Kelvin acordou com uma dor de cabeça dos infernos, tinha bebido até as tantas com Iná e Luana, elas não sabiam a hora de parar e ele era completamente sem freios.
Lembrava de tudo que aconteceu antes da manguaça mas gostaria de esquecer. Se encantou de novo por um peão e caiu na cama com ele.
Era perigoso porque se Candida descobre que transou de graça, dentro do bar mesmo depois de pedir a ela pra dar um tempo nos programas, ela o esfola vivo.
Mas como resistir? o peão era um fofo, sorriu o tempo todo pra ele, mandava beijo e aquela barba...meu deus. Na cama muito bom, mas teve que tocar ele igual cachorro do quarto, porque Flor estava indo pra lá com um cliente.
Ficou tão atordoado que acabou perdendo seus brincos favoritos. Tomou uma dipirona, vestiu um moletom confortável e correu até o quartinho pra procurar.
Os brincos estavam na cabeceira, ele os pegou e enfiou no bolso da calça mas algo próximo ao pé da cama o chamou atenção, uma carteira velha, puída.
Pegou e a abriu, tinha um documento e a foto era do rapaz da noite anterior, tinha um sorriso tímido no rosto, Kelvin achou uma graça, vasculhando mais não achou dinheiro nenhum apenas um papel dobrado várias vezes.
Ele pegou com cuidado, abriu e tentou ler o que estava escrito, mas não era nada, um monte de letras jogadas rabiscadas formando palavra nenhuma, mesmo assim ficou intrigado, botou de volta e guardou a carteira no bolso da blusa.
Chegando na frente do bar já tinha alguns clientes tomando café e outros tomando cachaça. Caio era um deles. Ultimamente o canalha não saía dali, tava doido de amor por Iná.
- Num sai mais daqui em? - disse se inclinando sobre a mesa - trás suas tralhas de uma vez.
- Tenho negócios importantes pra tratar aqui.
- Sei - puxou uma das cadeiras e se sentou de frente pro La Selva - e aquele seu amigo de ontem em? é novo aqui?
- O Ramiro? é novo sim - riu debochado - e cê num perdeu tempo em? fez até o cabra chorar!
- Como assim? - o olhou confuso.
- Quando o Dante e eu saímo ele tava lá enfurnado no carro, de cara inchada e chorando sem parar, num quis falar o que era não, só disse pra num preocupar que era bobagem dele.
- Tadinho - fez um bico mostrando que tava triste pelo peão - onde ele tá agora?
- Deve tá dormindo ainda, la no alojamento dos peão... pra quê?
- Tenho uma coisa pra devolver pra ele.
- Da aí que eu devolvo - Caio estendeu a mão pra Kelvin que meteu um tapa nela.
- É confidencial querido - sorriu sínico - onde fica esse alojamento ai?
~
Caio disse que o levaria até la, que era um caminho chato pra andar a pé. Foi o caminho todo pensando o por que de Ramiro estar chorando depois de transarem, 'deve ter se arrependido, achando que vai pro inferno' concluiu.
O La Selva deixou ele na porta do lugar, por fora parecia uma casa normal mas por dentro tinha um corredor enorme com pelo menos umas dez portas.
Bateu na ultima da esquerda onde Caio disse que era o quarto de Ramiro. Esperou alguns segundos até ele abrir a porta.
Kelvin quase babou quando viu o homem, sem camisa e de calça de pijamas, parecia esculpido. Não conseguiu formular palavras só ficou ali parado de boca aberta.
- Tá fazeno o que aqui? - foi Ramiro quem quebrou o silêncio - para de me olhar assim.
- Tô contemplando a vista - sorrindo lambeu os lábios - não vi direito ontem, tava escuro.
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inefável
RomanceRamiro, peão analfabeto recém chegado na cidade conhece Kelvin, garoto de programa. O sonho de Ramiro é aprender a ler e escrever para por em palavras o que tem em si. Kelvin conhece precariamente as palavras e mesmo assim é toda a ajuda que ele pr...