Capítulo 4: Todos los sábados son martes y trece (os sábados são terça-feira 13)

182 20 111
                                    


--------------------------------------------------------------

Esclarecimento inicial sobre o nome do capítulo e as referências que terá o capítulo à “terça-feira 13”:
Na cultura grega e em vários países hispânicos como Espanha, Cuba, Paraguai, Uruguai, Colômbia, entre outros, as terças - feiras 13 são consideradas de má sorte. Se acredita que a superstição está ligada a associação do número 13 com o dia de “Marte”, Deus da guerra e da destruição.
Esta crença também é associada à lenda de que a confusão de línguas da Torre de Babel ocorreu uma terça-feira 13.

--------------------------------------------------------------

“Sé que hay noches que no soy el que conoces,
pero quiero arrastrate hasta mi cielo”
(Sei que tem noites que eu não sou o que conheces,
mas eu quero te arrastar até meu ceu)
- Pensamientos, La Beriso

Sábado era dia de aproveitar, o novo Kelvin na nova vida tinha que fazer isso, não é mesmo?

Kelvin não gostava de sábados, no começo do dia ele tentava se manter ocupado, “cabeça vazia é oficina do diabo”. Mas não adiantava, ele sabia…  sabia que invariavelmente alguma coisa aconteceria, qual seria o problema naquele sábado?

Tentava não pensar, por isso ele se obrigava a curtir. Ele queria? Provavelmente não tanto, ainda não tinha se acostumado com seus novos horários, morria de sono super cedo. Mas Kelvin era uma pessoa da noite e não se permitiria largar isso. A noite tinha sido seu refúgio e seu sustento, sua maior amiga e sua maior ferida. Mas era sua.

Além do mais, ele não só merecia, como também precisava desconectar. Sua primeira semana tinha sido uma montanha russa. Toda vez que via Ademir se arrepiava e se fechava ao mundo, toda vez que se via no espelho se questionava quem era aquele? e o que estava fazendo? … toda vez que via Ramiro sentia como se o abraçassem, mas não tinha ninguém ali para fazê-lo, e isso parecia ser o pior.

Seu apê ainda estava caótico, seu guarda roupa quase não podia ser aberto sem que tudo despencasse, seu pai tinha mandado três mensagens mais, escalando de ordens para maldições e de maldições para ameaças.
E Kelvin tinha bloqueado todos os números, mas não tinha bloqueado as lembranças.

Precisava ser inconsequente, precisava fugir, do seu chefe, do seu passado, do mundo e de si mesmo.

Só por uma noite.

Procurou no Google o endereço do bar mais insalubre que conseguiu, vestiu uma regata vermelha, muito colada ao corpo, uma calça cargo preta e tênis também pretos. Pensou em colocar acessórios ou maquiagem, mas isso não era importante para aquele Kelvin.

A música era alta demais, as luzes piscavam e o cheiro de fumaça invadia todo o ambiente quando o loiro entrou.
Foi direto para o bar, pedindo um drink qualquer e logo em seguida outro e outro e mais um. Era bom saber que sua resistência ainda estava lá, finalmente conseguia desligar um pouquinho sua cabeça.

Quando se sentiu mais leve foi até a pista de dança, sempre com um copo na mão.
Estava no seu próprio mundo, seu corpo se mexia ao ritmo da música, sentindo cada batida do seu coração se acompassando com cada retumbe das caixas de som.

Finalmente se sentia bem, se sentia completo, ali dançando até o chão no meio de corpos suados. Aquele era o Kelvin que não temia a nada, porque já tinha passado por tudo. Aquele era um Kelvin poderoso, cheio de si, cheio de vida, uma vida que talvez não fosse sua, mas a fazia ser.

Duas vidas, dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora