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Capítulo Sete

Lan Zhan
Papai está atrás de sua mesa, como sempre. Cada dia que o vejo, ele parece ter piorado. Odeio pensar no dia em que ele não estará mais aqui. Me apoiei nele durante toda a minha vida. Com sorte, estarei pronto para liderar quando chegar a hora, mas não saberei até que esse dia horrível chegue.
Apesar de sua fragilidade, meu pai se levanta para cumprimentar Wuxian e eu. Ele aperta a mão de Wuxian e diz: —quer sentar em frente ao fogo. É mais confortável. — Ele se move lentamente até a cadeira fofa mais próxima da lareira. Ele está sempre com frio ultimamente e provavelmente não quer que Wuxian o veja tremendo. Meu pai odeia demonstrar qualquer sinal de fraqueza.
Wuxian o segue, parecendo incerto. Ele parece não ter ideia de onde deveria se sentar. Coloco minha mão em suas costas para guiá-lo e sinto seus músculos tensos. Seu doce perfume enche minhas narinas e, por um momento, sou distraído pelo calor de seu corpo e pelo cheiro dele.
Sacudindo aquela névoa irritante, eu o conduzo para uma cadeira em frente ao meu pai e ao meu lado. Sentamos e ficamos de frente para papai, esperando que ele comece a conversa. Ele estuda Wuxian, parecendo pensativo.
—Você está grávido, — meu pai diz sem rodeios.
As bochechas de Wuxian ficam rosadas. —Sim. Isso é um problema?
Meu pai encontra meu olhar e pergunta: —Isso é um problema para você, filho?
—Não. Ele não vai mantê-lo.
Papai franze a testa.
—Não? Por que não?
Wuxian se mexe inquieto, me lançando um olhar cauteloso. —Eu preferiria não dizer.
Papai ri. —Já guarda segredos de Lan Zhan?
—É pessoal, — diz Wuxian. —É problema meu e de mais ninguém.
Wuxian está obviamente nervoso por conhecer meu pai, mas tenho que respeitar que ele fala o que pensa. Mais uma vez, algo se agita dentro de mim enquanto o observo. Estou quase... orgulhoso dele. Que sentido isso faz?
—Como eu disse, não me importo que ele esteja grávido, — digo. —Além disso, a gravidez o deixou mais desesperado, o que por sua vez o tornou mais fácil de manipular.
Wuxian faz uma careta para mim. —Você vai dizer isso em voz alta? Bem na minha frente?
—Se ele ficasse com o bebê, isso poderia complicar as coisas. — O tom de papai é prático.
—Eu não vou ficar com ele, — Wuxian interrompe.
—Como isso complicaria as coisas? — Eu pergunto ao meu pai.
—A criança seria o primogênito, caso você tivesse outros.
Wuxian irrita: —Não pretendo ter outros bebês com seu filho. Não foi para isso que me inscrevi. — Ele franze a testa. —Além disso, como eu disse, não vou ficar com ele.Me dirijo ao Papai. —A criança não teria sangue dos Lans. Eu não estou preocupado. Minha linhagem substituiria a daquela criança.
Wuxian ri sem humor. —É como se eu nem estivesse aqui.
Meu pai olha para Wuxian. —Você tem muitas opiniões.
—Você quer dizer para um ômega? — Wuxian se irrita.
Papai ri rispidamente.
—Não. Quero dizer, para uma pessoa sentada com o líder dos Black Knives.
—Oh. — As bochechas de Wuxian estão rosadas novamente. —Não quis ser desrespeitoso.
—Bom. — Papai estuda Wuxian. —Não gosto quando as pessoas me desrespeitam. Posso estar doente, mas garanto-lhe que ainda posso ser bastante perigoso para a sua saúde.
Wuxian engole em voz alta, mas não diz nada.
Papai limpa a garganta.
—Presumo que você apresentou Wuxian à sua mãe e ao seu irmão?
—Sim. — Eu torço meus lábios. —A mamãe parecia gostar dele. Xichen  gosta da ideia de ter alguém com quem se unir contra mim.
Papai ri. —Sim, Xichen  adora implicar com você.
Meus lábios se contraem. —É mútuo.
Wuxian olha para mim como se estivesse surpreso com a diversão em minha voz. Ele provavelmente pensa que sou um monstro porque tudo que fiz foi ameaçá-lo desde que nos conhecemos. Principalmente eu sou um monstro. O trabalho exige isso. Mas também tenho meu lado bom. Talvez, quando nos casarmos, eu o deixe ver meu lado mais gentil. Talvez.
