Del mismo dolor vendrá un nuevo amanecer
(da mesma dor virá um novo amanhecer)
- Adiós, Gustavo Cerati— A gente namorou por 6 anos, hoje, olhando pra trás eu vejo que há muito não era saudável, se é que em algum momento foi — suspirou — mas eu tinha muito poucas pessoas quando vim pra cá, meu tio é uma pessoa complicada de lidar, e o Si me dava a confiança que eu não tinha.
Ele era bem estabelecido aqui, sempre me mimava de alguma forma, me fazia sentir merecedor, acolhido … amado. Antônio, meu tio, gostava dele, não para ser meu namorado porque pra ele isso é uma aberração, mas suportava a nossa presença juntos.
Só que, com o tempo, ele mostrou outro lado. Ele também era controlador, começou querendo saber onde eu ia, com quem, que horas ia e que horas voltava de cada lugar, por que não tinha levado ele. Não importava se era com meus amigos, meus colegas do trabalho, ele ficava muito puto se não podia ir junto. — suspirou — Escalou pra que eu postava fotos demais, e tinha gente demais nas redes sociais, e pessoas demais na minha vida e amigos demais.
Pra que contava minha vida para os outros? Se tinha ele. Pra que precisava conviver com outras pessoas, se tinha ele — Mais um suspiro, acompanhado de um gole de café e a mão do loiro secando a lágrima que escorria no rosto do preto.Estavam lado a lado no sofá, Ramiro se encolhia segurando sua xícara enquanto Kelvin o olhava atento. Queria abraçá- lo, dizer que estava tudo bem, que o tal Si (Silvio, talvez?) não estava mais lá. Mas ele sabia que não tinha como protegê- lo de nada.
— E como você conseguiu sair disso?
— Esse é o ponto Kelvin, eu não sei se consegui. Eu terminei com ele inúmeras vezes, depois que descobria cada traição, depois que conversava com meus amigos, depois de cada vez que ele me fazia parecer completamente maluco, se é que ele não me deixou completamente maluco — riu — eu acho que até agora alguns dos meus amigos pensam que eu fiz um monte de coisas que eu não fiz, acham que eu sou doido de um monte de jeitos que eu não sou. Porque ele tem a capacidade de distorcer tudo, de manipular tudo. De me manipular.
Eu terminei com ele inúmeras vezes, mas voltei inúmeras também. Bloqueei tantos números que já perdi a conta, mas atendi tantas ligações de números novos.
Agora eu entendo muito mais, eu sei que somos só ruínas do que podíamos ser — suspirou — ele não me conquista com palavras vazias e tons de voz tranquilos. Mas mesmo assim, eu nunca sei se realmente sai ou é só questão de tempo pra entrar de novo.
— E você tentou, sei lá, fazer terapia? ou, não sei, se relacionar com outras pessoas? Tá bom, são exemplos completamente opostos, mas os dois acabam ajudando, até na autoestima, sabe?
— Eu faço terapia sim, não faz tanto tempo mas faço, e tem me ajudado. E sobre me relacionar com outras pessoas… ta interessado, gatinho? — disse em tom de deboche e riu ao ver o loiro revirando os olhos — é claro que tentei, mas acho que é uma coisa diferente, de sentimento, sabe? Quando a gente começou, eu quase nem conhecia ele, mas ele despertou muito de mim.
Eu sempre procurei esse sentimento de novo, a sensação de simplesmente sentir, sentir tudo, muito, de me sentir confortável, aceito já de cara, de me sentir eu. Chega a ser irônico como tudo o que eu senti no começo, ele me tirou em algum ponto. Eu acho que nunca mais senti, eu tinha bloqueado tudo … até que — se cortou rapidamente, ficando corado — Enfim, é complicado
Kelvin notou o corte seco de preto, mas não queria se intrometer mais do que já estava fazendo, ofereceu apenas um sorriso e um pequeno carinho na barba.
— Pois é, preto, muita terapia pra nós, eu não quero me meter na sua vida, mas as relações abusivas são assim mesmo. A gente precisa de pessoas perto, nas que possamos confiar, pra conseguir realmente enfrentar.
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Duas vidas, dois mundos
FanfictionOnde Kelvin precisa começar de novo, mais uma vez, agora do outro lado do oceano. Mas a vida vai lhe fazer entender que não importa o recomeçar, o que te faz ser quem você é, não pode ser deixado para trás. Ou Onde Ramiro quer finalmente ir embora...