Capítulo 13

690 107 18
                                    


Alice Macedo

Depois de muitos dias, consegui convencê-los a passar um tempo sozinha no ateliê. A mesa estava coberta de desenhos, a maioria de coisas aleatórias que eu criava para preencher o tempo. O som do lápis riscando o papel era meu único alívio.

As coisas têm estado...diferentes.

Todo o stress que o atentado trouxe parece ter virado uma chave no comportamento deles. Júlio estava introspectivo, mergulhado em papéis e ligações. As vezes, quando ele estava no ambiente, percebia o seu olhar sobre mim. A testa franzida, uma expressão que eu não conseguia decifrar. Já Daniel estava determinado a passar qualquer minuto que tivesse grudado em mim. A postura sempre tensa, como se a qualquer momento os homens que nos atacaram na festa fossem arrombar a porta e aparecer.

Mas eu simplesmente não conseguia encarar com bons olhos toda essa mudança. Meu cérebro racionalmente esperava que essa tranquilidade toda iria passar em algum momento e eles iriam voltar a ser os mesmos monstros que conheci.

Ouvi o som de passos atrás de mim, e soube que era Daniel antes mesmo de ele falar.

— Você já está a um bom tempo aqui. — disse, se aproximando.

Não respondi de imediato, apenas continuei desenhando.

— Eu gosto de desenhar — respondi finalmente, sem olhar para ele. Uma parte de mim queria se rebelar e me manter calada. Mas outra parte tinha medo das consequências disso.

Ele se aproximou, parando ao meu lado. Vi sua mão deslizar sobre a mesa, os dedos tocando um dos desenhos.

— Pensei que fosse fazer algo para você mesma. Algo para a loja.

Houve uma pontada no peito ao ouvir isso, mas não deixei transparecer.

— A loja não faz parte do meu presente. — respondo.

Daniel ficou em silêncio por um momento, mas eu podia sentir sua frustração com a minha resposta.

Daniel ficou em silêncio por um momento, mas eu podia sentir sua frustração. Ele não sabia o que dizer, e honestamente isso era quase reconfortante.

— Tudo foi organizado para que você pudesse dar continuidade, nos prepa...— disse depois de um tempo.

— E quando houvesse uma reunião? Principalmente se fosse com um homem. Um fornecedor... — o interrompi.

Ele trincou o maxilar, permanecendo em silêncio.

— Alice... — ele começou, mas eu o interrompi novamente.

— E quando eu precisasse viajar, fazer conexões? Divulgar o meu trabalho? Vocês permitiriam? — continuei.

— Daríamos um jeito.

— Claro. E quando eu me negasse, quando algo não saísse como vocês gostariam, tudo terminaria como sempre. Eu não vou trazer pessoas para o meu convívio arriscando a vida delas no processo.

Minhas palavras parecem ter sido um balde de água fria. Sua expressão demonstrava um descontentamento evidente.

E mais uma vez eu tive aquela sensação desconcertante que vem me cercando a dias. Como se já não houvesse mais espaço dentro de mim para engolir qualquer sentimento. Era raiva, medo...indignação...tudo junto.

Ele não tem o direito de se sentir insatisfeito...

— Você acha que pode construir um ateliê, me dar uma sala cheia de ferramentas, e isso vai apagar tudo o que aconteceu? Ou que eu vou me contentar com essa falsa ilusão de liberdade?

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jan 26 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Os irmãos SavóiaWhere stories live. Discover now