—O que você acha de tudo isso, Wuxian? — Pergunta papai.
—É um pouco opressor, — admite Wuxian.
Papai franze a testa. —Você não está tendo dúvidas, está?
Wuxian balança a cabeça. —Não.
—Bom. — Meu pai encolhe os ombros ossudos. —Eu estou correndo contra o tempo.
—Sinto muito, — diz Wuxian calmamente.
Papai olha para o fogo bruxuleante, o brilho laranja das chamas refletindo em suas feições magras. —Eu vivi uma vida boa. Estou preocupado com aqueles que deixo para trás, não comigo.
O telefone na mesa do papai toca e eu me levanto. —Devo responder isso?
—Não. Tenho certeza que é Zhuliu  ligando. Ele tem me perseguido todos os dias nessa hora. — Meu pai passa a mão pelo rosto pálido. —Ele ainda não sabe que você encontrou seu ômega, Lan Zhan. Ele ainda acha que assumirá o papel quando eu partir. — Lan Qiren sorri de repente e parece um esqueleto divertido. —Ele vai se cagar quando descobrir sobre você, Wuxian.
Wuxian parece alarmado. —Você quer dizer que ele vai ficar com raiva?
Eu gargalho. —Isso é para dizer o mínimo. Ele vai querer sangue.
Piscando para mim, a cor desaparece do rosto de Wuxian. —Ele tentará me machucar?
Algo sombrio e feio surge dentro de mim ao som do medo em sua voz. —É melhor que ele não tente, porra.
Tanto Wuxian quanto meu pai pareceram surpresos com a veemência em minha voz. Me sento novamente e ajeito meu paletó. —Seria um desrespeito ele vir até o meu ômega. O mínimo que ele pode fazer é vir atrás de mim como um homem.
Papai assente. —Sim.
Os dedos delgados de Wuxian agarram o braço da cadeira. —Zhuliu  ganharia alguma coisa se... me machucasse?
Meu pai estuda Wuxian, sua expressão pensativa.
—É mais que machucar ou matar você faria Lan Zhan parecer fraco. Se Zhuliu  conseguir chegar até você, isso deixaria Lan Zhan de joelhos. A partir daí, Zhuliu  provavelmente conseguiria alguns homens ao seu lado.
Wuxian faz uma careta. —Eu acho que eles ficariam furiosos porque alguém tentou machucar a família de Lan Zhan.
—A maioria deles ficaria, mas haveria aqueles que veriam isso como sendo fraco. — Papai suspira.
—Não estamos falando de homens terrivelmente intelectuais, Wuxian. Estes são pit bulls que seguem ordens. Eles obedecerão ao cachorro mais malvado. É assim que eles são feitos.
Wuxian me surpreende quando se vira na cadeira e diz: —Então é melhor você ser o cachorro mais malvado, Lan Zhan. Não concordei com esse casamento maluco para acabar assassinado. Esse seria o meu destino se eu não concordasse. Já que te dei o que você queria, espero viver uma vida longa e feliz.Papai ri. —Diga a ele, garoto.
A irritação me arrepia. Por que minha família parece tão divertida com a insolência de Wuxian comigo? —Não se preocupe. Se alguém cortar sua garganta, não será Zhuliu . Serei eu porque você é tão impertinente.
—Muito engraçado, — murmura Wuxian.
—Ninguém vai tocar em você, Wuxian. — Papai me lança um olhar aguçado. —É trabalho do meu filho mantê-lo seguro. Tenho certeza que ele fará exatamente isso.
—Espero que sim. — Wuxian não parece convencido.
—Então, me conte sobre você, Wuxian. — Papai muda de posição como se estivesse com dor.
Fazendo uma careta, Wuxian diz: —Não há muito o que contar.
—Alguma família viva?
Wuxian baixa o olhar e sua boca fica tensa. —Eu não tenho certeza. Não vejo meus pais desde os dezesseis anos.
Eu investiguei o passado de Wuxian. Era necessário se eu quisesse trazê-lo para minha casa. Eu precisava ter certeza de que ele nunca havia trabalhado para nenhum dos outros sindicatos. Eu sei que ele não tem irmãos. Também sei que seu pai e sua mãe estão mortos. Ambos morreram por causa das drogas em momentos diferentes.
