Capítulo 11

1.1K 104 21
                                    


Júlio Savoia

Eu olho, hipnotizado, para a cena que se desenrola à minha frente. Hoje é o dia do casamento da minha irmã. Estamos em um dos quartos do local onde a cerimônia será realizada. Neste exato momento, vejo Alice ajudando Sofia a se preparar. Há uma intimidade visível entre as duas. Alice sorri de leve enquanto ajusta os brincos da minha irmã.

A cena é um bálsamo para aliviar o estresse e a tensão do meu corpo.

Os russos têm nos causado uma verdadeira dor de cabeça e entre isso e a preparação para a segurança do casamento, todo o tempo restante tem sido dedicado a Alice.

Depois da conversa que eu e Daniel tivemos temos tentado mudar as coisas, agir diferente...

Criamos um ateliê para que ela pudesse voltar a trabalhar nas suas joias, um espaço só dela. Eu me sentia como um adolescente desajeitado, perdido nos próprios hormônios, escolhendo cada detalhe com cuidado quase patético. Passava horas encarando catálogos de móveis, enquanto, ao mesmo tempo, coordenava as novas rotas para a distribuição das drogas.

No entanto, a reação de Alice não foi a que esperávamos. Ela aceitou o ateliê, sim, e passa horas lá dentro. Pelas câmeras, a vemos desenhando, criando, mergulhada em suas peças. Mas a loja? Nada. Nem uma pergunta. Nem uma tentativa. É como se aquele pedaço da vida dela tivesse deixado de existir.

Tentamos tudo. Jantares elaborados, noites de cinema planejadas com perfeição, presentes caros que pareciam gritar nosso desejo de reconquistá-la. Mas nada disso a tocava de verdade. Alice responde às nossas perguntas com precisão mecânica, interage quando pressionada, e se entrega ao prazer na cama. Mas é só isso. Ela não inicia, não cria, não nos alcança.

Apenas reage.

E quanto mais tentamos, mais altos parecem os muros que ela ergue ao nosso redor. A cada dia, sinto como se algo dentro de mim estivesse se corroendo...rasgando minhas entranhas. É uma frustração tão densa que quase consigo tocá-la. Meu autocontrole, antes tão firme, se desfaz lentamente. E Daniel? Ele finge melhor, mas eu o conheço bem demais. As horas intermináveis na academia, os copos de bebida extras... ele também está se desgastando, sendo consumido aos poucos.

Eu sei, racionalmente, que não poderia ser diferente. Alice viu o pior de nós, rápido demais. Nossa obsessão por ela foi instantânea, um incêndio que devorou tudo desde o momento em que a conhecemos. Ela presenciou nossa violência, nossa intensidade brutal, e agora estamos pagando o preço.

Mas o lado irracional? Esse lado não se importa. Ele quer controle absoluto sobre ela. Quer arrastá-la até onde for necessário, até que ela finalmente nos aceite. Não importa o quanto custe. Não importa o quanto doa.

— Júlio. — A voz de Sofia me trouxe de volta à realidade. Ela me olhava pelo reflexo do espelho, e meu olhar foi automaticamente para Alice. O sorriso dela diminuiu levemente, e seu olhar encontrou o meu com aquela expressão de aceitação fingida que já me era familiar.

Caminhei até elas, desta vez olhando para minha irmã e esboçando um pequeno sorriso.
— Tudo pronto? Seu noivo está prestes a cometer um assassinato. Você está atrasada.

O rosto de Sofia se contorceu, como se não soubesse se encarava o comentário como um elogio ou com preocupação.
— Já está tudo pronto, só falta o véu — respondeu Alice com sua voz suave, interrompendo a reação cômica de Sofia.

Alice foi até uma mesa próxima, abriu uma caixa preta e retirou o véu de dentro. Enquanto ela ajustava a peça em Sofia, minha mente não conseguia evitar imaginar como Alice ficaria vestida de noiva. Reprimi o pensamento imediatamente, sem querer lidar com uma ereção no casamento da minha irmã caçula.

Os irmãos SavóiaWhere stories live. Discover now