Capítulo II

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A princesa escutou seu nome ser chamado de dentro dos muros do castelo. A voz era de Lia, provavelmente a procurando. Virou-se para onde vinha o som, com medo de que a elfa fosse atrás de sua amiga. Mas, quando voltou a olhar para a criatura, ela já havia sumido.

Respirando fundo, saiu correndo em direção à abertura no muro, determinada a deixar aquele local misterioso para trás. Ao passar pelo portal e entrar nos terrenos do castelo, ela desacelerou, tentando aparentar calma.

— Camila! — Lia apareceu correndo pelo jardim, os olhos cheios de preocupação. — Onde você estava? Estava te procurando por toda parte!

Ela forçou um sorriso, seu coração ainda acelerado pelos eventos recentes.

— Desculpa, Lia. Fui dar uma volta pelo jardim e acabei perdendo a noção do tempo. Não queria te preocupar.

Lia suspirou aliviada, mas seus olhos ainda mostravam uma pontada de desconfiança.

— Você sabe que não deveria ir tão longe sozinha. E se algo tivesse acontecido? — Ela pegou sua mão, puxando-a gentilmente em direção ao castelo. — Vamos, o jantar está quase pronto e você precisa estar presente.

— Jantar? Céus, Lia, eu estou muito ferrada! — exclamou, a preocupação evidente em sua voz.

— Por quê? O que aconteceu? — perguntou, parando e olhando pra ela com seriedade.

— Papai disse para eu voltar para o almoço — respondeu, seus ombros caindo ao lembrar do pedido do pai.

Ela a olhou por um momento com um olhar sério, mas não aguentou e soltou uma gargalhada estrondosa.

— Lia, pare de rir! — reclamou cruzando os braços. — Ele não vai me deixar sair mais e eu já nem saio desse buraco.

Lia enxugava as lágrimas dos olhos, ainda rindo.

— Isso é a sua cara mesmo, Camila. Mas ele não ficará tão bravo. — Tentando conter a risada, deu um tapinha reconfortante no ombro da amiga. — Vamos, talvez a gente consiga resolver isso antes que ele perceba.

Ela suspirou, mas não pôde deixar de sorrir um pouco diante da animação de Lia. As duas caminharam rapidamente para dentro do castelo, passando pelos corredores movimentados e subindo a escadaria que levava aos aposentos do rei.

— Primeiro, vamos ver se conseguimos um pouco de comida para você — sugeriu, guiando-a em direção à cozinha. — Se ele perceber que você não estava no almoço, pelo menos estará de estômago cheio para enfrentar a bronca.

Na cozinha, encontraram Marta, a cozinheira do castelo, que levantou as sobrancelhas ao vê-las entrar.

— O que vocês duas estão aprontando agora? — perguntou ela, meio brincando, meio preocupada.

— Marta, precisamos de um prato rápido para Camila. Ela perdeu o almoço e precisa estar presente no jantar sem parecer que passou o dia todo fora — explicou com um sorriso.

Marta balançou a cabeça, mas começou a preparar um prato de comida.

— Vocês jovens sempre arranjam um jeito de se meterem em confusão — disse, mas havia um brilho afetuoso em seus olhos.

Marta era uma mulher de meia-idade, com cabelos grisalhos presos em um coque frouxo, algumas mechas escapando para emoldurar seu rosto. Seus olhos castanhos, sempre brilhando com uma mistura de sabedoria e ternura, eram ladeados por rugas formadas por anos de sorrisos e risadas. Sua pele bronzeada, marcada pelo tempo, refletia sua vida dedicada ao trabalho duro na cozinha do castelo. Vestia-se com um avental sempre impecavelmente limpo, apesar do caos culinário ao seu redor.

Between Two Crowns (Carmen)Onde histórias criam vida. Descubra agora