Ramiro pulou da cama no dia seguinte bem cedo, queria conversar com seu patrão e pegar alguns quitutes pra alimentar seu pequetito.
Antonio já estava em seus escritório mexendo em papéis e reclamando sozinho quando o peão bateu na porta.
— Oh Ramiro, entra aí rapaz — disse se levantando para cumprimentar o rapaz por quem se afeiçoou rápido — faz tempo que cê num aparece aqui em?
— Oh patrão, tudo certo com o senhor? — depois da confirmação do velho Ramiro disse que estava bem também — eu vim aqui pra fazer um pedido pro senhor... o senhor deve saber que eu...tenho certas preferências? é certo que sabe o assunto corre solto por aqui.
— Eu sei sim Ramiro — disse o velho fechando a cara — mas ó, tenho nada contra, você é um ótimo rapaz de coração bão e ainda um funcionário e tanto... procê vê o Daniel também tem essa preferência e eu nunca me incomodei não.
— Eu sei patrão o senhor é um homem muito bão, ainda não acostumei trabaiá pra uma gente tão de bem igual ocê e sua familia — suspirou — mas meu assunto é outro.
— Então desembucha homem.
— O senhor deve conhecer o Kévin né? lá do naitandei da Candida?
— Conheço sim e já sei do namorico de ocês dois - antes de mais nada toma cuidado com aquela veia viu? — disse o alertando — mas pode continuar.
— É que ele tava me dano umas aulas sabe, aprendi até a ler com ele, agora tô ap-perfei-çoano — Não sabia como pedir aquilo — nós acabou apaixonano e eu quero tirar ele lá daquela budega e ele... ele quer sair tamém mas eu sou um ferrado patrão...
— Não precisa falar mais nada, Ramiro.
Se assustou com a expressão do homem e o tom de voz que usou, que jumento achou por um momento que realmente o patrão ia aceitar que ele abrigasse Kelvin... agora o que ele diria pro seu loirinho, depois que já havia criado expectativas. 'Mas eu peço as conta e sumo com meu amor daqui, arrumo outro canto pra trabaiá' pensou enquanto o patrão o olhava sério.
— O senhor desculpa viu patrão? num devia ter vindo aqui não - incomodar o senhor - eu e o Kevinho nóis arruma outro canto.
— Que isso, cê nem esperou eu concluir o que tava falano rapaz — disse rindo — trás seu namorado pra morar cocê.. mas o quarto la no alojamento é pequeno demais, tem uma casinha la nos fundo atrás do viveiro, cê já deve ter visto, é um pouco longe daqui mas da pra ir e voltar tranquilo. Se quiser é doceis.
Ramiro se pegou novamente com vontade de chorar na frente do patrão. Por que era tão bom com ele? Kelvin acha que Antônio esconde alguma coisa, ele trata todos os peões bem mas com o preto tem algo diferente.
— Oh patrão...eu quero, quero muito...meu deus o pequetito vai ficar feliz demais — estava feliz — o senhor tem certeza? nóis num atrapaia lá não?
— Claro que não homi, é até melhor ter gente morando lá, pra cuidar direitinho.
Agradeceu o velho mais umas dez vezes e saiu correndo pra cozinha ver o que Angelina tinha preparado.
— Ê rapazinho sortudo viu? — disse Angelina — um homão desse com os quatro pneu arriado por causa dele.
A mulher separou leite, café, pão, queijo, bolo, bolachas fresquinhas e um suco feito na horinha, colocou tudo em uma sacola com carinho junto com uma pomada pra feridas que o preto pediu e muito cuidadosa entregou a ele.
— Cuidado pra não derramar — ganhou um beijo molhado na testa e sorriu quando o preto correu pela porta.
~
VOCÊ ESTÁ LENDO
inefável
RomanceRamiro, peão analfabeto recém chegado na cidade conhece Kelvin, garoto de programa. O sonho de Ramiro é aprender a ler e escrever para por em palavras o que tem em si. Kelvin conhece precariamente as palavras e mesmo assim é toda a ajuda que ele pr...