First,após a noite um tanto quanto caótica,mais caótica que o normal, finalmente havia chegado em seu amado lar. O ar pesado de sua rotina noturna agitada cedia lugar à tranquilidade de seu apartamento. A porta se fechava atrás dele com um clique suave, o isolando do caos urbano e abafando os sons distantes da madrugada de Bangkok.
O que contrastava tremendamente com sua vida cotidiana era a atmosfera que o recebia em casa. O apartamento era um oásis de luxo e sofisticação ,o completo oposto da insalubridade do mundo lá fora,do cotidiano de First. Suas paredes ecoavam um gosto refinado, com obras de arte cuidadosamente selecionadas adornando os espaços. A iluminação suave banhava o ambiente em um calor aconchegante, o local era um refúgio tanto para o corpo quanto para a mente agitada de Kanaphan.
First se dirigiu ao banheiro, onde a mistura de cansaço e adrenalina seriam cessados sob a ducha quente e relaxante.
Enquanto a água caía sobre seu corpo, limpando a sujeira e as marcas de mais um dia corriqueiro em sua vida caótica, ele examinou a ferida em seu braço:era superficial,e ardia um pouco com o toque da água quente "maldito idiota que atirou em mim,pelo menos teve o fim que mereceu" pensou consigo,maldizendo internamente o infeliz que se atreveu a tentar ferí-lo. Após seu banho, com precisão metódica, limpou o corte, aplicou um desinfetante e o cobriu com um curativo.
Ao sair do banheiro enrrolado em um roupão de tecido fino, First se deu conta de que com o rebuliço da noite,não havia comido nada, seu estômago começava a queimar de fome.
Em sua cozinha, que era mais um exemplo brilhante de modernidade e luxo,assim como o resto do apartamento, First não perdeu tempo,foi a procura de algo para se alimentar, não tinha muita opção já que ele geralmente comia na rua. Só o que tinha eram embalagens e mais embalagens de macarrão instantâneo,se deu por satisfeito,era algo que podia preparar rapidamente, comer e então ter o merecido repouso dos justos
Enquanto comia, seus pensamentos se deslizaram para o jovem que tinha presenciado seu pequeno ato de justiça no beco. First sabia que precisava encontrar aquele rapaz,precisava ter certeza de que não tinha sido visto e caso fosse reconhecido,tentaria pensar em alguma medida pra calar o jovem.
Após finalmente se alimentar,foi em direção a seu banheiro novamente,escovou os dentes e finalmente pôde se jogar em sua cama grande e confortável, então finalmente adormeceu.
Khaotung, diferente de First, estava em casa, mas ao contrário do refúgio pacífico que o maior deleitava, para Khaotung cada sombra, cada barulho sutil era uma ameaça, um lembrete do que ele tinha visto e sentido,do um terror palpável que tornava o conforto de sua própria casa uma grande ilusão.
Ele se encontrava em total estado de alerta após testemunhar aquela cena pavorosa no beco. A figura do homem alto o assombraria por muito tempo dali em diante.Durante toda noite,quando seus olhos não aguentavam mais e se fechavam entregues à exaustão, Thanawat se via novamente naquele cenário impactante através de seus sonhos, ou melhor,pesadelos. Então o ciclo de sensações físicas desconfortáveis se reiniciava,e assim foi por toda a noite, adormecia vencido pelo cansaço,acordava ofegante e com o coração acelerado revivendo de novo e de novo aquela cena pavorosa.
Após uma noite mal dormida, Khaotung estava exausto e consumido pelo medo. Os planos de ir até a feirinha de livros para comprar exemplares para seu Book Café foram adiados. O jovem estava com medo de ter sido visto e do que poderia acontecer com ele caso colocasse os pés pra fora de casa. Seus pensamentos estavam tomados pelo pavor e sua mente não parava de imaginar possíveis desfechos terríveis. Ele tinha a sensação de que estava sendo observado constantemente e isso o deixava paranoico.
Khaotung sabia que precisava encontrar uma maneira de superar esse medo e seguir em frente,mas não naquele dia. Se limitaria a ficar em casa,trancado e remoendo de novo e de novo a noite passada. "Ser fã de histórias de true crime agora está me deixando maluco" Thanawat pensou, sabia que se o homem o tivesse visto,muito provavelmente iria atrás dele.
-E se eu juntar minhas coisas e ir embora daqui?- disse conversando com Montow,como se esperasse por alguma resposta do felino.-merda pior que ninguém pode saber disso,vão querer que eu vá até a polícia mas eu não sei como esse cara é,vai ser inútil. Vou manter minha boca fechada pra segurança de todo mundo,quem sabe ele só deixe isso tudo pra lá.
