Capítulo XIV

76 11 6
                                    

A escuridão da floresta era cortada apenas pelos lampejos das espadas em combate. O som de aço contra aço ecoava entre as árvores, enquanto os gritos de batalha reverberavam na noite. Eu estava no meio do caos, minha espada dançando em um arco mortal. Meu corpo movia-se com uma agilidade furiosa, cada movimento impulsionado pela raiva e pela frustração acumuladas nas últimas semanas. O suor escorria pelo meu rosto, misturando-se com terra e sangue que marcavam minha pele. Avancei contra um soldado humano, desviando do golpe pesado de seu machado e girando rapidamente para acertar a lateral de sua armadura. Ele gritou de dor e caiu de joelhos, deixando-me avançar para o próximo adversário.

- Raça imunda! - gritou um dos soldados, avançando contra mim com a espada erguida.

Desviei de seu golpe, girando sobre o calcanhar e acertando-lhe um chute no estômago, seguido por um golpe ascendente com minha lâmina. Seu grito de agonia foi sufocado enquanto ele caía no chão, e eu me preparei para o próximo ataque.

- Vocês não são nada além de lixo! - outro soldado rosnou, tentando me atacar por trás.

Virei-me rapidamente, nossas espadas se encontrando em um choque ensurdecedor. A força do impacto fez minhas mãos formigarem, mas eu mantive a postura. Empurrei-o para trás com um movimento brusco, aproveitando sua hesitação para desferir um golpe horizontal que cortou seu abdômen. Ele cambaleou, e eu finalizei com um golpe preciso que atravessou sua armadura.

A cada inimigo derrotado, minha raiva aumentava. Era como se cada golpe fosse uma liberação da dor e da frustração que eu sentia pela ausência de Camila. As lembranças de seus sorrisos, seu toque e seu cheiro me atormentavam, alimentando minha fúria.

Outro soldado avançou contra mim, e eu recuei, esquivando-me de seus golpes com uma destreza quase instintiva. Ele balançou a espada horizontalmente, e eu abaixei-me, girando rapidamente para cortar suas pernas. Ele caiu com um grito, e eu terminei o trabalho com um golpe final.

- Você vai pagar por isso, elfa maldita! - um soldado ao longe gritou, avançando com uma lança.

Com um movimento ágil, puxei meu arco e preparei uma flecha. Ele estava se aproximando, os olhos fixos em mim com ódio. Minha respiração estava pesada, mas a precisão era firme. Soltei a flecha com uma força controlada, e ela cortou o ar, atravessando o olho do soldado. Ele caiu de joelhos, a lança escapando de suas mãos enquanto sua cabeça se inclinava para o lado. O impacto foi tão certeiro que ele caiu no chão com um estrondo, um buraco sombrio em seu rosto ensanguentado.

O campo de batalha era um caos de corpos e sangue, mas minha mente estava focada em um único objetivo: sobreviver e vencer. Cada movimento, cada golpe era calculado e executado com precisão. Eu era uma força imparável, movida pela raiva e frustração. Camila não apareceu no dia após o resgate de Lia. Nem no dia seguinte. Nem nos próximos dias. Duas semanas se passaram, e cada dia sem vê-la era uma tortura silenciosa que eu carregava em meu peito. A clareira, que antes era um lugar que eu ansiava para estar, agora parecia vazia e desolada, um reflexo do meu próprio coração.

Quando cheguei à vila no dia que Camila me deu o mapa, o apresentei ao comandante Clint, alegando que o havia encontrado em uma de minhas patrulhas. Na verdade, isso era uma mentira descarada. Eu não patrulhava a floresta adequadamente há meses; a última vez que fiz isso foi antes de conhecer a princesa. No entanto, sabia que Clint não precisava saber disso. A qualidade do mapa e as informações que ele continha eram válidas, e eu precisava aproveitar a oportunidade para me envolver na missão. Clint, ao perceber o valor das informações, imediatamente me chamou para participar da missão, e eu aceitei de bom grado como forma de distrair a mente e canalizar minha raiva para algo produtivo.

Agora, enquanto observava o campo de batalha após a vitória, eu me via refletida na cena. Meu rosto estava coberto de sangue seco, com uma expressão feroz que mostrava a intensidade do combate. Minha armadura negra estava manchada e arranhada, um testemunho dos muitos golpes e ataques que eu havia enfrentado. A espada que eu empunhava estava salpicada de sangue e cacos de armadura, brilhando sob a luz fraca da lua. A visão de mim mesma, com o rosto marcado e a armadura ensanguentada, era quase surreal. Era a personificação de uma luta não apenas contra os inimigos, mas contra a dor e a frustração que se acumularam dentro de mim.

Between Two Crowns (Carmen)Onde histórias criam vida. Descubra agora