Reinos de Mysticat II - Elos Entre Irmãos

04 - O Peão Se Move

Mewthazar marchava pelas grandiosas portas do palácio de Nihsies, com seu coração batendo descompassado. Enquanto caminhava, mal conseguia respirar. Cada passo parecia ecoar como um trovão nos corredores de mármore, simbolizando a urgência e o desespero do vice-rei mago. A imagem de Heimewdall, retido e trancafiado na cela mais profunda da prisão da Doutrina Dourada, queimava em sua mente. Ele precisava salvá-lo; não importando o que lhe custasse. Não podia aceitar a ideia de vê-lo sofrer, “ainda mais”, de seu ponto de vista. E de acordo com o apelo de Heimewdall, somente o Rei Supremo poderia reverter essa situação. Por isso tinha que convencer a Rainha, precisava fazer com que ela enxergasse a verdade – ou, ao menos, sua versão dela.

Estava à beira de enlouquecer com a espera, quase a ponto de querer invadir aquele palácio para fazer com que alguém o escutasse. Contudo, conseguiu se conter, afinal, não seria capaz de libertar Heimewdall se acabasse preso também. 

Mas, finalmente, a Rainha havia se disposto a atendê-lo. A tensão crescia em seu peito, e ele lutava para manter a calma. Heimewdall simplesmente significava tudo para ele — fosse isso saudável ou não — além de ser literalmente o salvador de sua vida. Para Mewthazar, era o mínimo de sua obrigação ser agora o salvador de seu amado e livrá-lo do que acreditava ser um grande mal entendido injusto. 

Ao se aproximar das portas do salão do trono, o felin mago fez uma pausa e  respirou fundo, tentando acalmar seus nervos. Ciente da antipatia que Anmyuu sentia por Heimewdall, sabia que estava prestes a enfrentar possivelmente um dos maiores desafios de sua vida. Precisava ser convincente, firme e inabalável. Sua personalidade condescendente e a falta de autoconfiança tornavam tudo um desafio ainda maior. No entanto, estava disposto a fazer isso por Heimewdall. Seu amor platônico seria sua força motriz. De uma forma ou de outra, estava determinado a fazer a Rainha entender que Heimewdall merecia uma chance de pelo menos se explicar.

Com a determinação renovada, empurrou as portas e adentrou o salão. Já esteve naquela sala do trono inúmeras vezes no passado junto a Heimewdall, contudo, a atmosfera do lugar parecia completamente mudada dessa vez.  As colunas imponentes do salão branco e dourado erguiam-se tal qual gigantes ao seu redor, como sentinelas a vigiar cada um de seus movimentos; e os retratos dos reis e rainhas do passado junto às famílias reais de cada geração pareciam mais vivos do que nunca, com seus olhares de tinta a óleo sobre as telas o julgando em silêncio.

E lá estava Anmyuu em seu trono de Rainha Suprema, como a figura serena e majestosa que todos reverenciavam. Seus olhos indecifráveis pousaram em Mewthazar assim que ele atravessou, avaliando-o cuidadosamente.

— Rainha Suprema — começou Mewthazar, com a voz embargada pela tensão, porém firme — Estou aqui em nome do vice-rei Heimewdall para solicitar humildemente que ele seja libertado. Acredito que tudo não passou de um mal entendido familiar e que, se ele tiver uma chance de se explicar, o Rei Supremo compreenderá suas ações e poderá perdoá-lo.

A Rainha se manteve em silêncio por um momento, estudando-o com atenção. O salão parecia respirar junto com a tensão palpável no ar. Até que, de impassível, o olhar da soberana tornou-se rígido e frio. A expressão em seu belo rosto era uma máscara de pura impaciência e irritabilidade. 

— “Vice-rei” você diz? — Ela questionou com descontentamento, cruzando os braços de forma imponente — Heimewdall não é vice-rei. Aquele crápula não detém mais nenhuma posição política ou título de realeza há vinte anos, tenho certeza que você está bem ciente disso, lorde Mewthazar. E mesmo que antes estivesse se valendo inapropriadamente desse título, ele foi deposto pelo Rei Supremo ontem, de qualquer maneira. Além disso, Kinmyuu não está aqui agora, então não vejo necessidade alguma de seguirmos com a farsa que fui obrigada a manter pelo bem do meu marido e dos reinos deste mundo. Portanto, se veio aqui para falar por ele para mim, então que no mínimo sejamos francos e diretos.