chico

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Finalmente marcaram a data do casamento, realizariam tudo na fazenda e por segurança deles próprios abriram mão da cerimônia grandiosa e resolveram chamar apenas quem era realmente querido por eles.

Fizeram também suas matrículas na escola, ficariam em salas separadas e Ramiro quase surtou quando soube mas com paciência e jeitinho Kelvin conseguiu acalmar o futuro marido.

Se casariam dali a trinta e poucos dias, começariam o curso noturno em poucos meses, no próximo ano. Tudo estava encaminhado, eram felizes, a rotina que estabeleceram era boa, tinham familiares por perto, principalmente uma criança curiosa e sapeca que enchia o dia de cores.

Numa segunda feira fria Ramiro decidiu ficar em casa curtindo preguiça com Kelvin, deu folga pra Angelina ir visitar as sobrinhas, os peões só fizeram as tarefas básicas pra alimentar o gado e se recolheram também.

— Rams, queria fazer um bolinho de laranja, mas não tem laranja aqui — Kelvin disse com uma carinha triste — que outro sabor você quer?

— Amor, se você quer bolo de laranja eu busco pra você — disse se levantando do sofá e vestindo seu casaco — já volto.

A chuva do dia anterior deixou um verdadeiro lamaçal no caminho que ele precisava fazer até o pomar. Teve dificuldade de andar com o sapato cheio de barro, mas chegou.

Pegou fruta demais, a sacola talvez não aguentasse então abraçou ela contra o peito e continuou seu caminho, pensando que precisaria tomar um banho pra tirar a sujeira que as arvores deixaram em si.

Em um certo ponto da caminhada de volta, quase saindo do enorme pomar, sentiu um cheiro forte de carniça, com certeza havia morrido algum bicho por ali. Procurou no meio do mato alto e fez uma anotação mental pra pedir que alguém desse uma bela capinada ali.

Tomou um susto quando viu a fonte do cheiro, uma cachorrinha morta e três filhotinhos ainda na placenta, morreu de pena, pensou em enterrar mas não tinha nada por perto pra cavar um buraco.

Estava pensando no que faria quando ouviu um choro baixinho vindo de bem perto, vasculhou o mato com a mão e achou o filhotinho deitado, parecia fraco demais, devia estar ali a uns três dias pelo menos e ainda estava vivo, um mini guerreiro.

— Oh bebê, vem comigo vem!

O pequeno vira-lata fez um barulhinho baixo em resposta enquanto Ramiro o pegava no colo.

— Tá com frio pequeno? — disse quase chorando pensando que a qualquer momento o filhotinho poderia morrer — como eu faço pra te deixar quentinho?

A única ideia que teve foi colocá-lo dentro do bolso interno de seu casaco. o cãozinho coube bem lá dentro. Ramiro deu outra vasculhada pra tentar encontrar algum irmãozinho dele vivo por ali, mas não achou e seguiu seu caminho. Depois voltaria pra enterrar a mãezinha dele.

Cortou um dobrado pra conseguir carregar a sacola de laranjas e tomar todo cuidado pra não machucar o bebê em seu bolso.

— Amor! — exclamou Kelvin quando viu o noivo chegando — fiquei preocupado, que demora.

— O caminho até o pomar tava atolando demais, me sujei inteiro.

— Oh meu bem, se eu soubesse nem tinha deixado você ir — se aproximou do preto ficando na ponta do pé pra beijar o rosto do peão — tadinho do meu am- QUE ISSO?

Um barulhinho baixo e agudo saia de dentro da roupa de Ramiro e assustou Kelvin.

— Ah, eu achei ele — tirou o filhote do bolso — deve estar com muita fome.

inefávelOnde histórias criam vida. Descubra agora