Alice Macedo
Olhei nervosamente ao redor, tentando captar qualquer indício de suas presenças no quarto. No meu canto direito, sentado em uma poltrona, Daniel estava com os braços apoiados nos joelhos, segurando um copo de cristal com um líquido amarelado. Seu rosto estava parcialmente obscurecido pela penumbra, mas eu sentia seu olhar fixo em mim, queimando minha pele. O silêncio que emanava dele era perturbador, uma quietude que fazia meu coração bater mais rápido, pois sabia que era o prelúdio de algo terrível.
Júlio estava à minha frente, andando de um lado para o outro. A raiva emanava de sua figura inquieta, chegando até mim como uma força invisível. Permaneci imóvel no chão, exatamente onde ele havia me deixado. Ainda sentia o peso da sua mão no meu rosto, e tinha certeza de que meu lábio estava cortado, mas não tive coragem de tocar. Temia que qualquer movimento meu despertasse ainda mais a fúria raivosa deles.
Eu havia tentado escapar e falhei miseravelmente. Seus homens me interceptaram antes mesmo que eu conseguisse sair da cidade. Fui jogada dentro de um carro e, quando percebi, já estava de volta a este lugar. A mansão gigantesca, cujas paredes luxuosas tentavam esconder o horror e a violência que ali residiam. Minha gaiola dourada era manchada de sangue.
Júlio me tirou bruscamente de dentro do carro, sem se importar com meus tropeços, e me arrastou pelos cabelos até o quarto. Nosso quarto, eles dizem. Eu já estava chorando copiosamente, o que parecia irritá-lo ainda mais. Senti meu rosto arder com a força do tapa que me derrubou no chão. Ele se abaixou até a minha altura, segurando firmemente meu queixo, forçando-me a encontrar seu olhar. Seu maxilar trincado e a respiração pesada deixavam claro seu estado de espírito. Ele estava furioso. Seus olhos percorreram minha boca, notando o machucado recente. Não havia arrependimento em seu olhar, apenas uma fria indiferença que fazia meu coração gelar.
Ele continuava com sua feição raivosa sobre mim. Percebi o exato momento em que a determinação cruzou seu olhar, e um arrepio gelado percorreu minha espinha. Minha sentença estava sendo traçada ali. Não havia limites para o que sua mente deturpada podia conceber. Nada foi dito. No meu caso, por causa do medo. No dele, por pura raiva.
O momento foi interrompido pelo barulho de passos pelo cômodo e o tintilar de vidros. Júlio soltou meu queixo bruscamente e se afastou. Respirei fundo, tentando controlar o choro. Apoiei minha mão no chão, ficando de joelhos. Minhas pernas estavam como gelatina. Mantive minha cabeça baixa, com o coração a mil por hora. Como sempre, muitos sentimentos me sufocavam quando estava com eles. Mas havia um que dominava todos, tomando o controle do meu corpo e mente: o medo. O medo que eu sentia deles era algo que nunca imaginei poder sentir. Me fazia querer encolher em um canto escuro e chorar até perder a consciência.
As marcas pelo meu corpo eram provas vivas do que eles eram capazes de fazer. Mas nenhuma das marcas físicas se comparavam às que estavam gravadas na minha mente, cravadas profundamente na minha memória. Daniel e Júlio me mostraram o verdadeiro significado do medo.
O quarto estava mergulhado em uma penumbra opressiva quando a voz grave de Daniel ecoou, cortando o silêncio.
- Acho que subestimamos você, não é, Alice? - disse ele, dando um passo à frente, seus olhos brilhando com uma fúria contida.
Eu me encolhi, abraçando meu próprio corpo.
- Achei que a sua última lição tinha sido um recado claro o suficiente. Mas vejo que me enganei - ele completou, sua voz fria e insensível.
Ele se levantou, e o som do copo sendo colocado na mesa me fez olhar nessa direção. Mesmo assim, não consegui erguer o olhar. Senti sua presença se aproximando, sua mão quente no meu pescoço, me puxando em sua direção. Instintivamente, coloquei minhas mãos sobre as suas, mas seu aperto não era forte; pelo contrário, parecia quase gentil. Isso não me acalmava em nada. Daniel sempre gostava de desfilar palavras e gestos doces antes de me submeter ao inferno.
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Os irmãos Savóia
General FictionAlice Macedo, uma talentosa e criativa joalheira, vive uma vida tranquila dedicando-se à sua paixão: criar joias deslumbrantes e únicas. Sua rotina pacífica, no entanto, é abalada quando ela se torna alvo da perigosa obsessão de Daniel e Júlio Savoi...