- Bonita pintura, não é mesmo? - Yoongi fala com uma voz grave que me faz arrepiar toda por dentro.
Me viro para ele e fico paralisada por alguns segundos. Depois, o respondo:
- Sim, é muito bonita mesmo. Quem é o pintor? – pergunto, tentando parecer descontraída.
- Jungkook, um dos membros do meu grupo. Ele é bom em tudo o que faz. - diz casualmente. - Receio que não tenhamos sido apresentados. Sou Min Yoongi, seu paciente.
- Prazer em conhecê-lo, Senhor Min. - me apresento, fazendo uma reverência. - Me chamo Liz e serei sua psicóloga a partir de hoje, se me permitir.
- Bom, eu espero que possa me ajudar com meu problema. - ele fala em um tom mais sério do que quando chegou na sala.
- Eu também espero que sim. Podemos começar? - pergunto da forma mais profissional que consigo.
-Sim, podemos. - ele se senta no sofá, que parece ser muito confortável.
Me sento em uma cadeira logo à sua frente e começo nossa sessão.
- Vejamos então por onde podemos começar. O que está lhe afligindo, Senhor Min? Há algo que queira me dizer? Sinta-se à vontade para me contar qualquer coisa. Estou aqui para te ajudar no que for preciso.
Ele me encara por um bom tempo, acho que tentando avaliar se vale a pena me contar alguma coisa. Depois de o que parece ser uma eternidade sob o olhar dele, ele finalmente me responde:
- Não consigo mais compor minhas músicas. Estou com algum bloqueio e não sei o que fazer para acabar com ele. - ele parece aflito com a situação, mas tenta não demonstrar seus sentimentos.
- Entendo. Há quanto tempo não consegue compor? - pergunto.
- Há quase um mês. Meus superiores não param de cobrar e eu estou muito sobrecarregado com tudo isso, acabo descontando tudo na bebida. Há semanas não sei o que é dormir sem o efeito do álcool no corpo. - seu olhar mostra que está muito tenso.
Sei que o que vou perguntar agora o deixará mais tenso ainda, mas tenho que perguntar para entender melhor sua situação e poder achar uma solução.
- Senhor Min, passou por algum evento traumático recentemente que possa ter causado esse bloqueio?
Ele retesa o corpo todo ao ouvir minhas palavras e fica em silêncio novamente. Não querendo que o silêncio se prolongue, acrescento:
- Não precisa me responder agora, se não se sentir confortável. Podemos achar outro jeito de descobrir o que aconteceu.
- Eu nunca vou querer falar sobre isso. Foi uma péssima ideia ter chamado uma psicóloga para tentar resolver isso. Se puder se retirar, eu agradeço. - Yoongi se levanta do sofá e sai da sala sem dizer mais nada.
Fico ali parada, tentando entender o que acabou de acontecer. Sei que é difícil reviver cenas que foram traumáticas, mas se não souber o que causou o trauma, é impossível resolver o problema por completo. O silêncio pesa no ar e eu me sinto impotente. Ele não só me evitou, como me afastou com uma dureza que não imaginei que fosse capaz. Uma parte de mim quer dar espaço, respeitar os limites dele, mas outra, a profissional, sabe que sem confrontar essa resistência não conseguirei ajudá-lo.
Depois de alguns minutos, pego meu caderno e minhas coisas, saio da sala onde estávamos e passo pelo assessor, que pede desculpas pelo ocorrido. Ele diz que Yoongi não gosta de falar sobre seus sentimentos com ninguém e que o temperamento dele é muito volúvel. Eu digo que está tudo bem e saio do apartamento, voltando para a clínica.
Fico em minha sala repassando toda a cena e tentando achar onde tudo deu errado. Fiz as perguntas que sempre faço aos meus pacientes e recebi a mesma reação de todos, mas nunca tinha sido enxotada desse jeito durante uma consulta. O que aconteceu ali? Será que fui invasiva demais? Será que realmente posso ajudá-lo? O conflito dentro de mim cresce. Eu sei que não posso forçar ninguém a abrir-se, mas, ao mesmo tempo, sinto que ele precisa disso. Fico me questionando se estou sendo a psicóloga certa para ele ou se deveria ter lidado com a situação de outra forma.
- O que deu naquele homem? Não é possível que seu temperamento seja tão ruim assim. Achei que ele fosse só rabugento, como via nos vídeos e nos reality shows. Nunca imaginei que fosse do tipo que tratava as pessoas desse jeito. - falo sozinha, frustrada com a situação.
Depois do expediente, vou para casa descansar e tentar esquecer o que aconteceu hoje. O pior de tudo é que não posso falar nem com a Bia ou com a Na-yeon sobre isso, pois tenho uma política que me proíbe de dizer qualquer coisa a respeito das minhas sessões com os pacientes, e ainda tem o contrato de confidencialidade que assinei hoje com ele, antes da sessão começar.
Assim que chego em casa, dou um suspiro audível de raiva. Bia me olha querendo saber o que aconteceu, e o que digo é:
- Tive um dia difícil hoje e não posso te contar, porque tenho a política de privacidade entre médico e paciente. - falo, muito frustrada.
Que pena que não pode me contar, porque pela sua cara dá pra ver que foi um daqueles dias. - Bia me observa, tentando ler minhas expressões.
E foi mesmo. - vou em direção ao banheiro para tomar um banho e tentar relaxar.
Assim que termino o banho, digo a Bia que não estou com fome e vou direto para o quarto. Deito minha cabeça no travesseiro e tento dormir, mas a imagem daquele homem não sai da minha mente de jeito nenhum. Apesar do jeito com que ele me tratou, não pude deixar de notar o quão lindo ele é pessoalmente. E o cheiro... Ele exala um perfume refrescante, mas ao mesmo tempo amadeirado. Sem contar a voz dele, que parecia mais o ronronar de um gato, grave e profunda. Eu quase desmaiei quando ele falou logo atrás de mim.
Não posso negar que senti muita atração por ele naquele momento. Porém, eu estava como sua médica e não poderia demonstrar nenhum interesse pessoal. Mas, em meio ao meu profissionalismo, outra parte de mim – uma parte inesperada e confusa – queria ir além das regras. Eu estava dividida entre o que deveria fazer e o que meu corpo e mente estavam pedindo. Depois de mais alguns minutos imaginando coisas com ele, caio no sono.

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Amygdala
Fiksi PenggemarLiz e Yoongi são pessoas que vivem em países completamente opostos, mas que estão destinados a se encontrarem em um momento muito delicado para ambos. Será que são capazes de viver um amor apesar de todos os problemas?