Capítulo 6

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Alice Macedo

Eu soube que o que via não era o presente assim que me vi no meu apartamento no centro da cidade, tomando vinho e ouvindo música enquanto preparava o jantar. Era como se eu estivesse fora de mim mesma, observando de longe.

Mesmo sabendo que aquela cena diante de mim era apenas uma lembrança, eu não conseguia desviar os olhos daquela Alice. Aquela Alice também tinha problemas, medos e responsabilidades, mas, acima de tudo, ela era livre.

Eu já havia vivido aquele dia e sabia exatamente tudo que iria acontecer. Queria gritar, avisá-la para correr e se esconder. Mas nada saiu. Não tinha voz.

...

Decidi tomar um banho antes do jantar. Deixei a comida pronta e fui para o banheiro. Tomei um banho tranquilo, relaxante, e, como de costume, passei meu hidratante. Vesti meu conjunto de dormir preferido, uma camisa de alças finas e um short confortável, e caminhei faminta até a cozinha. Ao sair do corredor, a cena diante de mim me fez soltar um grito assustado.

Júlio e Daniel Savoia estavam na minha cozinha.

Daniel estava sentado em uma das banquetas, tomando o vinho da minha taça. Júlio, por sua vez, comia o meu macarrão diretamente da panela, bastante interessado.

— Alice — disse Daniel, sua voz grave e aveludada.

— Hmmm — murmurou Júlio, gesticulando para o macarrão com o garfo. — Sua macarronada está divina — disse, com um sorriso no rosto.

Eu não consegui dizer nada, completamente desnorteada. Desde o dia em que foram até a loja com a irmã, os dois me cercavam por todos os lados, sempre aparecendo nos lugares em que eu estava. Daniel, com seu olhar penetrante e postura silenciosa, e Júlio, com seus sorrisos e uma lábia em que eu sabia que não podia confiar.

Eles nunca haviam sido diretos. Até hoje. Eu estava no meu escritório quando Samanta, minha secretária, anunciou que havia um cliente querendo falar comigo. Quando Júlio Savoia cruzou a porta com seu típico sorriso, meus instintos se alarmaram, e algo no fundo da minha mente gritava que algo estava errado.

— Boa tarde, Alice. — Ele entrou no escritório com o típico sorriso no rosto, parecendo completamente à vontade. — Sempre é um prazer te ver.

— Senhor Savoia, a que devo sua visita? — disse educadamente. Ou pelo menos achei que tinha sido dessa forma.

— Direta. — Ele riu suavemente e se recostou na cadeira em frente à minha mesa. — Eu gosto disso — Meu desconforto foi visível e eu me ajeitei na cadeira.

— Na verdade, tenho um convite para você. Um jantar. Amanhã à noite. Eu e Daniel gostaríamos de te levar para um lugar especial. — Ele me olhou de um jeito que fez a temperatura no escritório parecer cair alguns graus. Tudo isso enquanto mantinha o sorriso no rosto.

Então era isso. Ele finalmente tinha deixado suas intenções claras. Ele não tinha o mínimo de vergonha em admitir que estavam ambos interessados em mim. Eu sabia que havia interesse, claro. Mas tinha esperança de que minha falta de reciprocidade fosse o suficiente para que eles entendessem o recado.

— Senhor Savóia, eu...

— Júlio. Me chame de Júlio, Alice. — seu olhar permanece fixo em mim. Quase como se me desafiasse a fazer o contrário. Mas eu não iria me ater a isso agora. Isso era o de menos diante da resposta que tinha de dar.

— Júlio — falei, observando seu sorriso aumentar. Tentava escolher ao máximo minhas palavras — Eu agradeço o convite, mas não tenho interesse. Por favor, gostaria que mantivéssemos nossa relação estritamente profissional. — Cruzei os braços, tentando manter a compostura. Meu coração batia rápido, tanto de nervosismo como de desconforto.

Os irmãos SavóiaWhere stories live. Discover now