Capítulo 14

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Tento manter meus batimentos sob controle, mas ele sabe como desmontar alguém com um simples sorriso contido. Vejo que esse homem será minha perdição se continuar assim. Só de olhar para aquele rosto pálido, que agora parece ter ganhado um pouco de cor, meu coração já acelera sem que eu perceba. Como vou sobreviver a isso?

Quando consigo me acalmar, vejo que ele me observa, parece estar me estudando de alguma forma. Minhas bochechas começam a esquentar e, sem pensar, me levanto e digo:

Bom, acho que meu trabalho aqui acabou. O senhor já está sob controle, então creio que posso me retirar.

Tenho que sair daqui o mais rápido possível, porque ficar perto dele assim não vai dar certo se meu coração continuar acelerando a cada olhar que ele me der. No entanto, parece que meus planos serão frustrados, pois ele se ajeita na cama e me encara antes de falar:

Não vá ainda, tenho algo a dizer.

Olho para meu celular e vejo que já passa das 19:00, então peço a ele um minuto para enviar uma mensagem.

Entro em minha conversa com Bia e digito que chegarei mais tarde porque estou atendendo um paciente com um problema. Não demoro a receber uma resposta perguntando quem era o paciente e se ele era famoso. Mando outra mensagem dizendo que não posso contar, e ela manda um emoji de choro, fazendo drama. Eu respondo que logo estarei em casa e guardo o celular na bolsa.

Volto minha atenção para Yoongi, que está digitando algo no celular, mas logo percebe que estou observando e deixa o aparelho no criado-mudo.

Desculpe, aproveitei que estava no telefone para enviar uma mensagem também. Podemos continuar?

Eu confirmo e espero por sua dúvida ou um novo desabafo, e ele logo começa:

Bom, primeiro quero pedir desculpas adequadamente por ontem. Não estava em um bom dia e acabei sendo grosseiro com a senhorita. Peço perdão pelo ocorrido e agradeço por ter vindo me ajudar com essa crise. Achei que não iria suportar dessa vez.

Desculpas aceitas, e eu não poderia, em sã consciência, deixar um paciente passar por uma crise sabendo que posso ajudá-lo, mesmo que ele tenha dito anteriormente que foi uma péssima ideia conversar com uma psicóloga. - Só percebo depois que falei com sinceridade até demais.

Yoongi solta uma risada audível, e eu me assusto, não esperava isso dele.

A senhorita não acha que é sincera demais às vezes? Já é a segunda vez que fala assim comigo só nesta consulta. Gosto que seja sincera, mas poderia ao menos avisar antes para eu me preparar? - Ele diz, brincando.

Minhas bochechas ficam tão vermelhas que sinto como se fossem duas fornalhas. Quero me esconder, mas tem algo nele que me faz sentir muito à vontade, e acabo falando o que penso sem perceber. Tento me recompor enquanto levanto, pegando minhas coisas, e começo a me desculpar:

Peço desculpas, senhor Min, acho que por hoje encerramos. Tenho que voltar para casa agora. Vou chamar um táxi. - Digo, morrendo de vergonha e procurando meu celular na bolsa para chamar o táxi.

Espere. - Ele começa a se levantar da cama. - Eu posso te levar, se quiser. Poderia pedir ao meu assessor, mas o dispensei há pouco, e pegar um táxi agora vai ser complicado, o trânsito ainda está congestionado.

Eu engulo em seco, pensando comigo mesma que isso só pode ser um sonho. Primeiro sou escolhida para ser sua psicóloga, depois teve aquele episódio de ontem, mas agora estou tranquila com isso, e agora ele quer me levar em casa? Se isso for um sonho, por favor, ninguém me acorde. Mas, talvez, seja apenas a forma dele de me agradecer por tê-lo ajudado durante a crise. De todo modo, meu surto interno continua e, lembrando que ainda tenho que respondê-lo, digo:

Não me importo de pegar um táxi, não quero atrapalhar o senhor. E o senhor ainda parece abatido, precisa descansar. - Olho para seu rosto, percebendo como ele é ainda mais lindo de perto.

Apesar do que digo, ele continua insistindo:

Não seria incômodo algum para mim. Deixe-me levá-la, pelo menos em forma de agradecimento. - Ele me fita, esperando minha resposta.

Ok, então eu aceito. Podemos ir?

Assim que digo isso, ouço minha barriga roncar. E eu, achando que minha situação não poderia ficar pior...

Ele me lança um sorriso de canto.

Está com fome? Vamos passar em uma conveniência antes de ir para sua casa então, porque também estou faminto.

Ele vai até seu closet para vestir um moletom preto, coloca um boné e pega uma máscara na gaveta do criado-mudo. Afinal, ele é um idol e sua vida pessoal não é respeitada. Se alguém nos ver na rua e reconhecê-lo, o caos se instala.

Saímos do quarto, ele pega as chaves do carro e vamos em direção ao estacionamento. Entro no carro e, na mesma hora, sou invadida pelo cheiro do seu perfume. Não tinha percebido antes, mas agora, em um lugar fechado, o cheiro ficou mais nítido, e isso está acabando comigo aos poucos.

Qual o seu endereço para colocar no GPS? - Ele pergunta.

Dou meu endereço e seguimos em direção à conveniência mais próxima antes de irmos para minha casa. Não se passaram 10 minutos desde que começamos a andar e já encontramos uma. Eu amo isso na Coreia; em todo lugar, sempre há pelo menos uma conveniência 24 horas por perto. Descemos do carro e entramos para escolher as coisas, esquentamos e voltamos para o carro, porque não poderíamos arriscar ser vistos juntos.

Assim que me sento, pergunto a ele se não há problema em comer dentro do seu carro, e ele responde que não, que já está acostumado a fazer isso. Fico triste ao saber que ele não pode parar em um lugar público para comer sem ser reconhecido e fotografado.

Abro minha comida e logo sinto o cheiro da pimenta no meu topokki. Faço uma cara de quem não gostou, e ele percebe e pergunta:

Algo de errado com a comida?

Não, é só que sou alérgica à pimenta e não trouxe meu remédio. Não vou conseguir comer isso sem passar mal depois.

Ele me olha por alguns instantes e oferece seu lamen.

Pegue, eu ainda não coloquei o molho de pimenta, só está com o tempero em pó.

Eu o olho surpresa e aceito o lamen.

Obrigado, senhor Min. Espero que goste do topokki, parece delicioso. - Entrego meu pote e dou um sorriso em agradecimento.

Comemos e depois seguimos viagem. Quando chego em casa, abro a porta do carro, me despeço dele e agradeço pela comida novamente. Ele diz que também me agradece pela ajuda e que me mandará uma mensagem para saber quando será a próxima sessão. Em seguida, sai com o carro rapidamente.

Fico ali parada, na frente do prédio, tentando processar tudo o que aconteceu essa noite, e percebo que aquele homem será, sem dúvida, o motivo da minha perdição.

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