Amygdala

Capítulo 11

No dia seguinte aos acontecimentos, sigo minha rotina na clínica. Entro em minha sala, organizo minha agenda e aguardo meus pacientes. Mas, dessa vez, sinto que algo diferente está prestes a acontecer. É uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada, ou como se algo - ou alguém - estivesse prestes a cruzar meu caminho novamente.

Tento afastar a ideia de Yoongi da minha mente. Afinal, o dia de ontem foi um desastre absoluto. Seu temperamento, a tensão, o constrangimento... Tudo isso ainda martelava na minha cabeça. Mas, não importa o quanto tente, meu cérebro insiste em me trazer memórias dele. Cada momento do meu dia parece ser invadido por seu olhar, sua voz, o jeito como me tratou, quase como se eu fosse a culpada por sua falta de controle.

Me perco em meus devaneios até que o som do telefone me puxa de volta à realidade. Olho para o visor e vejo que é o diretor da clínica. O que será agora?

Atendo, já com um peso na garganta, e ele começa com um tom formal.

- Bom dia, Liz. Fui informado sobre o ocorrido com o paciente VIP ontem. Não se preocupe, você está fazendo seu trabalho. Mas, se não se sentir confortável, podemos realocar o paciente com outro profissional.

Fecho os olhos por um segundo, tentando controlar a raiva que começa a subir. Sinto que, em parte, ele está certo. Eu só estava fazendo o meu trabalho. No entanto, há algo que não posso ignorar: meu ego. Eu não vou ser derrotada por alguém que sequer teve a decência de se abrir para mim.

Penso por um momento e, com mais firmeza do que eu esperava, respondo.

- Eu quero continuar atendendo o senhor Min, mas... tenho uma condição: ele precisa me deixar terminar a consulta de ontem. Pelo menos uma, sem sair no meio. Se ele não aceitar, aí sim, podemos conversar sobre outra solução.

O diretor concorda rapidamente, e eu desligo. Sinto uma sensação estranha de alívio e determinação se espalhando pelo meu corpo. Ele vai ver do que sou capaz.

O restante do dia passa sem grandes surpresas, até que, quando estou prestes a ir embora, recebo uma mensagem de um número não salvo.

A mensagem diz:

- Olá, senhorita Liz, sinto muito pelo modo que te tratei ontem e gostaria de me desculpar pessoalmente. Poderíamos marcar outra consulta, por favor? Sei que fui muito grosseiro, mas prometo não agir assim novamente se aceitar me atender de novo.

Fico olhando para a tela, completamente surpresa. Yoongi? Ele se desculpando? Eu não consigo acreditar. Será que é uma brincadeira? Como ele conseguiu meu número?

Enquanto meus dedos ainda estão hesitando sobre o que fazer, os três pontinhos aparecem na tela, indicando que ele está digitando mais algo.

- Vou entender se não quiser aceitar, fui muito babaca e só queria poder mostrar que sinto muito. Aguardo sua resposta.

Eu fico ali, paralisada. Yoongi realmente me pediu desculpas? E o que está acontecendo comigo? Sinto uma mistura de raiva e curiosidade. Como ele conseguiu meu número? Eu deveria ignorar? Mas, de algum jeito, a vontade de vê-lo novamente, de entender o que estava por trás de seu comportamento, toma conta de mim.

Com um suspiro profundo, respondo, tentando ser o mais profissional possível, pois, no fundo, sei que ainda sou sua psicóloga:

- Olá, senhor Min. O diretor entrou em contato referente à minha condição para atendê-lo novamente? Caso tenha sido informado, gostaria de saber sua decisão para que possamos ver como proceder.

A resposta dele chega rápida, como um alívio inesperado.

- Sim, ele me informou e aceito a condição, pois fui o causador do constrangimento a senhorita. Para que dia podemos marcar?

Eu me surpreendo com a aceitação dele, mas respondo rapidamente, tentando manter o foco.

- Pode ser para amanhã? Já estou fora do meu expediente hoje.

Então, uma nova mensagem chega. Fico sem palavras ao lê-la.

- Pode ser agora? Não me importo de pagar a mais pela consulta, só quero que venha. Preciso mesmo de ajuda.

Eu estremeço. Ele quer que eu vá até lá agora? Algo dentro de mim diz que ele realmente precisa de ajuda... E, inexplicavelmente, eu sinto que não posso dizer não.

Eu escrevo uma resposta curta, sem saber ao certo o que estou fazendo.

- Estarei lá em poucos minutos.

Eu não sei por que mandei isso. Talvez seja por raiva, talvez por curiosidade. Mas, de alguma forma, eu preciso ver o que está por trás desse homem. Algo me diz que nossa história está apenas começando.