Capítulo XV

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Eu observava enquanto as mãos de Lauren deslizavam sobre minha pele com carinho e cuidado. Ela se movia com uma delicadeza que fazia meu coração doer ainda mais, sabendo que eu havia causado essa preocupação. Seus dedos eram firmes, mas suaves, e eu podia sentir o calor de sua pele através da pomada fria que ela aplicava em meus machucados. Ela estava concentrada, as sobrancelhas grossas e escuras franzidas em um misto de atenção e dor.

Desde o momento em que ela me viu, Lauren não havia me soltado. Assim que percebeu meu estado, envolveu-me em um abraço forte, desesperado, como se tivesse medo de que eu desaparecesse se me soltasse. Eu podia sentir a intensidade de seu coração batendo contra meu peito e a forma como seus braços me seguravam, como se ela pudesse me proteger de tudo apenas me mantendo ali, segura em seu calor. E, naquele momento, acreditei que ela podia.

Ela se afastou apenas o suficiente para que pudesse ver meus ferimentos mais de perto, e a preocupação em seu olhar me cortava mais profundamente do que qualquer um dos machucados que eu carregava. Eu sabia que ela estava tentando entender, tentando montar o quebra-cabeça de como eu havia acabado daquele jeito. Mas como eu poderia explicar? Como poderia colocar em palavras o terror de estar presa naquele castelo, sob a ira de um pai que, ao voltar mais cedo do reino de Lothyir, encontrou-me no jardim tentando escapar? Cada uma dessas marcas que Lauren agora observava com tanto cuidado era um testemunho das minhas tentativas frustradas de fugir, das minhas falhas, e da crueldade que meu pai reservava para mim. Ele estava com tanta raiva, um ódio fervilhante que nunca havia visto em seus olhos antes. Eu tinha tentado fugir várias vezes, escalando muros, correndo pelos corredores escuros, mas sempre era pega, e cada tentativa falha resultava em mais marcas, mais dor. Eu sabia que Lauren queria saber tudo isso, mas eu não podia, não queria, contar a ela. Não queria que ela soubesse o quão fraca eu tinha sido, o quanto eu tinha falhado. Eu podia ver a dúvida em seus olhos, a confusão sobre o que dizer, sobre como reagir ao meu estado. Ah, como eu senti falta desses olhos - olhos que sempre me observaram com tanta intensidade, que sempre conseguiram me fazer sentir vista, como se eu fosse a única pessoa no mundo que importava.

- Ei. - Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto eu levantava seu rosto com uma das mãos, forçando-a a olhar para mim. Seus olhos encontraram os meus, e eu senti uma onda de emoções me inundar. - Senti tanto a sua falta, Lo.

Ela piscou algumas vezes, como se estivesse tentando afastar as lágrimas que começavam a se formar em seus olhos. Por um momento, pensei que ela fosse chorar, mas, em vez disso, ela simplesmente fechou os olhos e encostou sua testa na minha. O silêncio entre nós era cheio de palavras não ditas, de perguntas que ela não queria fazer, mas eu sabia que ela não poderia evitar.

- Camila... - Lauren finalmente sussurrou, sua voz tremendo levemente. - Eu fiquei tão preocupada... - Sua voz falhou, e ela respirou fundo, tentando se recompor. - Por favor, me conta o que aconteceu. Eu... eu preciso entender. Eu sei que da última vez não tivemos um encontro muito bom, me desculpe por tudo o que eu disse, eu...

Antes que ela pudesse continuar, eu a calei com um beijo. Nossos lábios se encontraram em um toque breve, mas carregado de emoção e saudade. O beijo foi suave e urgente, uma tentativa de transmitir todo o sentimento que as palavras não conseguiam. Senti o gosto salgado de suas lágrimas, que escorriam silenciosamente e misturavam-se com o nosso beijo. Seus lábios estavam quentes e tremiam um pouco, como se ela estivesse se segurando para não se entregar totalmente ao desespero.

Seus braços se apertaram em torno de mim, suas mãos envolvendo meu rosto com uma intensidade que falava mais do que qualquer palavra poderia. Ela parecia querer que aquele momento durasse para sempre, que o tempo parasse e não deixasse espaço para mais perguntas ou dúvidas.

Quando finalmente nos separamos, nossos olhares se encontraram, Eu podia sentir sua frustração, sua impotência. Sabia que não poderia esconder tudo dela para sempre, mas também sabia que não estava pronta para revelar os detalhes do que tinha vivido. Eu queria protegê-la da verdade; conhecia bem sua tendência a explodir em raiva e a determinação de ir atrás de meu pai a qualquer custo.

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⏰ Última atualização: Aug 27 ⏰

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Between Two Crowns (Carmen)Onde histórias criam vida. Descubra agora