“Nunca le ha servido la razón al corazón”
(Nunca prestou a razão pro coração)— “suelta mi mano” Sin Bandera
Na madrugada, quando acordou, sozinho em sua cama, como tinha acordado mil vezes, Ramiro se sentiu, pela primeira vez em muito tempo, orgulhoso de si mesmo. Tinha conseguido ser firme em sua decisão.
Tudo bem, no começo fraquejou, foi até aquele café e quase chegou a se imaginar indo embora dele na companhia do outro homem.
Mas estando lá soube que alguma coisa era diferente, com o coração despedaçado, mas sem a ajuda de ninguém, sem a pressão da expectativa de ninguém, simplesmente soube que não fazia sentido.
Ele queria sentir, queria acreditar, queria confiar. Mas as palavras ditas naquele café, que já testemunhou tantas de suas fases, tantas daquelas frases, não fizeram absolutamente nada.
Como há muito tempo, a conversa já não fluía, as ideias já não batiam, sequer o desejo comparecia.
Nada do que foi ainda era. Nada do que foi podia ser, não podia.
Era a primeira vez que não fugia, não corria, não mentia. Sabia que o amor que lhe juravam era doentio, sabia que o afeto que lhe davam era vazio, não fazia mais nenhum sentido. Sabia que para o outro isso não mudava nada, mas pra ele, pra ele sim, pra ele aquele era o fim.
Se despediu como tantas outras vezes, e como nenhuma delas.E naquela madrugada solitária, Ramiro entendeu, finalmente, que fazia muito tempo essa “relação” era sobre as lembranças que ele tinha do que poderia ter sido, não do que realmente foi.
As palavras doces ditas naquele café não foram suficientes, nunca tinham sido, mas dessa vez Ramiro não se abalou por não sentir nada por elas, por não sentir nada por ele.
Não sentir nada por ele não era sinônimo de não sentir, de não ter, de não ser.
Pela primeira vez, ele sabia como sair daquilo, sabia como tudo acabava, sabia que, para ele, aquilo era um adeus.
— Então é assim como isso acaba? — Se perguntou — apenas com a mais profunda indiferença
— — —
Naquela manhã, Kelvin estava indo ao trabalho quando recebeu uma ligação de um número desconhecido. Inicialmente sua mente viajou rapidamente até o Brasil, as mensagens recebidas, o tom ameaçador.
Seu corpo estremeceu e esteve a ponto de desligar quando percebeu que o número parecia ser espanhol.
O senhor Caio tinha sido muito gentil em sua ligação, oferecendo a Kelvin uma entrevista para continuar o processo seletivo que ele tinha abandonado no mês anterior.
A mesma foi marcada para aquela tarde, assim que Kelvin saísse do trabalho. O loiro quase não se aguentava de ansiedade, sabia que era provável que seus dias estivessem contados no grupo La Selva, e era uma conta bem pequena.
Por isso, saiu pontualmente às 17:00 e pegou um táxi por alguns quilômetros, chegando em mais um edifício empresarial, com um estilo muito mais clássico que o loiro considerou muito agradável.
Antes de entrar olhou para sua roupa, e para a grande mochila que carregava, ele poderia estar melhor vestido e não carregar uma mochila de academia, mas considerando que a entrevista tinha sido marcada naquela manhã, ele não tinha mais opções do que ir como já estava no trabalho, esperando que sua aparência desse uma primeira impressão adequada.
— Seu currículo é impressionante para alguém de sua idade, parabéns — Disse Caio quase finalizando uma entrevista, que tinha ido muito bem.
— Obrigada
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Duas vidas, dois mundos
FanfictionOnde Kelvin precisa começar de novo, mais uma vez, agora do outro lado do oceano. Mas a vida vai lhe fazer entender que não importa o recomeçar, o que te faz ser quem você é, não pode ser deixado para trás. Ou Onde Ramiro quer finalmente ir embora...