Khaotung, depois de remoer repetidamente a cena horrível que havia testemunhado na noite anterior, teve sua atenção voltada para o celular que não parava de vibrar. Eram Peat e Thor, preocupados com o fato de que o amigo não havia respondido uma única mensagem durante toda a manhã. Khaotung disse que estava apenas distraído, omitindo o fato de que havia literalmente testemunhado um assassinato na noite anterior.
A conversa entre eles começou a fluir, e Peat comentou sobre uma foto que Thor havia postado em suas redes sociais. Era uma imagem de duas mãos entrelaçadas, e foi o suficiente para começarem as brincadeirinhas. Eles começaram a dizer que Thor não tinha nenhum namorado e que ele inventava esse relacionamento. Infelizmente, as brincadeiras acabaram chateando Thor, que decidiu ignorar o resto das mensagens que chegavam no grupo.
Mesmo com sua mente atormentada pela cena horrível que havia testemunhado, Thanawat tentou acompanhar a conversa e até mesmo rir das piadas. Ele sabia que precisava se distrair e manter uma aparência de normalidade, mesmo que por dentro estivesse sofrendo.
(...)
Thor, sentado no sofá de sua casa, olhava pra tela do seu celular e não pôde evitar que seu rosto formasse uma carranca. Ele sabia que algo estava errado, odiava esse relacionamento "secreto". Fluke imediatamente notou a expressão preocupada e triste no rosto do mais novo.
-Por que essa expressão séria, amor? O que está te incomodando?- Fluke perguntou de forma manhosa.
Thor suspirou,apertou os olhos, não queria ter essa conversa de novo.
-Não entendo por que você não pode conhecer meus amigos. Estou cansado deles duvidando do nosso relacionamento. Não vêem que você é parte da minha vida,as vezes até eu tenho dúvidas se somos reais!Fluke entendeu a preocupação de Thor. Ele sabia que a vida que vivia era perigosa e que se o expusesse, poderia colocar Thor em perigo. Ele não queria que seus inimigos descobrissem existência de seu amado e usassem isso contra si.
-Amor, eu entendo o que você está sentindo. Mas você tem que entender existe um motivo para eu não tornar público o nosso namoro. Se eu te expuser, temo com o que possa acontecer com você . Eu quero protegê-lo a todo custo- explicou Fluke.
Thor queria entender seu amado , mas não conseguia evitar a frustração de esconder seu relacionamento de seus amigos. Ele sabia que teria que encontrar um equilíbrio entre ser namorado de Fluke e ter que esconder isso do mundo.
-Entendo, Fluke. Vou tentar encontrar uma maneira de lidar com essa situação. Mas por favor, entenda que é difícil para mim esconder quem você é. Preciso que meus amigos saibam a verdade-disse o mais novo,mostrando sua vulnerabilidade.
-Me chamando de Fluke? Tá tão chateado assim?-O mais velho falou manhoso, tentando chamar atenção de seu amado.- Você é a pessoa mais importante da minha vida, é a pessoa que eu mais amo,por favor acredita em mim. Eu só quero te proteger.
-Eu não duvido, acredito que queira me proteger. Mas me proteger do quê exatamente? Droga,as vezes sinto que não te conheço.-Thor reclamava frustrado, parecia que o mundo do casal só existia dentro de quatro paredes,estavam juntos a tanto tempo mas não se conheciam de verdade. Tal sentimento causou um aperto em seu peito- Amor,hoje eu quero ficar sozinho, você poderia por favor ir embora?
Fluke pego de surpresa pelo pedido repentino, não viu outra opção a não ser acatar. Sentia seu coração partido em ver a única pessoa que amava estava sofrendo por escolhas que nem mesmo haviam sido feitas por ela.
-Sinto muito amor,por ser quem sou. Eu queria que você nunca tivesse tido a má sorte de ter me conhecido. Eu te amo de verdade,mais que qualquer coisa nessa vida,eu te amo muito. Porém entendo seu lado. Vou indo agora,se precisar de qualquer coisa pode me ligar que eu venho correndo.- deixando um selar no topo da cabeça de Thor,que tinha o rosto tão vermelho quanto um tomate por estar segurando o choro,Fluke se despediu- Ei,não se esqueça,eu amo muito você!
O mais novo não respondeu,ficou ali parado,olhando seu amor ir embora ,se afastar lentamente em direção a saída e,assim que ouviu o clique da porta se fechando,caiu em prantos.
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Filhos da máfia
FanfictionQuatro irmãos com suas vidas destruídas pelo destino, finalmente conhecem o amor.