—Você quer saber sobre eles? — Eu pergunto.
Wuxian encontra meu olhar. —O que?
—Você gostaria de saber se seus pais estão vivos ou mortos?
Seu rosto se contorce e seus olhos escurecem.
—Não. Não tem importância para mim se eles estão vivos ou não.
Papai grunhe.
—Interessante. Família é tudo para Lan.
Mantendo o olhar no chão, Wuxian diz: —Meu pai era doador de esperma e minha mãe incubadora. Foi aí que nosso relacionamento começou e terminou.
—Mesmo assim, eles lhe deram vida, — diz papai.
—Sem eles, você nem estaria aqui.
Olhando para cima, Wuxian dá de ombros. —Ah bem.
Meu pai aponta para a barriga de Wuxian. —E o bebê que você carrega? Você é apenas uma incubadora para isso? O pai era apenas um doador de esperma?
Wuxian fica muito imóvel e sua respiração é irregular. —Não quero pensar neste bebê ou no pai. Eu só quero que os dois vão embora.
Suas palavras são duras, mas percebi que cada vez que ele fala sobre o feto, ele toca a barriga num movimento quase protetor. Observei isso diversas vezes nos últimos dias. Eu o estudo, me perguntando se, apesar de suas palavras, ele poderia estar em conflito sobre interromper a gravidez. Ele amava o alfa que o engravidou? Pensar nisso faz meu estômago embrulhar. Não sei por que, mas não gosto da ideia de que ele possa ter amado aquele outro alfa.
Papai grunhe. —Se você está tão infeliz com a gravidez, por que ainda está grávido?
—Eu não tinha dinheiro para fazer um aborto. Eu estava economizando, mas… perdi meu emprego.
—Entendo. — Papai esfrega o queixo. —Você já foi reivindicado antes?
Wuxian arregala os olhos. —Não.
—Me deixe ver seu pescoço. — Papai se inclina para frente.
Um rubor vermelho percorre o pescoço de Wuxian até seu rosto.
—Você não acredita na minha palavra?
—Não. Francamente, eu não. — Papai dá de ombros. —Se você já foi reivindicado antes, isso pode ser um problema para nós. Lan Zhan não pode se casar com um ômega que tenha a mordida de outro alfa. Me mostre sua garganta.
Fico confuso ao me sentir irritado com o tom de meu pai. Seu comportamento agressivo me faz sentir protetor em relação a Wuxian. Ou estou confundindo constrangimento com outra coisa? Eu deixei passar ao não verificar se Wuxian tinha sido mordido por outro alfa no pescoço. Por alguma razão, nem me ocorreu que deveria verificar isso. Eu estava muito ocupado perseguindo Wuxian. Eu parecia estar numa espécie de frenesi para fazê-lo fazer o que eu queria. Eu precisava que ele se submetesse a mim.
—Isso é mesmo necessário? — Wuxian pergunta, parecendo irritado. —Não sou uma égua que você comprou em leilão.
—Basta fazer o que meu pai pede, — digo rispidamente.
Wuxian hesita e então abre a gola da camisa. Papai o examina de onde ele está sentado. Eu também examino a garganta de Wuxian. A visão de seu pescoço pálido e esbelto faz coisas estranhas comigo. Minha boca saliva e me lembro do sonho que tive onde Wuxian implorava pela minha mordida. O calor percorre meu corpo e cerro os dentes. A necessidade corre pelas minhas veias e tiro o olhar de sua garganta.
—Eu não vejo nada, — eu digo com voz rouca. —Não há marca de mordida.
Papai se recosta, balançando a cabeça.
—Sim. Parece que não existe. Bom. Então as coisas podem prosseguir conforme planejado.
Wuxian fecha o colarinho e sua boca forma uma linha sombria. Tenho certeza que ele está insultado. Posso sentir seu ressentimento irradiando. Mas quanto antes ele se acostumar com o jeito que as coisas são por aqui, melhor. Ele pode não gostar da maneira como papai falou com ele, mas não tem escolha senão aceitá-lo. Tenho certeza que ele sabe disso.
—Agende o casamento o mais rápido possível, — meu pai diz rispidamente. —Vocês dois podem ir. Tenho muito trabalho para terminar.
