Capítulo 3: Otra vuelta de tuerca (outra volta da porca)

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Qué me importa el amor? lo que pedía era tu ser entero para mi, en mi vida 

(que importa o amor? o que eu pedia era teu ser inteiro pra mim, na minha vida)

  —  Idea Vilariño

Sábado era dia de aproveitar, Ramiro precisava sair, ficavam apenas alguns daqueles dias em Madri e ele não podia simplesmente ficar jogado no sofá, coisa que tinha feito até agora.

Se olhou no espelho, uma camiseta branca que realçava seus músculos, uma calça azul que marcava suas coxas na medida certa, a barba alinhada, grande porém muito cuidada, os cachos bem definidos caindo levemente sobre seu rosto, o sorriso mais cafajeste que conseguia fazer. Passaria seu perfume e estaria pronto.

Nem Rodrigo nem Caio tinham respondido suas mensagens, e ele não os culpava, tinha arrastado seus amigos para saídas aleatórias (e insalubres) vezes demais nas últimas semanas. 

Ele só queria uma companhia tranquila para um rolê tranquilo, mas tinha que admitir que seus amigos tinham razão quando falavam que seus “roles tranquilos” deixaram de ser “tranquilos” há um bom tempo. Desde que o preto tinha voltado a sair mais como eles, e principalmente nas últimas semanas, suas saídas sempre acabavam sendo um caos atrás do outro.

É que tinha tantas coisas que Ramiro não tinha feito ainda. Não na vida em si, se bem que também, mas naquela cidade especificamente. A cada día que passava o sentimento de urgência que acompanhava esse pensamento o desesperava mais.

Ele sabia que Madri não desapareceria, e sabia que Barcelona era um lugar lindo, com muita coisa para se fazer. Mas lá não tinha …. Não tinha … ele não sabia dizer o que era, mas definitivamente não tinha.

Talvez seus amigos? Talvez seu apartamento? Seus costumes? Talvez apenas o sentimento de lar, que, depois de tanto tempo, tinha aprendido a sentir mais uma vez.

Ele tinha todos os motivos para ficar em Madri, mas também tinha motivos muito claros para ir embora. Se alguém perguntasse, quando finalmente se estabilizou em Madri, se ele imaginou mais uma vez largar tudo para trás, motivado mais do que nada por antigos relacionamentos e família, ele riria na cara da pessoa. 

Claro que a interpretação da pergunta não necessariamente era a correta. Ramiro não ia embora com alguém, ele ia embora por causa de alguém. Em Barcelona não estariam as pessoas que ele não podia ver, porque por mais que seu coração implorasse por fazê- lo, sua alma se despedaçava um pouco mais cada vez.

Respirou fundo, enquanto verificava pela oitava vez se tinha chegado alguma mensagem de seus amigos, a resposta era óbvia mas vinha acompanhada de um velho conhecido: o sentimento de solidão.

Pensou em convidar alguém diferente, Kelvin talvez? Mas descartou essa ideia rapidamente. Não é que não quisesse sair com o garoto, era que não queria se envolver com o garoto. 

Também não é que pensasse que se envolveria com ele de um jeito romântico ou algo assim, mas ficar em cima do garoto o tempo inteiro no trabalho e vê- lo também fora dele, no meio de um final de semana, não era certo. 

Kelvin o fazia sentir bem, mais leve, mais amável e mais receptivo, mas também mais firme. O fazia se entregar de novo em cada projeto que ia finalizando, como se fosse o primeiro dia. O fazia se sentir atencioso e ouvido. De algum jeito estranho o fazia se sentir ele mesmo.

Mas Ramiro não queria incomodar, não tinha nada a ver com o fato de que ele realmente queria conhecer mais do loiro, mas iria embora dali algumas semanas. 

Era isso, aqueles sentimentos deviam vir da saudade que já sentia, não do garoto, ele não conhecia o garoto, e não o conheceria, não era justo. 

E o que é justo? pensou. 

Duas vidas, dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora