descontrole

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Kelvin estava acostumado com a chatice de Berê mas hoje tava beirando o insuportável. Inventou de fazer um faxinão no bar mas ela mesmo não botou a mão em nada, só dando ordens.

— Querida, você não é patroa aqui, se quer o chão brilhando, lustra ele você! — Kelvin tacou o rodo nela que acabou desviando — cê num tem subordinado não.

— Queridinha, a Candida foi pra Campo Grande e me deixou no comando essa semana, então faz o que eu tô falando ou eu conto tudo quando ela chegar.

— Então ferrou, já se acha a dona do bar quando a velha tá, imagina agora — gritou Iná, que estava limpando um dos balcões.

Berenice não tinha amigos ali, justamente por ser puxa-saco de Candida e fuxiqueira, tudo que acontecia a velha imunda ficava sabendo.

Flor lembra até hoje de quando começou a cobrar um pouco a mais dos clientes pra conseguir pagar o aluguel e alguns remédios que a filha precisava. Mas Candida logo ficou sabendo e exigiu que ela lhe devolvesse todo o dinheiro que pegou a mais.

— Se já estão sofrendo agora imagina quando a velhota bater as botas e deixar o bar pra mim — estava sentada lixando as unhas, rindo debochada — ai sim vão ver o que é sofrimento.

— E quem te disse que vai restar alguém aqui quando você assumir?

Kelvin fez a pergunta e viu a mulher se levantar furiosa e ir pra cima dele. Com um senhor tapa derrubou o rapaz que assustado se encoñheu no chão.

— Não brinca comigo, Kelvin, eu sei muito bem por onde você anda, lá com o funcionário bonitão dos La Selva, só não contei nada ainda porque tenho pena, tu sabe muito bem que se ela fica sabendo te bota pra fazer programa de novo e o primeiro da fila todo mundo já sabe quem é.

A cena a seguir foi rápida demais, Flor puxou Berenice pelo rabo de cavalo e e a jogou contra a parede.

— Você não encosta mais a mão no meu amigo — disse furiosa — e em nenhuma das meninas daqui, tu é puta igual a todas, no fim do dia não importa se você é braço direito da Candida tu continua a mesma fudida de sempre terminando o dia com a boca em pau de bêbado e recebendo uma ninharia em troca.

A moça saiu bufando furiosa e praguejando contra todos, dizendo que iria ter troca.

Kelvin se levantou meio atordoado ainda, o chão molhado encharcou a roupa e o cloro manchou sua calça favorita.

— Não se preocupa, meu bem — Iná o ajudou — essa cadela só late...e se ela te encostar de novo, deixa que eu mesma esfolo ela viva.

— Obrigada Naná — deu um sorriso forçado e rumou pro seu quarto pra trocar a roupa.

Precisava dar aula pra Ramiro hoje mas o atrito com Berê acabou com todo seu ânimo. Colocou um moletom qualquer e saiu pra encontrar o peão na praça da cidade.

Ele e Ramiro estabeleceram uma rotina de aulas dia sim, dia não e o moreno sempre o buscava para que Kelvin não tenha que andar a pé sozinho num caminho tão longo.

E por falar nisso o loiro estava orgulhoso do aluno, a cada dia aprendia mais, com uma rapidez impressionante, agora já conhecia todas as letras do alfabeto e sabia nomeá-las também. Tinha dificuldade na junção de sílabas ainda, mas isso com o tempo se acertaria.

Quando chegou na praça reconheceu o homem sentado de costas e um dos bancos, aproveitou para surpreendê-lo cobrindo seus olhos.

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