Capítulo 8

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Os dias se arrastavam, um após o outro, como sombras que se estendiam sob o peso das lembranças que Khaotung não conseguia sacudir. O crime que havia testemunhado ainda ecoava em sua mente, uma imagem vívida que se recusava a desaparecer. Era como se estivesse sendo vigiado, uma presença invisível sempre à espreita, pronta para se revelar. O medo o consumia, transformando o jovem alegre e brincalhão em uma versão de si mesmo que ele mal reconhecia.

Thor, Peat e Leng, haviam notado a mudança. O brilho nos olhos de Khaotung se apagou, e seu sorriso se tornou uma máscara frágil. Ele estava sempre alerta, como um animal encurralado, e isso não passou despercebido. Peat, em particular, sentiu a necessidade de agir.

— Fala logo Khao, o que tá acontecendo com você? — questionou, a preocupação evidente em sua voz.

Khaotung hesitou, uma tempestade de emoções se formando dentro dele. — Não tá acontecendo nada, por que?

— Há quanto tempo a gente se conhece? — Peat insistiu, estudando o amigo.

— Uns seis anos,eu acho.— respondeu Khaotung, tentando manter a calma.

— Exatamente! Seis anos, você acha mesmo que eu não saberia quando tem alguma coisa errada com você? Anda, fala logo o que tá acontecendo. Até o Thor, que fica choramingando pelos cantos pelo término do namoro, tá preocupado com você. Até Leng comentou que você tá estranho,e olha que a única coisa que aquele garoto presta atenção de verdade é nos livros.

O coração de Khaotung acelerou. Ele não queria envolver os amigos na escuridão que o cercava. O medo de que eles pudessem se machucar de alguma forma o impediu de abrir a boca sobre o que realmente o atormentava. Assim, ele inventou uma desculpa qualquer, na esperança de que isso fosse suficiente.

— Tô me sentindo meio sozinho, só isso. — Foi a primeira coisa que lhe veio à mente.

Peat, em sua natureza solidária, não hesitou. — Então é isso? Por que não disse antes?Hoje eu vou pra sua casa ficar com você!

— Eu também vou! — Thor interveio na conversa, queria estar ali pelo amigo também, apesar do lamento por sua própria tristeza.

— Perfeito, nós três juntos tomando vinho e maratonando filmes como na época da faculdade. — Peat sorriu satisfeito, sem saber da tempestade que se formava no coração de Khaotung.

Enquanto os amigos cuidavam de seu negócio e planejavam a noite, Khaotung se sentiu um pouco mais leve, mas a sombra das lembranças ainda o seguia. Ele sabia que o escape temporário não resolveria seu tormento, mas, por agora, a presença deles era um tipo de abrigo contra a escuridão que o assombrava.

...

Khaotung estava sentado em sua sala, com um olhar distante e perdido, como se estivesse em outro mundo. Thor e Peat sabiam que seu amigo não estava bem, então levaram consigo umas garrafas de vinho, petiscos deliciosos e a intenção de muita conversa fiada, na esperança de animar o amigo,mesmo que não soubesse o real motivo do comportamento estranho do amigo. O papo dele se sentir sozinho não tinha colado.

Assim que chegaram à casa de Khaotung, notaram que o clima estava pesado.

Thor ainda sofria com o recente fim de seu relacionamento, enquanto Khaotung parecia atormentado pelos pensamentos, com a cena que testemunhara alguns dias antes no beco,e que guardava pra si. Querendo trazer um pouco de leveza para a situação, Peat teve a brilhante ideia de maratonar filmes de comédia.

Com a sala preparada, os amigos se acomodaram e começaram a assistir aos filmes. Logo, as piadas e situações engraçadas na tela começaram a arrancar sorrisos e risadas de todos.

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