Ele está tentando esconder, mas sei perfeitamente que meu pai quer que Wuxian saia da sala porque ele está se sentindo fraco. Não há nenhuma maneira no inferno que ele deixe alguém além da mamãe vê-lo fraco. Além de sua médica, ela é a única que ele permite cuidar dele.Eu sei. —Vamos, Wuxian. Vou lhe mostrar o terreno.
Wuxian levanta as sobrancelhas.
—Realmente?
—Claro. Tenho um pouco de tempo livre hoje, — murmuro. —Se você vai morar aqui, deveria pelo menos conhecer o lugar.
—Isso é ótimo, — Wuxian diz suavemente, parecendo feliz. —Estou morrendo de vontade de explorar.
—Agora é sua chance. — Fico impressionado com o quanto seu óbvio deleite me dá prazer. Não tenho ideia de por que isso me afetaria de qualquer maneira.
Papai nos observa, avaliando sua expressão. —Boa ideia, Lan Zhan. Ar fresco e exercícios serão bons para Wuxian.
Wuxian se levanta. —Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Lan. — Duvido muito que tenha sido tão agradável para ele, mas pelo menos ele está fazendo a coisa certa ao mostrar respeito ao papai.
—Estou feliz que Lan Zhan encontrou você a tempo. — A resposta do papai é menos lisonjeira, mas certamente honesta.
Encontro o olhar do papai. —Me ligue se precisar de alguma coisa.
—Claro. — Papai assente.
Wuxian fica de lado, esperando que eu saia da sala. Estou feliz que ele faça isso. Isso mostra respeito. Estou aliviado por seus instintos serem principalmente se comportar de forma submissa na frente do meu pai. Ao sairmos do escritório, mais uma vez coloquei a mão na coluna de Wuxian para conduzi-lo em direção à porta da frente. Fico satisfeito quando desta vez ele não parece enrijecer com meu toque.Saímos e descemos degraus de pedra até a frente da casa. —Por aqui, — eu digo, o levando para os fundos da ampla casa.
À nossa esquerda, a folhagem verde-prateada das plantas de lavanda dança na brisa suave, suas flores roxas lançando um brilho etéreo. O ar está repleto de seu perfume inebriante, evocando uma sensação de tranquilidade enquanto caminhamos pelo caminho sinuoso nos fundos da casa.
—É bom estar ao ar livre. — Wuxian inala o ar fresco.
—Achei que você gostaria de fugir por um tempo.
—Eu não achei que você se importaria comigo me divertindo.
Eu dou de ombros. —Não há nada mais irritante do que um ômega infeliz.
Wuxian balança a cabeça. —Mataria você dizer algo bom para mim?
—Eu não gostaria de arriscar. — Fico surpreso quando ele ri. Eu gosto do som disso. É rouco e rico. —Por aqui, Wuxian.
—Bem atrás de você.
A parte de trás da nossa propriedade se transforma em uma floresta densa. É como se fosse outro mundo quando você entra naquela parede de árvores. Eu adorava brincar de esconde-esconde quando criança naquele país das maravilhas mágico nos fundos da casa. Nunca levei ninguém para a floresta. Eu mesmo raramente o visito mais. Mas o instinto me diz que Wuxian pode gostar disso.
Conduzo Wuxian pelos sicômoros da Califórnia com sua casca manchada e folhas douradas. O sol brilha através das árvores altas, lançando sombras salpicadas no caminho sinuoso. Há também carvalhos costeiros crescendo na floresta, com seus galhos nodosos se estendendo amplamente. O som da água escorrendo vem do riacho próximo que atravessa a propriedade.
—Na primavera há muitas papoulas e rododendros. — Aceno minha mão em direção à área perto do riacho. —Os tremoços roxos adoram brotar na beira da água. Há até alguns arbustos de amora aqui em algum lugar.
Wuxian para de andar. —Eu não teria pensado que você soubesse o que eram essas plantas.
Eu franzo a testa. —Por que não?
Ele gagueja: —Porque você... você é um mafioso.
—Então? E isso significa que não posso amar a natureza?
Ele ri. —Mais ou menos. Sim. Não combina.
—Bem, eu não sei o que te dizer. Eu adorava jardinagem quando era criança. Minha mãe me arrastava para o jardim e plantávamos um monte de petúnias ou o que quer que ela conseguisse. — Eu esfrego meu queixo. —É desnecessário dizer que não tenho muito tempo para isso agora. Mas ainda gosto de voltar aqui de vez em quando e dar um passeio.
Ele me observa como se nunca tivesse me visto antes. —Isso é tão surpreendente, — ele murmura.
