Capítulo 12

827 95 25
                                    


Alice Macedo

O silêncio era um tipo de tortura. Não o silêncio confortável, mas aquele pesado, que preenchia cada espaço da sala como uma neblina sufocante. Eu estava sentada no sofá, encarando minhas mãos, os pequenos cortes ainda sensíveis enquanto a pele cicatrizava lentamente.

Havia pouco tempo que me despedira de Sofia. Gonzalez a levara para o México por tempo indeterminado. Pelo que captei da breve conversa entre eles, o ataque ao casamento fora orquestrado por um grupo rival, e ele planejava buscar reforços enquanto a mantinha em segurança. A despedida foi carregada de emoção; Sofia, ainda visivelmente fragilizada, se despedia de mim com olhos cheios de medo, enquanto Gonzalez parecia à beira de um colapso cada vez que seu olhar recaía sobre os ferimentos dela. Parte de mim sentia alívio por vê-la partir para um lugar seguro, mas outra parte lamentava profundamente sua ausência. Ela era a única amiga que eu tinha nesse lugar, a única pessoa que conseguia trazer um alento para um ambiente tão opressivo.

Alguns dias haviam se passado desde o atentado, e o comportamento de Júlio e Daniel parecia ter piorado ainda mais. Não se tratava de violência ou agressividade, mas a obsessão deles com a minha segurança havia atingido níveis sufocantes. Daniel, especialmente, estava claramente transtornado. Ele não me deixava sozinha nem por um instante, arrastando-me para onde quer que fosse ou aparecendo em qualquer lugar onde eu estivesse. Até mesmo o ateliê, que antes era meu único refúgio, parecia ter se tornado inalcançável.

Eu estava no escritório naquele instante. Ambos estavam imersos em seus afazeres — Daniel revisava algo no celular com a testa franzida, enquanto Júlio folheava uns papéis com movimentos tensos e calculados. E eu, sentada com um livro aberto nas mãos, tentava, em vão, me distrair. Sentia falta dos meus momentos de solidão, sem a presença esmagadora e intimidadora deles.

Eles estavam à flor da pele, claramente alertas com os últimos acontecimentos, e isso só fazia minha curiosidade crescer. Quem, afinal, estava por trás de tudo isso para deixá-los tão instáveis?

Não sei se ainda estava sob o choque do atentado ou apenas cansada de me manter em silêncio, mas me vi falando antes mesmo de raciocinar.

— Quem eram? — perguntei, quebrando o silêncio. — Os...os homens que invadiram a festa?

Daniel parou de falar ao telefone e me lançou um olhar rápido. Júlio apenas ergueu os olhos dos papéis, franzindo a testa.

— Não precisa se preocupar com isso, Alice — disse Júlio, a voz firme e impassível, como se fosse algo simples de ignorar.

— Não estou preocupada. Estou perguntando — retruquei, cruzando os braços em um gesto defensivo, tentando mascarar o nervosismo crescente.

— Você está segura, Alice. Não precisa temer nada. — Daniel interveio, desligando o celular com um movimento rápido. Sua voz era calma, mas carregava aquele tom de autoridade que sempre me irritava.

Minha paciência começou a se esgotar.

— Isso não responde minha pergunta. — As palavras saíram mais firmes do que eu esperava. — Quem são essas pessoas? Por que invadiram o casamento de Sofia?

Um silêncio desconfortável caiu entre nós. Daniel estreitou os olhos, enquanto Júlio me analisava com aquela expressão que misturava irritação e incredulidade, como se eu tivesse acabado de ultrapassar um limite invisível.

Sim, eu definitivamente estava sob o efeito de alguma coisa para falar com eles assim. Talvez fosse o choque do atentado, talvez fosse o cansaço, ou talvez, apenas talvez, fosse a raiva que eu vinha engolindo há tempo demais.

Os irmãos SavóiaWhere stories live. Discover now