algo que me vem em mente logo no primeiro momento em que me sento e começo a digitar. Em "Chuva de Sangue", particularmente, eu optei por ambientar a narrativa em território nacional porque é um pouco difícil lembrar de obras realmente marcantes da estética noir que se passam na América do Sul e, então, no Brasil.

Talvez seja difícil pescar todas as referências no meu conto, eu reconheço, mas fui influenciada pela cultura e a história desde o momento da escolha do nome e das descrições físicas dos personagens (e a diversidade delas) e da construção da playlist que ouvi enquanto escrevia até o instante em que decidi, por exemplo, escolher o modelo da motocicleta e da arma presentes na história (estes sendo um veículo que tinha presença no Brasil dos anos 70 e uma pistola fabricada pela Imbel, empresa nacional, nos anos 80).

Viva La Escrita : Você tem planos para continuar a história de Renata Monteiro ou explorar outros casos no mesmo universo?

Kris : Penso constantemente sobre a possibilidade de algo assim. Em determinado momento do conto era citado o "caso das três irmãs" numa versão antiga, por exemplo, mas acabei removendo por ser uma informação solta demais no contexto em que estava. Se meu conto tiver uma boa repercussão em algum momento, eu poderia facilmente desenvolver tanto casos passados como esse quanto uma última aventura para a detetive Monteiro a partir do personagem que tenta conversar com ela nos momentos finais de "Chuva de Sangue".

Viva La Escrita : Quanta pesquisa foi necessária para recriar a atmosfera e a época do Brasil antigo? Pode compartilhar alguns detalhes interessantes que descobriu durante essa fase?

Kris : Admito que acabei não pesquisando tanto assim em alguns aspectos por já ter um certo conhecimento dos aspectos que eu mais queria trazer, mas eu sempre mergulho fundo na internet procurando elementos que enriqueçam minha obra. A pistola usada pela detetive, por exemplo, começou como apenas uma busca por uma arma de fogo fabricada nacionalmente e terminou caindo perfeitamente com a personagem por ser um armamento confiável e poderoso, versátil e que serve para defesa pessoal, já que Renata trabalha por si mesma e não costuma usar armas de fogo com frequência.

Viva La Escrita : Quais seus projetos ou obras para o futuro?

Kris : Tenho mais alguns contos e histórias mais curtas precisando de revisão antes de serem postados assim como tenho capítulos de uma história mais extensa que vem sendo publicada há um tempo. Não posso entrar em muitos detalhes porque não quero fazer grandes promessas, mas depois de me aventurar no gênero policial, posso dizer que também pretendo me aventurar em outros gêneros como ficção-científica, romance mais adulto e terror em breve.

Viva La Escrita : Deixe um recado para seus leitores e seguidores do Viva La Escrita.

Kris : Uma coisa que tenho aprendido nos últimos tempos e que realmente levo como uma lição valiosa é: vale a pena se arriscar. Se arriscar a escrever o que conhece, a digitar palavras num gênero literário pouco explorado por si, a se inscrever num concurso mesmo sem muitas expectativas, em publicar uma obra sem saber se ela vai receber a atenção que você gostaria... Esse tipo de atitude apenas vale a pena em boa parte das vezes. Eu, em particular, sou muito feliz por ter me arriscado e, por fim, sou muitíssimo grata por todos aqueles que leem minhas palavras, seja lá onde ou quando for, como avaliadores de concursos ou leitores casuais. Saber que tem alguém por aí consumindo os meus universos é o que me faz ter vontade de arriscar de novo.

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