Franzindo a sobrancelha, digo: — Ninguém é apenas uma coisa, Wuxian. Incluindo você.
—Não sei se isso é verdade. Eu sou o que você vê. — Seus olhos são azuis profundos sob esta luz.
Eu franzo a testa. —Você está dizendo que não tem segredos?
Sua bochecha se contrai. —Não realmente.
—Então me diga quem é o pai do seu bebê.
Uma linha aparece entre suas sobrancelhas claras. —Com o que você se importa?
—Eu não me importo. Mas é você quem está dizendo que não tem segredos. Você tem um grande segredo e ele cresce a cada dia. — Eu sorrio, olhando para sua barriga.
—Muito engraçado.
Mais uma vez, noto que ele toca a barriga de forma protetora. —Eu não acho que você realmente queira se livrar daquele bebê.
Seus olhos piscam. —Você está errado.
—Eu não acho que estou.
—Não finja que você me conhece, Lan Zhan. — Sua voz é cortante.
—Eu sei muitas coisas sobre você.
—Você conhece coisas superficiais que as pessoas podem ver de fora se se preocuparem em olhar. Mas o que você não sabe é meu coração. Você não sabe o que é importante para mim e o que não é. Este bebê não importa para mim.
Não me incomodo em discutir, mas também não acredito nele. Meu palpite é que ele não quer se preocupar com o bebê. Mas ele é um ômega e é instintivo para ele querer proteger qualquer criança que esteja carregando. Mesmo que ele odiasse o pai.
Ele vai colher uma rosa amarela de um arbusto próximo. Suspeito que ele esteja tentando se distrair da conversa. Ele sibila quando seu dedo é picado por um espinho. Ele deixa cair a flor e suga a gota de sangue vermelho-rubi, sustentando meu olhar e parecendo envergonhado.
Eu me curvo e pego a rosa. Eu o giro entre os dedos, observando enquanto ele chupa a ponta do dedo. Pensamentos dele chupando outras coisas vêm à minha mente e meu estômago se aperta de luxúria. Mantemos o olhar um do outro, e eu me inclino para frente e coloco o caule da flor atrás da orelha dele. Ele franze a testa, mas eu sorrio.
—Combina com você.
—Você está zombando de mim de novo.
—Não. — A brisa sopra por entre as árvores e eu inalo seu perfume de mel. Outros caras podem parecer bobos com uma flor enfiada atrás da orelha, mas de alguma forma isso deixa Wuxian ainda mais bonito de se olhar. Me ocorre que gostaria de beijá-lo. Minha boca saliva só de pensar.
Ele deve ver algo em meus olhos porque dá um passo para trás. —Devíamos voltar.
—Por que? Você não está gostando da minha companhia? — Eu adoraria tocá-lo. Eu adoraria puxá-lo contra mim e provar sua boca carnuda. Posso sentir seu desconforto, e isso quase me faz desejá-lo mais.
Ele olha ao redor e sei que não tem ideia de que direção seguir. Não há um caminho claro que leve de volta à casa. Conheço o caminho porque venho a esta floresta há décadas, mas se ele tentasse encontrar a saída, provavelmente se perderia. Ele precisa que eu o tire daqui. Ele depende de mim. Eu adoraria usar isso a meu favor e arrancar um beijo dele. Ou talvez mais.
Ponha-se no ritmo.
Por mais que eu queira atacá-lo, não quero fazer nada que possa assustá-lo. Eu ainda preciso dele. Ainda não somos casados. Não posso brincar com ele tão cedo. Eu preciso desse casamento. Certamente não quero começar do zero em busca de outro ômega. Não há tempo. Papai está muito frágil. Então, por enquanto, devo agir com cuidado com Wuxian.
—Por aqui. Se você já andou o suficiente, me siga. — Sigo na direção que nos levará até a casa. Ele hesita, mas depois segue. Ouço o estalar dos galhos sob seus pés e seus arquejos agudos.
Um dia destes, eu o terei. Eu vou criá-lo. Pensar nisso deixa meu pau duro. Isso vai acontecer. Talvez não estivesse no nosso acordo original, mas não me importo. Em breve, quando ele confiar em mim, sentirei o gosto do sangue de Wuxian em minha língua enquanto lhe der um nó. Assim como no meu sonho, ele implorará pela minha mordida.
Mas por enquanto, vou me comportar.
.....

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