Alice Macedo
— Está sozinha? — perguntei, a voz rouca de tanto chorar.
Ela demorou um pouco para responder.
— Não, não estou. Você quer que eu fique sozinha? — perguntou suavemente.
— S-sim — respondi fracamente.
Houve mais um tempo de silêncio até que passos ecoaram pelo outro lado do corredor e eu ouvi o barulho da porta se fechando.
Respirei fundo, sentindo o coração pesado, mas girei a maçaneta e abri a porta. Lá estava Sofia, com seus olhos gentis e um sorriso reconfortante, como sempre. A aura dela era calma, um contraste marcante de como eu estava me sentindo agora.
— Ei — disse Sofia, suavemente. — Eu... posso entrar?
Balancei a cabeça em afirmação, percebendo que realmente não havia ninguém com ela no quarto, e voltei a sentar no chão. Sofia fez o mesmo, sentando ao meu lado.
Depois de um longo momento, onde compartilhamos apenas o silêncio, escutei sua voz.
— Eu vi o dia em que trouxeram você para a mansão — disse, cortando o silêncio — Daniel carregava você nos braços, enquanto Júlio acompanhava. Me lembro de ver o seu rosto adormecido banhado por lágrimas.
Ela fez uma pausa, como se buscasse as palavras certas.
— Me lembro de ter corrido de volta para o quarto pois não queria que meus irmãos me vissem. Algumas semanas depois eles me mandaram para a casa da tia Verônica e desde então não consigo deixar de pensar em como fui covarde. Como deveria ter ajudado você de alguma forma — Ela levantou o olhar, seu rosto banhado pela tristeza.— Eu sinto muito Alice, de verdade. Sei que você está passando por um momento difícil e... Sei que não posso mudar isso. Tudo o que posso oferecer agora é estar aqui com você — disse com a voz envergonhada.
Desviei o olhar, lutando contra as lágrimas que ainda insistiam em cair.
— Não é culpa sua — murmurei — Você não tem nada a ver com isso... É só que... Eu não sei se consigo aguentar tudo isso, Sofia. Seus irmãos...
Sofia suspirou como se pudesse sentir fisicamente o peso das palavras de Alice e o dilema dentro de si.
— Eu...Eu sei que eles não são boas pessoas. Isso... Isso é algo que também me machuca. Porque eles sempre foram os que cuidaram de mim, os que me deram atenção, carinho... E, ao mesmo tempo, eu sei do que são capazes. É como... viver entre dois mundos. E isso me deixa em conflito todos os dias.
Eu podia reconhecer a sinceridade nas suas palavras. Ela era tão jovem, mas parecia ter muito mais entendimento desse mundo do que eu. Muito mais maturidade para lidar com tudo isso.
— Sabe... — Sofia começou, sua voz carregada de uma tristeza contida. — Você me lembra muito a minha mãe.
Alice franziu a testa, surpresa pela comparação. Ela conhecia pouco sobre a mãe deles, apenas que havia falecido quando Sofia era pequena juntamente com o pai deles..
— Ela também era uma mulher forte — continuou Sofia, com um leve sorriso melancólico. — Não da mesma forma que você, mas... do jeito dela. Ela enfrentou muita coisa, sabe? Muita dor que ninguém via, muita coisa que ela guardava para si.
Encarei ela, tocada pela confissão.
— Eu era muito pequena quando ela morreu em uma emboscada juntamente com meu pai. Mas eu lembro de muita coisa. Muita coisa que meus irmãos não viam. — Ela voltou a encarar o chão à sua frente, como se estivesse revivendo memórias do passado.
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Os irmãos Savóia
General FictionAlice Macedo, uma talentosa e criativa joalheira, vive uma vida tranquila dedicando-se à sua paixão: criar joias deslumbrantes e únicas. Sua rotina pacífica, no entanto, é abalada quando ela se torna alvo da perigosa obsessão de Daniel e Júlio Savoi...