Capítulo 10: La calma del alma (a calma da alma)

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Porque te vi, te dejé entrar
Cerré la puerta y te elegí”
(Porque te vi, te deixei entrar
Fechei a porta e te escolhi)
-“La doctora II” Las pastillas del abuelo

Aquele resto de noite foi tranquila demais, Kelvin acordou tarde demais, mas a diferença de outros momentos onde suas costas travavam, o fez com cada músculo relaxado.

Acordou quente demais para aquela manhã estranhamente fria de maio, com a cabeça leve demais demais para quem tinha tantos problemas e o coração leve demais para alguém que tinha se despedaçado na noite anterior.

Antes de abrir os olhos, se aconchegou no corpo grande que o abraçava, e sentiu seu cabelo ser cheirado e beijado delicadamente.

— Bom dia, pequetito, como tá? Quer levantar? — perguntou Ramiro com uma voz rouca, que fez o loiro derreter em seus braços

— Eu quero ficar quietinho aqui, Rams — falou, enquanto se virava, enterrando seu rosto no peito do homem, tentando evitar a luz fraca que entrava pela cortina mal fechada.

— Não tá com fome? Eu posso fazer café, tem chocolate, faço um bolinho, um misto quente

— Xiu! — respondeu fazendo bico — você pode levantar se quiser, eu quero ficar aqui — suspirou — e eu queria que você ficasse aqui comigo, mas tudo bem — completou, soltando sem vontade o homem que o puxou de volta 

— Você fica tão lindo, assim, acordando preguiçoso, manhosinho — disse puxando o rosto do loiro para cima e encarando em seus olhos

— De onde veio isso? Isso foi um elogio?— perguntou rindo, sentido seu rosto ficar quente e vermelho — eu não sei responder a elogios, e certeza que minha cara tá hinchada

— inte que foi um elogio, né? — respondeu divertido — veio da minha cabeça, ué? E você podia dizer obrigada, ou elogiar meus belos cachinhos definidos, ou meu humor privilegiado, ou sei lá, meu bom gosto — completou acariciando o rosto alvo, que relaxava sob seu toque

— Eu podia dizer obrigada, mas não é suficiente, sabe? Pra tudo isso — apontou para ambos, acariciando a barba do preto e aproximando seus rostos

Os beijos e as carícias seguintes podem ter durado alguns minutos, ou eternidades. O ambiente era tranquilo, ameno, aconchegante. Parecia simplesmente, o certo.

Ramiro pensou que poderia passar o resto de seus dias apenas admirando como o mel dos olhos de Kelvin parecia ser um círculo de fogo em torno de sua pupila dilatada.

Kelvin pensou que poderia viver mil anos apenas sendo alimentado pelos beijos que Ramiro lhe dava.

Era sábado, seu mundo tinha desmoronado mais uma vez, mas ele estava ali, estava com Ramiro. Estava… bem.

O preto insistiu em fazer alguma coisa de café da manhã, apesar do meio dia já ter passado, e depois de várias tentativas, insistências, e persuasões, conseguiu fazer que o loiro tomasse café e comesse uma laranja.

A tarde preguiçosa se arrastava lenta, Kelvin pensava que precisava comprar panelas e formas enquanto lavava a louça do almoço, que Ramiro insistiu em fazer enquanto ouviam Zeca Pagodinho, e que comeram olhando a vista calma da sacada.
As iscas de carne com purê, arroz, feijão e couve tinham um gosto de casa que Kelvin quase tinha esquecido conhecer.

Após tomar um banho e colocar novamente roupas de Ramiro, ja que as suas ainda estavam na máquina de lavar, o loiro percebeu o simples que poderia ser um sábado qualquer em casa. Se bem que é claro, aquela não era sua casa e aquele não era um sábado qualquer.

Duas vidas, dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora