Yoongi
Está quase na hora da psicóloga chegar e estou um pouco nervoso em ter essa consulta. Não gosto de falar sobre meus sentimentos com ninguém e não sei o que esperar disso tudo.
Ouço a campainha tocar e logo meu assessor vai atender. Pelo que vejo, ela acabou de chegar. Vou para o meu quarto para trocar de roupa enquanto ela assina os documentos de confidencialidade e é encaminhada para a sala que deixei reservada para reuniões. Assim que entro, meu nariz é invadido pelo cheiro de seu perfume floral com um fundo delicioso de baunilha. Chego mais perto e vejo que ela está olhando uma pintura que Jungkookie fez e me deu de presente. Não resisto e me aproximo dela para começar a conversa.
- Bonita pintura, não é mesmo?
Vejo que ela se assusta um pouco porque não esperava ser surpreendida assim, mas logo se recompõe e me responde:
- Sim, é muito bonita mesmo, quem é o pintor? - Ela pergunta, tentando parecer mais relaxada do que realmente está.
- Jungkook, um dos membros do meu grupo. Ele é bom em tudo que faz. - Digo casualmente. - Receio que não tenhamos sido apresentados, sou Min Yoongi, seu paciente.
- Prazer em conhecê-lo, Senhor Min. - Ela faz uma reverência, o que me faz sentir um pouco desconfortável. - Me chamo Liz e serei sua psicóloga a partir de hoje, se me permitir.
Não sei o que dá em mim, mas digo as próximas frases em um tom mais sério do que tinha começado a conversa.
- Bom, eu espero que possa me ajudar em meu problema.
Ela adota uma postura diferente depois de minha resposta.
- Eu também espero que sim. Podemos começar?
- Sim, podemos. - Me sento no sofá.
Ela senta na minha frente e começa a sessão.
- Vejamos então por onde podemos começar. O que está lhe afligindo, senhor Min? Há algo que queira me dizer? Sinta-se à vontade para me contar qualquer coisa, estou aqui para te ajudar no que for preciso.
Encaro seu rosto por um longo tempo. Não tinha prestado atenção nele antes. Ela tem as bochechas gordinhas e o rosto também, o que a faz parecer fofa. Sua pele é morena clara e seus olhos são de um castanho iguais aos meus. Percebo que ela não é coreana, parece ser de um país tropical, só não consigo dizer ao certo de qual. Percebo que ela começa a me encarar confusa, e vejo que não a respondi ainda. Então volto à realidade e respondo:
- Não consigo mais compor minhas músicas. Estou com algum bloqueio e não sei o que fazer para acabar com ele. - Minhas palavras saem rápidas e parece que estou aflito.
Não quero demonstrar mais do que o necessário, ainda não a conheço para falar sobre as profundezas das minhas amarguras e traumas. Não costumo falar sobre meus sentimentos, nunca, e com ninguém. Mas algo nela me faz querer contar tudo o que me aflige.
- Entendo, há quanto tempo não consegue compor? - Pergunta ela.
- Há quase um mês. Meus superiores não param de me pressionar, e estou sobrecarregado com tudo isso. Acabo descontando tudo na bebida. Há semanas que não sei o que é dormir sem o efeito do álcool no corpo. - Começo a ficar tenso ao falar sobre minha vida pessoal.
Mas nada me prepara para o que vem em sua próxima pergunta, que me acerta como um tiro no peito.
- Senhor Min, passou por algum evento traumático recentemente que possa ter lhe causado esse bloqueio?
Não consigo responder. Minha boca se fecha contra minha vontade e todos os eventos traumáticos que passei rodeiam minha mente ao mesmo tempo. Meu corpo se tensa sem que eu perceba. Ouço ela dizer alguma coisa, mas ainda não consigo responder.
- Não precisa me responder agora se não se sentir confortável. Vamos achar outro jeito de descobrir o que aconteceu.
Depois de longos segundos paralisado, finalmente consigo abrir a boca, mas era melhor ter ficado em silêncio porque me sinto um merda logo depois de dizer:
- Eu nunca vou querer falar sobre isso. Foi uma péssima ideia ter chamado uma psicóloga para tentar resolver isso. Se puder se retirar, eu agradeço. - Me levanto do sofá e saio da sala sem dizer mais nada.
Sei que fui um babaca com ela, porque fui eu que a chamei aqui para tentar me ajudar, mas não sei o que deu em mim para agir desse jeito grosseiro. Vou para meu quarto, e, quando passo pelo corredor, ouço meu assessor conversando com ela e pedindo desculpas pelo meu comportamento. E a ouço dizendo que não tem problema e vai embora. Assim que entro no meu quarto, me jogo na cama e começo a repassar tudo o que aconteceu há poucos minutos atrás.
- Que porra eu tô fazendo?! - Solto o ar com força e passo as mãos pelos meus cabelos.
Só posso estar ficando louco. Como pude fazer isso com ela? Saio do quarto e volto à sala onde estávamos há pouco tempo, na esperança dela ter esquecido alguma coisa. Assim que entro no lugar, sou invadido pelo perfume dela novamente.
- Porra, preciso ver essa mulher de novo, pedir desculpas a ela e sentir esse cheiro que me deixou entorpecido mais uma . - Digo, ainda imaginando como será encontrar com ela de novo, só esperando que não me odeie pelo que fiz.
Pego meu celular e ligo para Na-yeon, que atende no segundo toque.
- Oi, Na-yeon. Preciso das informações da psicóloga que você me arrumou. Assim que conseguir, me envie, por favor.
Ela fica sem entender muito bem o que acabei de dizer, mas concorda e desliga logo em seguida.
Volto para o quarto com um copo de whisky na mão, mas, essa noite, não é pelas coisas que estou passando. É por ela. A mulher que expulsei da minha casa mais cedo, sem mais nem menos, e que insiste em ficar em minha mente até eu apagar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amygdala
FanficLiz e Yoongi são pessoas que vivem em países completamente opostos, mas que estão destinados a se encontrarem em um momento muito delicado para ambos. Será que são capazes de viver um amor apesar de todos os problemas?