Capítulo 19

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"Mamãe está aqui, vem que eu te protejo
Deixe de sonhar demais
Pule o drama vem com a mama
Sua mãe sabe mais!" — Gothel, Enrolados

Agnes estava enrolada nos cobertores, segurando-os sobre a cabeça como se sua vida dependesse disso. Nada havia saído da forma como ela planejou, de fato, ela precisava de uma rota de fuga e Ergon ter surgido em sua frente, minimamente atraído por sua aparência, e sem muito conhecimento nesse aspecto, pareceu uma resposta da Deusa.

Mas ele era gentil a seu modo, e por mais que precisasse dele apenas uma vez, outras surgiram. E por iniciativa dele.

Agnes sabia que uma hora tudo chegaria ao fim, mas não se sentia motivada a dizer isso a ele. Quando o atraso em seu ciclo deu as caras, Agnes já sabia o que estava acontecendo.

Maegi sempre lhe dizia que uma bruxa conhece seu próprio corpo. No entanto, talvez mentir para si mesma era mais fácil do que lidar com sua mãe e suas "irmãs".

Ela pensou que Ergon não diria para ninguém sobre o acontecido, e que ele não precisava saber do que de fato acarretaria. Agnes mal o conhecia. Ela se sentia terrível, porque de início imaginou que ele era inepto e perfeito para seu objetivo.

Então ele disse aquelas palavras duras. Duras, porém merecidas. Ela sabia que havia o enganado, mas se ver livre do ritual era sua prioridade no momento.

Ele estava irritado e magoado. Uma reação que Agnes nunca iria prever. Maegi sempre lhe dizia que homens eram seres medíocres e que não se importavam com a consequência de seus atos.

O que não era de fato uma mentira. Agnes não se lembrava de uma única vez sequer que um homem teve interesse em cuidar de seu bebê homem. Muito pelo contrário, eles sempre acabavam sendo atirados em abrigos pela Senhora Alhena.

No entanto, Ergon não parecia disposto a ceder. Na verdade, ele parecia disposto a cuspir em suas tradições se fosse preciso...

"Aquele animal mal consegue cuidar de si próprio" foi o que Maegi esbravejou quando Agnes contou a ela sua conversa com o daemon. Instantaneamente ela sentiu um aperto no peito ao ouvi-lo ser chamado assim.

Ele não era um animal...

"Cachorrinho"

Agnes se encolheu, contendo o choro ao lembrar de como ele se auto denominou, enquanto tinha um olhar carregado de ódio. Ela nunca seria perdoada por ele...

Não houve mais tempo para choramingos, Agnes deu um pulo ao sentir o quarto ser invadido por uma iluminação. Tirando a coberta do rosto, ela se assustou ao ver Marge, Susannah e Sarah.

— Está na hora de acordar Agnes! — Marge disse com tranquilidade — Não fará bem ao bebê se você ficar enfurnada nesse quarto.

Agnes ainda não havia se acostumado a ser tratada como alguém importante. Era o que estava acontecendo, sua função de juntar lenhas foi passada para outra, Marge preparava um chá de ervas todos os dias para que ela tivesse forças para o parto, enquanto uma das gêmeas sempre a acompanhava quando estava dando um passeio.

Ela pensou que talvez fosse pelo bebê em seu ventre. Já que para as bruxas, era uma festa quando novas bruxinhas nasciam.

Foi bom. Agnes se sentiu constrangida em se aproveitar de uma situação tão caótica, mas foi maravilhoso ser tratada como parte. As bruxas a recebiam com atenção, conversavam com ela, perguntavam como ela estava se sentindo. Uma das bruxas mais jovens até trouxe para ela um livro sobre botânica.

Crônicas de Luz e Trevas: A Rebelião de AmetistaOnde histórias criam vida. Descubra agora